Pai e gestão entre viagens e família: Estratégias de Rafael Polónia.

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Pai na gestão de uma aventura inesquecível, contemplando a grandiosidade da antiga cidade de Petra do alto de um penhasco.

Com o coração na viagem e na família: Rafael Polónia é pai de dois filhos e fundador da agência de viagens Landescape. Conheça as suas estratégias e desafios na gestão da sua vida entre cá e lá.

Porque ser pai não vem com um manual de instruções. São testemunhos como este que nos inspiram e nos ajudam a trilharmos o nosso próprio caminho.

Se procura estratégias para gerir a paixão por viagens com a vida familiar, este artigo é para si.

Nesta entrevista repleta de insights valiosos, Rafael responde como a sua experiência de viagens (profissionais e familiares) impactou a sua vida como pai e, consequentemente, de todos os membros da família. 

Os Desafios de Viajar e Ser Pai ao Mesmo Tempo

 

1. Rafael, sendo pai, como faz a gestão entre o trabalho a viajar e o tempo em família?

Esta é uma questão que pode dividir-se em 4 momentos diferentes: 

 

O momento em que estava eu e a Carolina

Só…dois adultos maduros, que têm consciência do trabalho de cada um, do tempo que isso toma, da prioridade e de sabermos onde a outra pessoa está, conscientes de que entre a partida e o regresso, o tempo não é demasiado. Há saudade, mas gerível.

 

O momento em que o nosso primeiro filho nasce, o Sebastião.

Tudo é novo. A vontade de ficar. O sentir que estamos a fazer falta e a falta que este novo ser provoca na nossa nova vida de pai. A saudade que ele ainda não sente, por não ter consciência, mas a saudade que nós sentimos e que é complicado. O adaptar constante a horários para que o pudesse ver, pelo menos, uma vez por dia.

 

O momento em que a Amélia nasceu 

E em que o Sebastião era já muito mais consciente, com quase 2 anos. Se ela, por um lado, não percebia o que era o mundo sequer, ele percebia quando lhe dizia que ia de viagem (apesar de não ter noção temporal), mas sabia que não ia ver-me, que não estaria ali para quando precisasse, sabia que o pai ia de avião para algum lado. E este contraste entre estes dois mundos – o da completa falta de consciência e um pouco dela – começou a fazer-me pensar no meu percurso enquanto líder de viagem e a decisão foi: viajar em trabalho, cada vez menos.

 

O momento em que estou neste momento

Em que ambos sabem que vou partir e que regresso (apesar de continuarem a não ter noção temporal). De me ligarem, de falarmos através do telemóvel e de eu perceber que, mais no caso dele quando nos vemos, ele começa a não querer comunicar comigo porque sente que não estou com ele e ela, que não o diz, mas que à noite chama sempre por mim, quando vai dormir. Como pai, sinto – e pode parecer estúpido – que estou a falhar…quando não estou. Porém, por outro lado, é o meu trabalho e apesar de já ter reduzido bastante as minhas datas por ano, quero continuar a fazê-lo, porque a viagem está-me no sangue. 

 

2 – Qual é a maior dificuldade que encontra para manter a rotina familiar enquanto viaja?

A maior dificuldade quando viajo para países em que o fuso horário é mais evidente, prende-se com a comunicação com as minhas crias, pois nem sempre encontramos uma hora em que consigamos falar.

A minha rotina, é a de viagem. Quando estou em casa, mudo o chip. É como se tivesse duas rotinas, apesar de meter sempre o pé na outra, tanto em viagem, como em casa. É uma questão de adaptação. Eu sou feito de estar sempre a mudar.

 

Estratégias de Rafael Polónia para Gerir a Vida Profissional e Pessoal em Viagem

 

3- Quais são as suas estratégias para manter-se produtivo, mesmo em movimento?

É um trabalho mental.

A vida como líder de viagens é muito cansativa. E se quando estou em Portugal, tenho também de gerir a empresa, quando estou em viagem, tenho de gerir empresa e liderar grupo. O nosso trabalho é 24/7 e por isso, é assumir que há dias em que chegamos ao quarto e caímos para o lado e outros dias em que temos mesmo que nos sentar e trabalhar para “o lado de cá”.

Cada pessoa tem a sua maneira de gerir as coisas, os seus truques e ferramentas. Eu sou flexível nisso. Não me imponho um horário. Funciono conforme a Necessidade vs Cansaço.

 

4 – Para garantir que a família se envolva no processo da viagem, o que costuma fazer?

A família nunca está muito envolvida na viagem.

