Homeschooling: Benefícios e Desafios para Pais e Filhos

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Duas meninas estão em um campo gramado ao pôr do sol, compartilhando um momento de leitura. A menina mais velha, vestindo um vestido azul com uma borboleta brilhante, tem o braço carinhosamente ao redor da mais nova, que usa um vestido roxo com estampa de cavalos. Elas estão usando botas e parecem imersas no livro que seguram juntas. O sol brilha ao fundo, criando um ambiente acolhedor e sereno.

Homeschooling, ou ensino doméstico, é uma modalidade de ensino em que o aluno desenvolve o processo educativo fora do contexto escolar.

Os pais, que optam por esta via, assumem a responsabilidade na educação multidisciplinar dos filhos, tomando o lugar do professor. 

Estas famílias obtém uma maior flexibilidade em diversos campos – no método de aprendizagem, nos horários, nos locais de ensino – adequando tudo ao ritmo de cada criança e a todos do lar.

Origem

 

A educação domiciliar cresceu exponencialmente em todo o globo nestes últimos anos e, por isso, muitos tendem a considerá-la uma prática recente. Contudo, esta modalidade foi, na verdade, a única existente desde os primórdios da humanidade e perdurou durante séculos. 

A educação massificada, como hoje conhecemos, surgiu somente no final do séc.XIX, com as escolas compulsórias a surgir de braços dados com a Revolução Industrial. A forma natural de educação, onde o conhecimento é passado dos pais para os filhos, dentro do ambiente familiar, chamada homeschooling, voltou em voga apenas nestes últimos anos e está a encantar muitas famílias no mundo inteiro. 

Benefícios do Homeschooling para Pais e Filhos

 

Horário flexível e personalizado

 

A prática do ensino doméstico possui inúmeros benefícios, não só para as crianças como para toda a família. O primeiro benefício que a família nota é o da flexibilidade de horários e do local de aprendizagem. Esta liberdade permite potencializar a aprendizagem pela capacidade de adaptação/alteração do ambiente e do método de ensino em prol das necessidades individuais do aluno de forma exclusiva. Esta flexibilidade torna o dia-a-dia mais leve e harmonioso.

Enquanto na escola temos o horário imposto pela instituição, no homeschooling quem dita as regras é a família.

Afetividade e valores familiares

 

No ensino público, as crianças passam, compulsoriamente, entre 6 a 10 horas por dia fora de casa, consoante o país. Já o homeschooling permite à criança muito mais tempo em família, fortalecendo as relações familiares, que é primordial para um desenvolvimento saudável.

 

Ampliação do conhecimento para todos

 

No processo, os pais aumentam e aprofundam o seu conhecimento, partilhando experiências memoráveis com os filhos. É um processo de enriquecimento para todos.

 

Convívio intergeracional

 

Além do fortalecimento dos laços familiares, a criança tem mais oportunidades de viver em comunidade. Convivendo com pessoas de diversas faixas etárias, quer sejam vizinhos, o senhor da loja, primos, avós e bisavós. Ela cresce de uma forma ampla e íntegra, contrastando com a escola, onde o convívio é,  na maior parte do tempo, somente com crianças da mesma faixa etária, embora os vários níveis se possam encontrar em horário de recreio.

 

Ensino personalizado com flexibilidade curricular

 

Um dos benefícios mais importantes é o facto do homeschooling não ser massificado como o é o formato escolar. A aprendizagem no ensino doméstico é particular e adequado a cada criança, tornando-se geralmente mais eficaz e, por isso, ganha-se valioso tempo. 

 

Maior eficiência

 

Os dados indicam que um homeschooler tem sucesso académico acima da média, melhor foco e mais tempo livre que um aluno que frequenta o ensino público. A eficácia desta modalidade dá-se pela qualidade da comunicação e pelas circunstâncias diferenciadas: quem leciona está a comunicar diretamente – o feedback é instantâneo – conhece o aluno como ninguém – geralmente a mãe ou o pai –  e é realizada na segurança do seio familiar, com metodologias personalizadas.

Não é por acaso que este foi o sistema que perdurou durante tanto tempo na humanidade, por nos ser natural, flexível e visivelmente eficaz.

Desafios do Homeschooling para Pais e Filhos

 

Apesar do homeschooling ser um sistema natural e, como muitos defendem, uma extensão da parentalidade, não deixa de ser desafiante pô-lo em prática nos dias de hoje. 

 

Disponibilidade e Finanças

 

Para dar início ao homeschooling, precisamos da disponibilidade de um dos pais que vai assumir a educação dos filhos. Isto implica abdicar de parte, ou totalmente, de um dos rendimentos monetários. Economicamente pode ser extremamente impactante ou até impossível para algumas famílias. 

No meu caso particular, foi necessária uma mudança de carreira por parte do meu esposo, para poder sustentar toda a família, e para me permitir dedicar inteiramente à educação dos nossos filhos e das tarefas domésticas.

 

Socialização (ou falta dela)

 

O assunto mais polêmico no homeschooling é, sem dúvida, a socialização (ou falta dela). 

Como mencionado anteriormente, o convívio em comunidade tem um forte impacto no desenvolvimento infantil. Esta modalidade acaba por incentivar este estilo saudável quando comparado ao convívio “paralelo” de pessoas da mesma faixa etária, imposto nas escolas. 

Mas, ainda assim, é verdade que a socialização de crianças com crianças é essencial e pode ser um desafio para os homeschoolers nos dias actuais. 

