Diante de um mundo cada vez mais digital e com experiências virtuais, ensinar e incentivar o hábito da leitura tem sido um desafio para os pais de crianças de todas as idades.
Mesmo nos anos iniciais, os filhos têm demonstrado mais interesse pelas tecnologias com seus conteúdos curtos, prontos e até de caráter duvidoso, do que por bons livros, físicos ou digitais, com suas histórias interessantes e criativas, mas que precisam ser processadas por meio da imaginação e interpretação, o que exigem atenção plena e tempo de qualidade para se dedicar.
Como os pequenos têm acesso às tecnologias vendo os adultos usarem seus celulares o tempo todo, eles aprendem que os aparelhos são interessantes e, quando começam a usá-los em excesso, apresentam dificuldade de concentração e pouco interesse por atividades que exijam concentração e atenção plena, como a leitura, já nos primeiros anos.
Pensando em ajudar os pais e cuidadores a reverterem esse quadro, entrevistamos a pedagoga Daniela Vieira, profissional especialista em psicopedagogia institucional e clínica, com mais de 10 anos de experiência como educadora da primeira infância.
Confiram o texto na íntegra e compartilhem suas experiências nos comentários no final da página.
Por que a leitura é importante para o desenvolvimento do meu filho?
Ao longo da minha carreira como educadora infantil, pude vivenciar as consequências positivas que a aquisição do hábito da leitura pode trazer para as crianças.
Essa prática é fundamental para o desenvolvimento completo dos alunos, pois eles têm sua imaginação e criatividade estimuladas, melhoram seu despenho escolar, têm sua concentração e disciplina fortalecidos, completando seu desenvolvimento das capacidades cognitivas, linguísticas, emocionais e sociais mais facilmente.
Quando devo começar a ler com ele?
A idade ideal é quando os pais e cuidadores se sentirem felizes em compartilharem do hábito da leitura, isto é, se a família já tiver o hábito de lerem boas histórias juntos e/ou individualmente, é recomendado fazer isso perto da criança desde os primeiros anos de vida.
Esse costume em casa pode fortalecer o vínculo afetivo entre os familiares e ajuda muito nosso trabalho em sala de aula nos aspectos linguísticos e cognitivo.
Como o desenvolvimento da linguagem e do amor pela leitura afetam o desempenho acadêmico do meu filho?
Tudo que é feito com carinho e dedicação tem mais chances de se tornar um hábito, tanto em casa como na sala de aula, por isso se os pequenos forem estimulados nesses dois ambientes que eles mais frequentam, isso refletirá em diversas áreas do seu aprendizado, como:
Aperfeiçoamento da compreensão de texto e do vocabulário;
Desenvolvimento da escrita;
Aumento da atenção e concentração;
Estímulo da criatividade e do pensamento crítico;
Desenvolvimento emocional e social;
Formação de habilidades de estudo;
Estímulos a curiosidade e aprendizado contínuo.
LIVROS DE LEITURA
Qual tipo de livro é adequado para cada faixa etária?
A escolha do livro certos para cada faixa etária é essencial para apoiar o desenvolvimento da criança.
Nas primeiras descobertas, quando ainda for um bebê até o final da educação infantil, é aconselhável livros de pano, plásticos ou cartonados, com imagens grandes e coloridas, textos simples e curtos, livros com texturas ou sons.
Nos anos iniciais, de 06 a 10 anos: são recomendadas histórias curtas, textos repetitivos e rimados, com ilustrações vívidas, além dos livros de perguntas e respostas.
No início da pré-adolescência, dos 10 aos 14 anos, o ideal é investir em histórias mais complexas, com capítulos curtos e personagens com os quais a criança possa se identificar, os livros podem conter ilustrações e textos mais equilibrados.
Na adolescência, dos 14 aos 18 anos: o sugerido são as tramas mais sofisticadas, reflexões sobre identidade, moralidade e sociedade, livros que desafiem a imaginação e desenvolvimento do pensamento crítico. Não devemos deixar de considerar o interesse pessoal de cada criança, ao escolher o livro, estimulando e incentivando o gosto pela leitura.
Como escolher livros que sejam interessantes para meu filho?
Nas escolas em que trabalhei, sempre que possível, buscamos estimular a autonomia dos alunos, disponibilizando um ambiente com livros variados, divididos por faixa etária e temas que são interessantes e importantes para trabalharmos de forma lúdica em sala de aula, respeitando as diferentes realidades de cada aluno e incluindo temas que abordam questões socioemocionais.
CANTINHO DA LEITURA

