Receber o diagnóstico de que filho tem o Transtorno do Espectro Autista (TEA) requer uma atenção especial e um cuidado multiprofissional. Dentre os tratamentos necessários, conheça a relação da criança com autismo e a Fonoaudiologia.
As crianças com o diagnóstico de autismo (TEA) costumam apresentar dificuldades de se comunicar e de interagir socialmente, além de terem padrões de comportamento repetitivos.
Relativo à comunicação, a criança com esse diagnóstico pode apresentar desde a dificuldade de se expressar verbalmente, até a pouco ou nenhuma fluência de conversação.
Pensando em ajudar nessas questões, convidamos a fonoaudióloga Vanessa do Lago Guimarães, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em Audiologia Clínica para nos explicar como o acompanhamento fonoaudiológico é fundamental no tratamento da criança com autismo.
Quais são os primeiros sinais de dificuldades na comunicação que posso observar em uma criança com autismo?
Em primeiro lugar, é recomendado observar alguns sinais em alguns pacientes com autismo logo quando bebê
O bebê com autismo costuma:
- não gostar muito de ficar no colo, lugares com sons altos ou muito luminosos os deixam incomodados;
- tem dificuldade em manter o contato visual;
- não atender quando chamado;
- ter hiperfoco em algum brinquedo ou objeto;
- fazer movimentos de repetição como empilhar/ enfileirar / agrupar por cores e formas;
- não apontar;
- ter atraso no balbucio e fala;
- não olhar para o outro ao querer algo, apenas o puxando como instrumento;
- começar a falar algumas palavras e parou de falar.
Contudo, vale ressaltar que cada criança precisa de avaliação e observaçãopersonalizada.
Como o fonoaudiólogo pode ajudar no desenvolvimento da fala e da linguagem de uma criança com autismo?
Os fonoaudiólogos têm um papel importante no desenvolvimento da linguagem. Com isso, nosso maior objetivo é que essa criança consiga ser compreendida e se comunique, e não necessariamente pela linguagem oral., ajudando amelhorar a comunicação dessas crianças com autismo seguindo as dicas e exercícios de fonoaudiologia.
Há muitos autistas que não utilizam da linguagem oral para se comunicar, porém usam de comunicação alternativa como PECS (Sistema de comunicação por troca de figuras) e pela CAA (Comunicação Alternativa Aumentativa).
Quando o paciente chega para nós no consultório, é crucial que seja feita uma avaliação das habilidades de linguagem e de comunicação desse paciente.
Após essa avaliação desenvolve-se um plano de intervenção individualizado com base nas demandas específicas de cada paciente, que será modificado à medida que o paciente evoluir e apresentar ganhos de linguagem e comportamento.
E através de brinquedos, jogos, atividades lúdicas e recursos visuais vamos estimulando a linguagem e fala da criança com autismo com a Fonoaudiologia.
A criança com autismo sempre terá dificuldades com a fala ou isso pode ser superado com a intervenção adequada?
Sempre e Nunca são palavras bem complicadas de serem usadas dentro do universo cognitivo comportamental do desenvolvimento do indivíduo. Nosso maior objetivo, enquanto fonoaudiólogos, é promover a comunicação.
Vale ressaltar que não é uma regra que todos apresentarão dificuldades na fala, mas muitas enfrentam desafios importantes no desenvolvimento da linguagem.
A dificuldade de comunicação e a gravidade varia de uma criança para a outra, muitas respondem de forma positiva à intervenção, melhorando suas habilidades de comunicação verbal e não-verbal e desenvolvendo maneiras de se expressar.
Como o autismo afeta a comunicação não verbal e como posso trabalhar isso com meu filho?
Muitas crianças com autismo apresentam dificuldades em compreender, interpretar e utilizar pistas não verbais, como expressões faciais (tristeza, felicidade, raiva, dor, etc), gestos, manifestações através do corpo, tom de voz (rude, chamando a atenção, irônico etc.).
