Jiu-Jitsu é para criança? Entrevista com Wendell Ribeiro

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sete crianças usando kimono de jiu-jitsu em clima amigável.

Muitos pais possuem dúvidas em qual atividade colocar seus filhos e se o famoso Jiu-Jitsu é bom para crianças, então convidamos o professor de Educação Física, faixa preta de jiu-jitsu segunda geração de sua família, que além de seguir o legado com seu filho, criou um método de ensino da modalidade para crianças, Winners. Wendell Ribeiro, que reside nos Emirados Árabes há 12 anos e é um dos responsáveis por implementar o jiu-jitsu em um projeto escolar de Abu Dhabi, conversou com a gente e tirou muitas dúvidas sobre os benefícios trazidos pela prática do jiu-jitsu.

Quais os principais benefícios que você observa nas crianças que praticam Jiu-Jitsu regularmente?

Vamos compreender a criança como um todo e de maneira holística. Os benefícios físicos são todos aqueles que uma prática de esporte proporciona a uma criança, controle do peso corporal, prevenção de doenças, melhora da condição cardíaca entre outros. No que se refere a cognição, melhora o aprendizado, a velocidade de raciocínio, a solução de problemas e a criação de estratégias. Estimula a criança a pensar, desenvolver senso crítico, imaginação, isso tudo. 

Na questão social socioemocional, quando bem trabalhado o jiu jitsu, o principal benefício é a autoconfiança e o por quê que eu acho que é o principal? Porque é uma autoconfiança sem que se crie uma arrogância. Uma vez que você pratica jiu-jitsu, você acaba sabendo que você é mais forte, que você é capaz de lidar com situações que, ao não praticar, você não seria capaz de lidar. E é possível trabalhar isso com a criança.

Por que essa autoconfiança não beira a arrogância no jiu jitsu? 

Porque também se aprende. No jiu jitsu você precisa estar bem treinado. Não é você ser mais forte, ou o mais leve, Brazilian Jiu-Jitsu (BJJ), desenvolvido pelo Hélio Gracie é uma arte marcial, em que o mais fraco ganha do mais forte. E o que é lindo nisso? o jiu-jitsu em comparação às outras, que também possuem esses ensinamentos, é a única arte marcial que você tem chance de desistir, o que é uma representação de humildade muito grande. 

Imagina, você dá os três tapinhas ali (que é a forma, o sinal para parar o movimento, parar a luta naquele momento), você tá dizendo para o seu oponente “Pô, você tá sendo melhor que eu! Para”. E aí pode ser que já no próximo embate, você que vai subjugar o seu oponente. Então, eu acho lindo isso no jiu-jitsu quando bem trabalhado. Obviamente, tudo isso tem que ser bem trabalhado na academia, por meio do professor.

No boxe, por exemplo, você toma um soco e desmaia e cai, e é nocauteado e não sabe nem por quê. No judô você toma um queda e acaba a luta e ali,  já era. No Muay Thai é igual ao boxe. Enfim, no jiu-jitsu o cara vai ali, tá sendo pego em um estrangulamento ou em uma chave de braço e você acaba tendo que ser humilde o bastante para desistir, para dar os três tapinhas. Então, isso quando bem trabalhado na academia! Eu acho que essa questão da autoconfiança é por saber que você é sim muito forte, que você é sim capaz de coisas que você não seria se não tivesse fazendo jiu-jitsu, mas sem arrogância, porque você está acostumado a lidar com os três tapinhas todo dia.

Quais habilidades as crianças aprendem durante as aulas de Jiu-Jitsu?

O Jiu-Jitsu é uma luta onde você aprende a se defender. Então, basicamente uma habilidade específica é autodefesa. Tem um caráter esportivo em que você pode participar de competições, e seguindo as regras você desenvolve essa habilidade esportiva.

Eu tenho me dedicado nos últimos anos, até por eu estar implementando o jiu-jitsu no Colégio Militar nos Emirados Árabes, trabalhando aqui há 12 anos em um projeto escolar em Abu-Dhabi, a partir do método Winners. Eu tenho focado bastante, obviamente nessa parte técnica esportiva,  mas a questão dos valores e virtudes. No Winners, por exemplo, a gente tem até cartilha para desenvolver gentileza. Imagina, gentileza! Desenvolver gentileza, desenvolver outras habilidades, outros valores e virtudes também. 

Então, especificamente, acho que na maioria das academias é a questão da autodefesa, do jiu jitsu como um esporte. Mas eu acredito muito e eu já tô trabalhando bastante nesse cenário de desenvolvimento de habilidades emocionais, também de valores e virtudes por meio do jiu jitsu. O jiu-jitsu é uma excelente ferramenta educacional, digo isso, pois eu vejo resultados, eu tô dentro da escola há 27 anos, desde 1997, trabalhando com jiu jitsu.

Como você lida com as diferenças de habilidades e níveis de confiança entre as crianças nas suas aulas?

Diferentes habilidade, níveis técnicos etc, sempre estarão presente em uma aula coletiva, o que tende a ser feito é separar as crianças por faixa etárias, de maneira que elas estejam no mesmo momento motor, humano e cognitivo, mas ainda assim pode ter diferenças, cada um de nós é um só. Então é um desafio, o caminho é entregar mesmo em uma aula coletiva, um trabalho cada vez mais individualizado, conhecer os limites e possibilidades de cada aluno. Mesmo que se trabalhe a mesma técnica, com o mesmo objetivo, é importante trazer diversas maneiras de execução de acordo com cada aluno. Tentando sempre extrair o melhor de cada aluno, sem negligenciar aquilo que precisa ser melhorado.

Professor de Educação Física, faixa preta de Jiu-Jitsu seis graus, criador do método Winners. Reside nos Emirados Árabes, e trabalha com Jiu-Jitsu há quase 30 anos.

Artigo escrito por

Rondy Cavulla

Mãe da Maria Olívia, expatriada em Malta, Gestora, SEO e especialista em Museus e Património Cultural.

Artigo escrito por

Rondy

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