Depois de falarmos sobre como equilibrar o tempo de tela das crianças na primeira parte da entrevista com a psicóloga Terezinha Dutra — disponível aqui — seguimos com orientações para ajudar pais e responsáveis a lidar com os desafios do mundo digital.
O universo digital oferece inúmeras oportunidades de aprendizado e conexão, mas também apresenta riscos que exigem atenção das famílias. Crianças e adolescentes, ainda em desenvolvimento emocional e cognitivo, podem não ter maturidade para lidar com conteúdos nocivos, golpes virtuais e excesso de exposição.
Neste contexto, o papel dos pais e responsáveis é orientar, proteger e educar, sem recorrer a atitudes autoritárias ou invasivas.
Nesta continuação, falamos sobre como acompanhar a vida online dos filhos sem invadir sua privacidade, como usar recursos digitais de forma consciente, além de dicas para desenvolver senso crítico nas crianças e identificar sinais de alerta.
O objetivo é simples: fortalecer vínculos, promover diálogos mais leves e transformar a tecnologia em uma aliada no desenvolvimento saudável das crianças.
Dicas para supervisionar sem invadir a privacidade dos filhos
Como monitorar a vida digital das crianças sem parecer invasivo?
Uma estratégia possível para minimizar os prejuízos causados pela exposição às redes sociais é adotar medidas simples, como dispositivos de controle parental e aplicativos que auxiliam os pais no monitoramento saudável dos filhos. (Saiba mais aqui)
Ferramentas como o Kaspersky Safe Kids são boas aliadas. Elas ajudam a:
- Aplicar os limites combinados;
 - Restringir conteúdos;
 - Definir horários de uso;
 - Acompanhar a localização da criança.
 
Mas elas não substituem o papel dos pais e cuidadores, que é orientar, monitorar e participar ativamente.
Contudo, é preciso cautela antes de lançar mão desses recursos. Para melhores resultados, é necessário o envolvimento de toda a família, inclusive da criança monitorada, afinal, proibir não é orientar.
Regras claras devem ser acordadas previamente, seguidas de orientações sobre golpes e perigos da internet, levando em conta a idade e o grau de maturidade da criança.
Perfil familiar: um recurso para o uso consciente
Quais as vantagens de criar um perfil familiar nas redes sociais?
Ter um perfil familiar, onde membros interagem entre si, fortalece o sentimento de pertencimento e cria um ambiente virtual seguro. O uso consciente das redes sociais passa a ser uma ferramenta positiva diante dos desafios do ambiente digital.
Como definir limites claros sem comprometer a privacidade?
Definir limites claros é parte essencial do cuidado. Ao compreender as diferenças entre privacidade e singularidade, é possível respeitar os direitos da criança sem violar sua personalidade.
Esse entendimento garante aos responsáveis liberdade para orientar sobre os riscos da exposição e do potencial da viralização das informações pessoais, considerando que crianças não têm maturidade para discernir o que pode ou não ser compartilhado publicamente.
A conscientização de que as regras são protetivas, e não proibitivas, torna esse processo mais leve e seguro.
Desenvolvendo senso crítico nas crianças
Quais práticas diárias ajudam os filhos a questionar conteúdo online? Como ensiná-los a diferenciar informação confiável de fake news?
Através da educação e de exemplos práticos, possibilita-se conscientizar sobre as vulnerabilidades às quais estão expostos ao manter um perfil público, por exemplo.
É importante ensiná-los a respeitar as classificações indicativas por faixa etária e mostrar que não devem compartilhar qualquer informação sem conhecer sua origem, evitando assim difundir fake news ou ser vítimas delas.

Quando proibir ou restringir o uso das redes sociais
Quais sinais indicam dependência digital?
Embora não sejam os únicos indicativos, alguns sinais incluem:
- Perda de interesse por assuntos e lugares fora do ambiente virtual;
 - Tempo excessivo de tela (dias seguidos);
 - Isolamento no quarto, interagindo apenas no mundo digital;
 - Impactos na saúde física, como deixar de se alimentar, apresentar tiques nervosos, insônia, alteração de humor ou ansiedade;
 - Baixo rendimento escolar sem outros motivos aparentes;
 - Falta de higiene pessoal para continuar jogando;
 - Agitação, irritabilidade ou desregulação emocional quando privados do celular, por exemplo.
 
Quais hábitos e ferramentas promovem um acompanhamento saudável?
Passar tempo com seu filho é um hábito valioso que fortalece a conexão entre vocês. Compartilhe seu dia e permita que ele compartilhe seu universo digital.
Participe de suas escolhas com entusiasmo, mostre interesse por seus jogos favoritos. Esse tempo juntos possibilita conhecer a linguagem que ele utiliza em interações online e avaliar comportamentos sem o interrogar ou invadir seu espaço.
Em que situações restringir temporariamente o acesso pode ser necessário — e como fazer isso de forma construtiva?
Não existe regra única. Cada responsável precisa avaliar o momento certo para intervir, observando as mudanças comportamentais da criança.
O ideal é respeitar suas dificuldades e investir em atividades alternativas, como esportes e artes, que possam substituir de forma saudável o uso excessivo da tecnologia.
Quais mudanças emocionais ou comportamentais devem acender o alerta?
É preciso atenção quando surgem alterações como:
- Introspecção exacerbada repentina;
 - Perda do interesse pelo mundo externo;
 - Falta de socialização e isolamento;
 - Medos extremos;
 - Alterações de humor;
 - Maior tendência à desatenção;
 - Apatia ou agitação excessiva;
 - Mudanças bruscas na aparência;
 - Identificação com grupos hostis ou com condutas de ódio contra pessoas ou grupos.
 
Como dialogar sobre riscos sem afastar os filhos ou causar medo?
A internet é uma janela para o mundo, mas traz riscos reais. Na tentativa de proteger, pais muitas vezes exageram, usando longos sermões ou repetições. A criança percebe o medo dos pais, o que pode gerar insegurança.
É recomendado que as orientações sejam dadas com calma, voz serena e abertura para acolher dúvidas e medos. A criança precisa sentir que pode falar sobre qualquer assunto ou ameaça e será compreendida e protegida.
A tranquilidade, a preocupação genuína e a dedicação dos pais tornam-se um porto seguro, reduzindo o medo diante de ameaças externas.
Confira a primeira parte da entrevista com dicas da Psicóloga Terezinha Dutra para Proteger a Saúde Emocional das Crianças na Internet.

Psicólogo(a)
Terezinha Dutra Lima
Psicóloga clínica Especialista em saúde mental pela Fiocruz, Especialista em neuropsicologia e em psicodiagnóstico infantil e psicopatologia. Autora e coordenadora do Projeto AbraceTea. @espacoabracetea

Escrito por
Gabriela Sucupira
Redatora bilíngue de língua inglesa, Especialista em Marketing pela USP/Esalq e bacharel em Letras pela UFRJ. Carioca, mãe da Rebeca,Consultora Textual e de Personal Branding para o Linkedin.

2 Comentários para "Saúde Emocional das Crianças e Redes Sociais"
Excelente alerta sobre os possíveis riscos silenciosos e efeitos devastadores do mundo virtual às crianças e aos adolescentes.
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