Essas habilidades fazem parte da comunicação e das conexões sociais.
Dentro do ambiente domiciliar, é de extrema importância que a família colabore, pois são essas pessoas que passam a maior parte do tempo com a criança.
Dessa forma, utilizar modelagens que ajudem a desenvolver tais habilidades é de grande valia como:
Usar gestos e expressões faciais claras para se comunicar, reforçando a comunicação verbal com elementos não verbais
Exemplo: ao chamar a atenção da criança, mudar o tom da voz, a intensidade, e utilizar de expressões faciais como franzir a testa, por exemplo.
É válido até cruzar os braços para mostrar a criança que você está chamando a atenção e não está gostando do que está sendo feito.
Igualmente importante é trabalhar a previsibilidade, pois deixa as crianças mais seguras e facilita a compreensão de sinais não verbais associados as atividades. Podendo usar pictogramas, recursos visuais, figuras, CAA.
Exemplo: pode confeccionar um quadro de rotinas, isso ajuda a criança em organizar e compreender a sua rotina do dia, as suas demandas sensoriais tendem a diminuir e facilita a comunicação dentro da atividade proposta ali exposta.
Lembrando que é importante o suporte de um fonoaudiólogo para auxiliar a desenvolver as estratégias mais pertinentes a demanda e a compreensão do seu filho.
Meu filho tem dificuldade em manter uma conversa. Existem técnicas específicas para ajudá-lo a melhorar essa habilidade?
É importante levar em conta alguns pontos importantes antes de definir e utilizar quaisquer técnicas, como entender a compreensão do seu filho sobre o tema proposto.
Primeiramente, ao tentar entender a compreensão e atenção dele diante de uma conversa, o fonoaudiólogo pode ajudar a identificar as melhores estratégias especificas para seu filho, mas há algumas relacionadas ao estabelecimento de rotinas previsíveis e claras para as conversações, tais como:
- Iniciar a conversa com saudação e fazendo uma pergunta, responder a pergunta do interlocutor;
- Ensinar a criança a prestar atenção no que o outro está dizendo, fazendo contato visual, acenando com a cabeça e demonstrando interesse através de gestos e expressões faciais.
- Incentivar a fazer perguntas,a sugestão é usar modelagem, prática guiada e reforço positivo.
- Durante uma conversa sobre algum assunto, utilizar-se de recursos visuais para ajudar e facilitar a criança a entender sobre o tema, a organizar suas ideais e compreender a estrutura da conversa e os turnos de fala.
- Utilizar de reforço positivo e modelagem, elogiando e recompensando quando a criança conseguir utilizar as habilidades desejadas de forma adequada.
- Ensinar habilidades de turn-taking: ajude a criança a entender a importância de esperar a sua vez de falar e a identificar os momentos adequados de interação na conversa. Pratique a alternância entre falar e ouvir para promover uma troca eficaz.
O uso de tecnologias, como aplicativos de comunicação, pode ser benéfico para crianças com TEA?
Sim, o uso de tecnologias como tablets, celulares ajudam muito a comunicação, os estudos na área de tecnologia assistiva têm mostrado que essas ferramentas podem auxiliar no desenvolvimento da comunicação e linguagem de indivíduos com TEA, oferecendo uma forma alternativa e complementar de se expressar e comunicar.
Contudo, os aplicativos de comunicação são personalizados de acordo com a necessidade e habilidade de cada criança.
Conhecidos também como Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) podem ser personalizados estruturalmente: a voz, os tipos de textos e de figuras, o visual, tudo de acordo com a demanda especifica de cada criança, a fim de ajudar a comunicação de forma eficaz, trazendo maior autonomia e independência para a criança, facilitando a interação social.
Lembrando que a escolha da melhor ferramenta de comunicação e implementação deve ser feita com orientação de um fonoaudiólogo.

Como o fonoaudiólogo lida com os problemas de sensibilidade auditiva que muitas crianças com autismo apresentam?
