Como sabemos, cada filho é único nos seus diversos campos: fase de desenvolvimento, personalidade, vivências de diferentes experiências. Tendo, por isso, necessidades distintas.
Contudo, frente a tamanha complexidade, questionamo-nos como dividir a atenção entre os nossos filhos de forma justa e que se sintam valorizados.
Vou então responder a 8 questões – as mais frequentes sobre o tema – divididas em três artigos.
Aqui encontrará ferramentas simples e de fácil aplicabilidade para uma gestão saudável da atenção de pais para filhos.
1. Como posso garantir que cada filho se sinta ouvido e valorizado, sem que um se sinta negligenciado?
Para garantir a realização individual de cada filho (mesmo numa família numerosa) precisamos de pequenos passos simples mas imapctantes:
O olhar
O olhar atento e constante dos pais a cada filho é um hábito crucial e valioso.
Mesmo na correria do dia-a-dia, ganhamos imenso em simplesmente observar. Prestar atenção a cada personalidade, ir conhecendo e descobrindo cada filho com as suas diferenças a medida que formam o seu carácter.
Este nosso olhar atento, além de não passar despercebido aos nossos filhos – será uma prova para eles de que são amados, vistos e valorizados – servirá também como ferramenta para interpretar melhor quando é preciso agir, conversar, ausentar ou distrair. Este hábito traz imensos benefícios na nossa comunicação e no desenvolvimento da criança.
A escuta
Claramente, a escuta ativa não pode faltar. Escutar também está no âmbito da atenção e é mais um tijolo importantíssimo na gestão parental.
Parece simples e óbvio mas, o foco nestes simples pontos é primordial. De tal forma, que assim que eu própria os pratiquei diariamente, vi todo o resultado quase de imediato.
É natural que entre as demandas do dia-a-dia não os damos relevância. Acontece que aqueles pequenos momentos que despachamos por considerar de grau menor, pode ser para os nossos filhos de altíssima importância. Perdemos, assim, oportunidades de alimentar este vínculo, de aumentar o conhecimento para melhorar o relacionamento e oferecermos mais auxílio eficaz.
Por exemplo: quando um filho tem algo a dizer, tentamos olhar nos olhos (mesmo que seja por um breve momento) e esperamos que acabem (dependendo da idade, leva uma eternidade para formularem um frase). Pensamos no que ouvimos e na importância que isto tem para o nosso filho. A resposta deve ser sempre honesta. Notei que esta estrutura nunca falha e que muitos psicólogos aprovam a sua eficácia.
Rotina
Para a dquirir calma e disponibilidade para estes momentos, nada melhor que a rotina. Trata-se de ferramenta poderosíssima principalmente para famílias numerosas.
Precisamos dela.
Ter uma rotina familiar equilibrada vai capacitar a ordem – física e mental – tanto dos pais como dos filhos. Evitamos sermos engolidos pelas pequenas e constantes urgências do quotidiano. E é na organização e na prática da rotina onde capacitamos o nosso precioso tempo. Potencializamos o nosso dia-a-dia, nos proporcionando momentos com diferentes focos para a família.
Por exemplo, na hora de ir para a cama, as luzes baixas e a energia mais calma nos convida a estarmos mais reflexivos, a iniciarmos conversas pessoais. Aproveitamos este momento para abordar algum tema específico com algum filho ou simplesmente escutar o que eles têm a dizer.
Casal em sintonia
Outro pilar é a harmonia dos cônjuges, fonte da harmonia familiar.
O influencer Bernardo Castro e sua esposa Rita Rodrigues e Castro mencionam no seu programa “Dever de Sentar” várias dicas de ouro. Mas a estratégia que cabe aqui mencionar, consiste nos pais agendarem um tempo a sós (com alguma regularidade) e, neste momento descontraído e agradável entre o casal, falarem sobre vários campos da família, pondo na mesa as necessidades de cada filho, e por fim estabelecerem um plano de ação, se necessário (ou inação, o que for mais coerente).
