Da escuta à autonomia: reflexões sobre Reggio Emília

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Professora lê para crianças sentadas em círculo em uma sala de aula colorida.

A educação infantil está em constante transformação, mas alguns princípios permanecem atemporais: respeito, escuta e valorização da criança. A abordagem Reggio Emília, nascida na Itália após a Segunda Guerra, tornou-se referência mundial ao propor um olhar mais humano e criativo para a infância.

Mais do que um método, trata-se de uma filosofia que reconhece a criança como protagonista de seu aprendizado, capaz de explorar, criar e construir significados em diálogo com o ambiente e com a comunidade.

Nesta entrevista, conversamos com Daniela Vieira, Pedagoga com especialização em psicopedagogia e pós-granduanda na abordagem pikler e Reggio Emília.

Daniela traz seus conhecimento e dicas práticas para pais e educadores sobre como os Alinhamentos Escolares e Tendências na perspectiva Reggio Emília podem inspirar escolas, educadores e famílias na construção de experiências mais ricas e transformadoras.

Introdução: conhecendo a abordagem Reggio Emília

O que é a perspectiva Reggio Emília e por que ela tem se tornado uma referência mundial em educação infantil?

A perspectiva Reggio Emilia é uma abordagem pedagógica que busca uma educação mais igualitária, inovadora e com centralidade na criança. Seu foco é atender ativamente às necessidades dos pequenos, promovendo um aprendizado humanizado e de qualidade nos primeiros anos de vida.

Entre suas principais características estão:

  • O respeito à integridade da criança,
  • A valorização do vínculo afetivo, da escuta, da fala e do acolhimento,
  • O estímulo à autonomia e ao protagonismo infantil.

Essa metodologia incentiva que a criança explore, investigue e construa conhecimento a partir de seus próprios interesses, promovendo experiências significativas e inovadoras.

Dessa maneira, ela tem se tornado uma referência mundial em educação infantil justamente por colocar a criança no centro do processo de aprendizagem, reconhecendo seu potencial e promovendo um ambiente de descobertas, criatividade e participação ativa.

Como você chegou a se especializar nesse campo e o que mais te inspira na prática dessa abordagem?

Durante minha trajetória como professora de educação infantil, presenciei e vivi diversas formas de ensino e aplicação da aprendizagem. No entanto, buscava métodos que realmente respeitassem a criança como um ser único.

Vale destacar que meu encanto pela abordagem Reggio Emilia surgiu devido sua perspectiva de enxergar a criança como um ser potente e capaz de construir conhecimento por meio da interação com o outro e com o meio que a cerca.

Com isso, busquei aprofundar meus conhecimentos por meio da pós-graduação e dos estudos oferecidos no meu trabalho, em que estudamos sobre o tema 2 horas por dia, baseados nos materiais propostos pela Prefeitura de São Paulo.

Assim, trabalhando na Prefeitura, percebo que essa abordagem está muito presente nos documentos que nos norteiam, proporcionando momentos de estudo e prática que integram as metodologias Reggio Emilia.

Portanto, cada experiência com a criança se tornou, para mim, uma verdadeira experiência de pesquisa, aprendizado e descoberta.

Capas dos livros “As cem linguagens da criança” e “As cem linguagens em mini-histórias”, referências da abordagem Reggio Emília na educação infantil, com fundo verde claro.
Livros da abordagem Reggio Emília

 

 

Criança como Protagonista

O que significa, na prática, considerar a criança como protagonista do processo de aprendizagem?

Na prática, considerar a criança como protagonista do processo de aprendizagem significa reconhecê-la como sujeito ativo, capaz de construir conhecimentos a partir de suas experiências, curiosidades e interações.

Isso envolve respeitar seus aspectos individuais, interesses culturais e cotidianos, tendo o educador como mediador desse processo. Cabe ao professor criar territórios e ambientes que favoreçam a investigação, a exploração e a aprendizagem significativa, sempre partindo do interesse da criança.

Como os educadores podem estimular a autonomia e a curiosidade sem perder de vista a importância do cuidado e da orientação?

O cuidado e a orientação são fundamentais, principalmente quando a criança faz uma escolha que pode gerar algum desconforto. Por exemplo: em um dia frio, a criança opta por usar uma roupa leve.

Nesse caso, o educador não deve simplesmente impor outra opção, mas mediar a situação por meio de questionamentos, ajudando-a a perceber as consequências de sua escolha.

Dessa forma, a criança é orientada a refletir, diferenciando suas escolhas de acordo com o contexto. Assim, mantém sua autonomia preservada, exercita a curiosidade e aprende a resolver situações do cotidiano de maneira consciente e significativa.

Ambientes Criativos

Na visão Reggio Emília, o espaço também é educador. Quais características um ambiente criativo deve ter para favorecer a aprendizagem?

Um ambiente criativo deve oferecer variações que estimulem a exploração e favoreçam a aprendizagem, um ambiente, além de acolhedor explorador e de descobertas. Na minha sala de aula, por exemplo, entre os variados cantos de exploração, temos em especial uma montada com elementos da natureza recolhidos pelo jardim da escola onde formamos em sala em contexto de investigação e descoberta.

Sala de educação infantil inspirada na abordagem Reggio Emília, com móveis de madeira clara, materiais naturais organizados em cestos e plantas, criando um ambiente acolhedor, estético e exploratório.
Sala inspirada na abordagem Reggio Emilia

 

 

Junto a esse material, disponibilizo lupas para maior observação, materiais de arte como tintas e lápis de colorir, onde o manuseio, a interação e forma de criação partam da descoberta de cada criança, considerando o que é significativo para cada uma.

É importante que os materiais e recursos estejam dispostos na altura certa, permitindo o acesso com autonomia.

Além disso, o espaço precisa ser investigativo, acolhedor e seguro, despertando a curiosidade, incentivando a interação e possibilitando diferentes formas de expressão. Dessa maneira, o ambiente se torna um verdadeiro educador, promovendo experiências ricas e significativas.

Saiba mais sobre essa abordagem na Parte II desta entrevista.

 

Mulher negra sentada em uma cadeira, sorrindo, vestindo blazer preto e camisa social branca, com cabelo preso e óculos de grau, em frente a uma parede clara.

Pedagoga especialista em Psicopedagogia

Daniela Vieira

Pedagoga com especialização em psicopedagogia institucional e clínica, pós-graduanda do MBA em Gestão escolar pela Universidade de São Paulo (USP).

Mulher e criança negras sorrindo para uma selfie, ambas com cabelos trançados, sentadas lado a lado.

Escrito por

Gabriela Sucupira

Redatora bilíngue Especialista em Marketing pela USP/Esalq e bacharel em Letras pela UFRJ. Mãe da Rebeca, natural do Rio de Janeiro, Gabriela possui 15 anos de experiência como Consultora Textual e atua há 4 anos como Personal Branding para o Linkedin.

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Artigo escrito por

Gabriela Sucupira

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