Como criar um cantinho de leitura agradável em casa?
A escolha de um espaço tranquilo e aconchegante é uma forma excelente para incentivar o hábito de leitura, esse ambiente deve ser confortável, estimulante e acessível, um lugar tranquilo coma iluminação adequada. É importante escolher assentos confortáveis com almofadas, pufes, cadeiras de leituras e poltronas, além do uso de tapetes macios com almofadas no chão.
Esse espaço pode ter mais de uma opção de descanso para que a criança possa explorar e se acomodar da forma que preferir. Para se tornar mais atrativo e de experiência única e prazerosa, os pais podem optar por uma decoração estimulante com cores alegres e com quadros de personagens que a criança tenha preferência.
Podem ser instaladas prateleiras acessíveis também, pois dessa forma, as opções de livros ficarão ao alcance da criança, para poder manuseá-los sozinhas, troque os livros de tempos em tempos e sinta que o cantinho da leitura é um ambiente interessante.
Qual é a melhor maneira de organizar os livros no cantinho de leitura?
A organização dos livros no cantinho da leitura é de extrema importância para estimular o interesse e facilitar o acesso da criança aos títulos, desta forma é interessante o uso de prateleiras baixas e abertas, cestos ou caixas para facilitar o acesso, organização por faixa etária, tema ou gênero, podem ser colocadas etiquetas ou ícones.
Assim, você não só estará promovendo uma organização do espaço, mas também realizando um ambiente visual e divertido mais aconchegante.
É possível ter mais dicas de como montar o cantinho da leitura em outro artigo.
Com que frequência devo ler com meu filho?
A frequência com que você deve realizar a leitura com a criança pode variar conforme a idade, a rotina e o interesse da criança, contudo, o incentivo e a introdução da leitura devem ser diários.
Como posso tornar a leitura mais divertida para meu filho?
Use a entonação e expressão vocal, incentive a interatividade, incluindo a criança nas histórias, adicione atividades criativas, desenhos, pinturas, crie finais alternativos, use livros ilustrados e interativos e escolha os livros pelos quais a criança demonstre interesse.
Fazer da leitura um momento de divertido, empolgante, cheio de descobertas, interativo e agradável são pontos essenciais para garantir a conexão emocional com os livros.
O que fazer se meu filho não está interessado em ler?
É importante entender a causa, compreender o motivo por trás do desinteresse lhe ajudará a adotar novas estratégias. O interesse pela leitura pode retornar com o tempo, especialmente quando você cria uma experiência positiva, divertida e livre de pressões.
Qual o impacto das tecnologias digitais na leitura infantil?
A preocupação com o bem-estar das crianças e adolescentes e seu desempenho escolar tem feito as autoridades criarem normas e leis que proíbem o uso de celulares no ambiente escolar no Brasil e no mundo. Contudo, baseada em minha experiência, não basta proibir os alunos de usarem esses recursos na escola sem explicar o porquê.
Os especialistas explicam que embora as ferramentas digitais promovem o engajamento e aumento o acesso e inclusão das crianças em diferentes mundos através das pesquisas e atividades interativas monitoradas.
O uso excessivo e sem objetivos acadêmicos dificulta de atenção, concentração e compreensão, além de aumentar as chances de isolamento social, pois ao viverem em mundos virtuais, muitas crianças e adolescente apresentam dificuldade de interagirem socialmente com os colegas.
Uma estratégia utilizada em diversos materiais escolares é a mistura de elementos gráficos e digitais em seus conteúdos, com QR Codes ao longo dos livros, exercícios feitos com a ajuda dos professores e pais para acessar a biblioteca virtual, etc.
Com esse equilíbrio entre o livro físico e os recursos virtuais, as crianças e adolescentes ficam mais interessadas e são ensinadas a aproveitarem a tecnologia a favor da leitura e do aprendizado e não ficam reféns de conteúdos vazios e rápidos.

Pedagoga
Daniela Vieira
Pedagoga com especialização em psicopedagogia institucional e clínica, pós-graduanda do MBA em Gestão escolar pela Universidade de São Paulo (USP).

Escrito por
Gabriela Sucupira
Carioca apaixonada pelas Letras, mãe da Rebeca, empreendedora e especialista em Marketing.