Este planeamento natural faz parte de uma educação consciente e equilibrada. Observa constantemente e nutri, com o amor como meta final. Trata-se de um eficaz e comprovado antídoto ao automatismo, inimigo da harmonia familiar.
A última ferramenta está na resolução de conflitos entre filhos.
Resolver com eficácia cada conflito dando o devido valor é primordial para que cada membro da família se sinta respeitado e valorizado de igual forma.
É a justiça a operar no lar. E sobre este tema entrarei em mais detalhe na questão adiante.
2. Como lidar com as necessidades emocionais de cada filho de forma justa?
Valores alinhados
Para saber como dividir a atenção personalizada a cada filho de forma justa e de forma a promover o respeito entre irmãos, é essencial que os pais tenham os seus valores alinhados.
Estes valores são o alicerce de toda parentalidade. E quanto mais claros forem os valores, melhor.
Por exemplo: «nesta família não pode haver qualquer tipo de violência, física ou verbal»: Definir entre o casal os limites destas normas vai auxiliar a reagir proporcionalmente e com coerência. (Perguntas a responder: O que é agressão verbal? Qual é o limite admissível? E a violência física? Em que termos pode acontecer, se é que pode acontecer? etc.)
Portanto, quanto mais clareza, mais cientes e seguros os pais estarão quando se depararem com os vários tipos de conflitos. Desta forma, depois da resolução de vários conflitos entre os os filhos com os mesmos valores base, estes sentirão que os seus sentimentos são validados. Isto porque constatarão que a reação que os pais têm dos seus sentimentos estão alinhados à uma conduta coerente e contínua. Trará estabilidade para o seu campo emocional.
Além disto, a consistência aliada à base sólida, dará segurança também para as os filhos expressarem mais os seus sentimentos. Isto deve-se pelo facto de sabem que serão tratados com empatia e justiça.
Ok. Os valores já estão consolidados mas como aplicar esta justiça na prática?
Para cada filho se sentir respeitado, é importante que se sinta ouvido. Para ouvirmos é essencial que estejamos presentes. Na teoria é simples mas na prática, com um cotidiano exigente é natural entrarmos em modo automático e fugirmos dos imprevistos ou conflitos (que vemos como interrupções) para conseguirmos cumprir nossos deveres.
Quantas vezes tive os filhos a explicar o desenrolar de uma briga aos choros e a minha cabeça (a cogitar como vou acabar o acompanhamento do jantar a tempo se o bebé precisa de um banho) desatenta, com vontade de cortar a conversa com uma resposta seca que resolva tudo em tempo recorde (porque entretanto decidi que vou por a máquina a fazer arroz) – quem nunca?- a ideia é não ceder à estes impulsos mas ouvir. Pouco tempo de escuta atenta para resolver eficazmente o problema, acaba por, paradoxalmente, nos poupar tempo no futuro.
Presença total
Ter uma presença de qualidade é inegociável. Estes pequenos momentos (entre pais e filhos) são essenciais para o desenvolvimento dos nossos filhos e consequentemente, para a harmonia familiar. É essencial parar quando somos requisitados, olhar nos olhos da criança e verdadeiramente ouvir. Dar espaço para desabafos, se necessário.
Depois, agir com justiça tendo em consideração os valores base pré-estabelecidos e as observações e condições naturais do momento. Finalizar com pedidos de desculpas e abraços (ou um gesto carinhoso).
Um aparte: obviamente nem todos os conflitos merecem toda a atenção e intervenção dos adultos. Refiro-me aqui, aos conflitos que precisam ser solucionados para guiar as crianças em aprendizagem ou pela gravidade do assunto.
Honestidade
Por último, abraçar a honestidade.
Principalmente ao lidar com filhos mais exigentes ou mais retraídos, a honestidade auxiliará a nossa gestão parental, conquistará o respeito dos nossos filhos e, consequentemente, impactará positivamente a atitude destes, que são sensíveis à nossa conduta.

Escrito por
Mariana Ribeiro
Mãe de cinco filhos em ensino doméstico. Apaixonada por filosofia, psicologia e educação. Estuda e escreve sobre família e desenvolvimento humano. @Marianaparaizoribeiro