A única coisa que tento fazer todos os dias, é deixar um vídeo antes das crias acordarem, dizendo onde estou, o que vou fazer, curiosidades que aconteceram e sempre dando uma noção de “história”, que o Sebastião – por ser um pouco Nerd – gosta sempre, como falar do Rei do local onde estou; ou do Imperador que está na estátua que mostro; ou da cidade onde estou e o que aconteceu lá; do transporte que estou a apanhar; etc., ele adora aprender e por isso, sei que retém muito do que digo e questiona depois na escola, fala disso, pesquisam sobre isso.

 

Como as Viagens Ajudam no Crescimento Familiar

 

5 – O que aprendeu como pai ao viajar com a família e o que pôde aplicar na sua vida profissional?

Aprendi três coisas:

  • a ver o mundo de forma mais calma e ao ritmo dela e dele;
  • a ler e a ver através dos seus olhos: o que comentam, no que refletem, o que chama a atenção, a importância que dão a certas coisas, o que provam e gostam – que a maior parte das vezes, são coisas que nós, enquanto adultos, já não nos prende a atenção…por acharmos que não tem interesse;
  • a ter certezas de nada. Tudo aquilo que nós “temos a certeza” que é, quando temos crias, ficamos com a consciência que, afinal, não. E isso faz-nos crescer.

6- Como as viagens podem fortalecer os laços familiares?

É também uma questão que se divide em duas respostas: Quando eu estou a viajar a nível profissional e quando viajo com a família.

Se por um lado penso que o sentir falta pode fazer com que se sinta mais vontade de estar e mais consciência de que somos “ necessários” ao bem estar familiar; por outro, o viajar em família, é a prova de fogo de uma relação e de ligação familiar, porque uma coisa é estarmos em casa, no nosso ambiente, com as nossas coisas, outra é adaptação ao mundo novo, a transportes novos, alojamentos novos, gastronomia nova e tudo isso acontece de forma saudável se mantivermos alguns ritmos e rituais que temos em casa, mas o fortalecimento maior acontece com o abraço, com a compreensão, com o ouvir, com o respeitar e em viagem isto é o mais importante.

Porque quando se viaja com filhos, somos nós que nos temos de adaptar e compreender, porque o nosso cérebro é mais maduro. Eles, só têm de viver.

 

Lições de Vida ao Viajar com a Família

 

7 – Como é que lida com as diferenças de fuso horário juntamente com os horários familiares?

Cada viagem é uma viagem.

Já aceitei para mim que se der para conversar, conversamos. Se der para nos vermos, vemo-nos. Se der para partilhar histórias, partilhamos. Se acontecer durante uns dias não o conseguirmos fazer, nada que um pequeno vídeo – como o que falei atrás – não resolva.

As crianças não têm – ao contrário do que possamos pensar – uma necessidade constante de comunicar connosco. Nós é que temos. Elas vivem o seu dia a dia e conseguem adaptar-se à falta, muito mais facilmente que os adultos, porque têm sempre outros estímulos.

 

E por fim…

 

8 – Que conselhos de gestão daria a outras famílias que querem viajar sem perder o foco profissional?

Penso que o mais importante é perceber se o trabalho que temos consegue adaptar-se ao nosso ritmo de viagem. Isto para não impôr aos outros membros da família horários que podem não estar dispostos a cumprir (ou não conseguirem mesmo fazê-lo).

É importante viajar com a consciência de que o plano que temos para trabalharmos (à distância, neste caso) pode não funcionar e se isso vai prejudicar ou não.

Uma coisa é viajarmos sozinhos…outra coisa é viajar com crianças, sobretudo, que nunca compreenderão porque parámos, porque não estamos a avançar, porque temos de fazer certas coisas naquele momento.

Cada trabalho, é um trabalho e tenho consciência de que alguns permitem, outros não. O importante é partir-se sempre com a noção de que Tudo vai correr bem e de forma relaxada…mas que tudo pode tomar o sentido contrário, sem que queiramos e, nesse caso, é aceitar.

Pai e fundador da agência de viagens Landescape & Líder de Viagem. @landescape_viagens

mulher com o cabelo castanho escuro com cumprimento médio, vestida de amarelo com brincos compridos amarelos, corrente dourada sob o fundo neutro (muro bege texturizado). Ela sorri, contente.

Escrito por

Mãe de cinco filhos em ensino doméstico. Apaixonada por filosofia, psicologia e educação. Estuda e escreve sobre família e desenvolvimento humano.

Artigo escrito por

Mariana Ribeiro

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