No caso de famílias que não tem a capacidade de ingressar numa comunidade de homeschooler locais, e onde ambos os pais trabalham, acaba por ser quase inevitável os filhos passarem o dia na instituição. Podem ainda ficar em atividades extra-curriculares, o que acaba por ocupar todo o tempo livre da criança durante a semana. 

Os homeschoolers que não têm a oportunidade de conviver com seus pares, pois estes estão na escola, e por falta de outras famílias que pratiquem o ensino doméstico dentro da sua localidade, deparam-se com o famoso desafio da socialização. 

Estas famílias recorrem aos intervalos das atividades extra-curriculares – que muitas vezes são demasiado corridos para ter uma socialização eficaz – ou os pais têm de se esforçar por combinar encontros entre as crianças para preencher esta lacuna.

 

Pedagogia

 

O último desafio é o da pedagogia em si. 

É verdade que qualquer pai que tenha uma licenciatura (grau mínimo obrigatório para ser homeschooler em Portugal), tem o domínio do conteúdo elementar a lecionar, e, com o apoio da internet, pode ter contacto com outras comunidades. Mas a pedagogia não deixa de ser uma Arte. 

E, como qualquer arte, requer conhecimento de como aplica-la, requer prática, paciência, etc. Tudo isto leva estudo e tempo e, dependendo dos pais, pode ser um desafio de grau maior.

 

Família numerosa

 

Múltiplos filhos na prática do homeschooling pode ser desafiador, principalmente quando surge um irmão novo. Nestes casos ter uma rede de apoio que permita dividir as tarefas – um familiar, o parceiro ou até profissionais (para ajudar a cuidar da casa, das aulas ou com o bebé) – pode ser essencial nesta fase exigente.

 

Domínio emocional

 

Apesar do homeschooling trazer imensos benefícios, há que ter em conta os desafios que serão enfrentados. Para ensinar, principalmente os filhos, é preciso ter uma consciência e prática constante no auto-domínio das emoções

Nada de novo para quem é pai ou mãe. São aptidões que vamos apurando ao vivermos naturalmente a parentalidade. No entanto, durante o ensino doméstico, é-nos exigido um controlo mais sólido e contínuo. 

 

Gestão de tarefas

 

Normalmente quem ensina em casa trata também dos afazeres domésticos. Há que ter em conta a gestão e conciliação do ensino com os afazeres. Demanda atenção e foco constante.

 

Contudo…

 

Estes aspectos são apresentados como dificuldades, mas a verdade é que quando superadas, contribuem enormemente para a harmonia familiar e para a edificação de cada membro da família.

Todos os desafios são superados em conjunto, tornando o homeschooling um processo único de crescimento holístico, não só do educando como de toda a família. Consequentemente, é também uma valiosa contribuição para a sociedade.

menino com cabelo castanho claro debruçado sobre um livro, apontando para o mesmo. Tem uma camisa as ricas azul escuro e cinzento e o livro está sobre uma mesa castanha escura.

Como Começar o Homeschooling?

 

Em Portugal, o ensino doméstico está regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 70/2021, de 3 de agosto. É legal e qualquer família que resida em Portugal, em que um dos membros possua uma licenciatura (validada em Portugal), é elegível para ingressar no ensino doméstico. 

O primeiro passo consiste em matricular o educando na escola ou colégio, com um pedido por escrito, direcionado ao diretor. Deve expressar o motivo de interesse no ensino doméstico, com os documentos anexados (para saber mais acesse: adicionar aqui o link do artigo “Homeschooling em Portugal: Aspectos Legais e Como Cumprir a Legislação).

Após a aprovação, os pais comunicam o Plano Educativo (verbalmente ou por escrito) onde descrevem o plano geral pragmático que irão implementar. O diretor estabelece então  um professor-tutor que irá guiar o encarregado de educação. Acordam a frequência das reuniões ao longo do ano e é formulado um contrato (Protocolo de Colaboração). 

A partir daí, o encarregado de educação terá a liberdade de começar o homeschooling, registrando os trabalhos essenciais para depois os apresentar nas reuniões com o professor-tutor. Estas reuniões terão o propósito dar a assistência e guiar o encarregado de educação. 

Em Portugal as famílias tem a associação MEL (Movimento de Ensino Livre) disponível para dar assistência às famílias em ensino doméstico.

Reflexão final de uma família homeschooler

 

Como resposta aos incontáveis entraves que encontramos na educação pública actual – declínio significativo da qualidade de ensino, excessiva retenção das crianças fora do seio familiar, normalização de certos valores incompatíveis aos da família-tradicional, aumento da insegurança física e emocional, etc. – vemos o ensino doméstico como uma via mais sensata e eficaz, por dar primazia à liberdade consciente de educação dos pais aos seus filhos.

Apesar de imperfeitos, ninguém substitui o pai ou a mãe. Nosso papel é único. E assumindo esta responsabilidade de forma íntegra, crescemos todos juntos: família e sociedade. É no fundo, uma forma natural que sempre existiu e que vale a pena ser restaurada. 

mulher com o cabelo castanho escuro com cumprimento médio, vestida de amarelo com brincos compridos amarelos, corrente dourada sob o fundo neutro (muro bege texturizado). Ela sorri, contente.

Escrito por

Mariana Ribeiro

Mãe de cinco filhos em ensino doméstico. Apaixonada por filosofia, psicologia e educação. Estuda e escreve sobre família e desenvolvimento humano. @Marianaparaizoribeiro

Artigo escrito por

Mariana Ribeiro

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