Devemos realizar uma avaliação detalhada da criança com autismo para identificar suas dificuldades e necessidades específicas em relação à audição.
A partir dessa avaliação, é elaborado um plano de intervenção individualizado que inclui estratégias e atividades para ajudar a criança a desenvolver uma maior tolerância e adaptação aos estímulos sonoros.
Algumas dessas estratégias incluem:
- Trabalhar a percepção auditiva para melhorar a sua discriminação, identificação e compreensão dos sons;
- Orientar a família e a escola para a criação de ambientes auditivos mais adaptados às necessidades especificas, podendo incluir o abafador de ruído;
- Em conjunto com terapeuta ocupacional, implementar estratégias para regulação das suas respostas sensoriais.
Lembrando que as questões auditivas são trabalhadas junto com equipe multidisciplinar envolvendo otorrinolaringologista, psicólogo, terapia ocupacional e fonoaudiólogo.
A terapia fonoaudiológica pode ajudar meu filho a melhorar suas habilidades sociais, como fazer amigos ou compreender expressões faciais?
Sim, a terapia fonoaudiológica pode ser muito benéfica para desenvolver e melhorar as habilidades sociais, incluindo a capacidade de fazer amigos e compreender expressões faciais dos outros.
É crucial observar os sinais como mudança de tom de voz, expressões corporais, gestos que são fundamentais para a interações sociais.
Também é possível incluir o desenvolvimento de habilidades de conversação, turn-taking e compreensão de regras sociais, que são essenciais para a boa convivência e interações sociais.
Qual é a relação entre a comunicação e o comportamento em crianças com TEA? Como um fonoaudiólogo pode ajudar a reduzir comportamentos desafiadores?
Particularmente é um tema que eu gosto muito, pois a comunicação desempenha um papel fundamental no comportamento de crianças com autismo. Uma vez que possuem dificuldades de se comunicar, levando à frustração e aos comportamentos desafiadores.
Ajudamos as crianças desenvolvendo as habilidades de comunicação, sejam na forma oral ou não oral (CAA), para que consigam expressar suas necessidades e sentimentos de forma clara e sejam compreendidas.
Ao desenvolvermos essas habilidades no paciente, ele reduz os comportamentos inadequados e desafiadores. Dessa forma, sentindo-se mais capaz de se expressar e ter suas necessidades atendidas, não precisando usar de comportamentos inapropriados.
Nesse momento, precisamos muito do apoio da família, pois a casa é nosso maior desafio. Uma vez que é o local onde a criança passa maior parte do tempo e já aprendeu a conquistar coisas com o seu comportamento e não com linguagem.
Mas junto com uma equipe multidisciplinar com fonoaudiólogo, psicólogo, agente terapêutico, entre outros, conseguimos alcançar os objetivos.
Com que frequência a criança precisa de acompanhamento fonoaudiológico para alcançar melhorias significativas na comunicação?
Depende das necessidades de cada paciente. Geralmente, as sessões acontecem de 1 a 3 vezes na semana, dependendo da gravidade e da necessidade de cada criança e sua evolução.
Para maiores informações sobre como consultar especialistas pode ajudar no desenvolvimento cognitivo de seus filhos, recomendamos o Manual de Orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Além disso, aqui no My babe Care é possível acessar os artigos sobre saúde mental, como as entrevistas com o psicólogo sobre TDAH e com a psicóloga sobre a importância do sono para a saúde mental dos bebês.

Fonoaudióloga
Vanessa do Lago Guimarães
Fonoaudióloga formada pela UFRJ e especialista em Audiologia Clínica, que atende em seu consultório no Rio de Janeiro e realiza atendimentos on-line. Saiba mais acessando o perfil no Instagram @centroreabvanessalago.

Escrito por
Gabriela Sucupira
Redatora bilíngue, bacharel em Letras pela UFRJ e Especialista em Marketing pela USP/Esalq. Carioca, mãe da Rebeca e consultora textual para o Linkedin.