Feliz dia do pai! Para comemorar a paternidade aqui em Portugal, Hugo, pai de cinco filhos, vai partilhar um pouco do que é ser pai.
As suas quatro filhas, que têm entre os dois e dez anos, e o seu filho de cinco, transformam este pai em uma “pessoa melhor e muito feliz”, apesar de todas as dificuldades.
Neste artigo, Hugo irá partilhar a essência da paternidade, as praticalidades da rotina e educação, os seus momentos mais marcantes e, também, algumas curiosidades e principais desafios.
Sobre a Paternidade
Como foi a sua reação ao descobrir que seria pai pela primeira vez? E na quinta vez?
Eu e a minha esposa queríamos muito ser pais, por isso quando soube que ia ser pai pela primeira vez, ficamos naturalmente felizes mas nervosos ao mesmo tempo por não sabermos o que nos esperava.
Já quando soube que ia ser pai pela quinta vez, confesso que apanhou-me de surpresa. A consciência de que é mais uma pessoa a trazer para este mundo, a responsabilidade acrescida… Só depois, à medida que nos vai amadurecendo a ideia, vejo a pequena alma a crescer em torno de nós… Aí consigo realmente ver o amor. A importância de acarretar esta responsabilidade com um sorriso e um coração calmo, e todo este amor.
O que mudou em você desde que se tornou pai?
Mudou muita coisa mas principalmente mudou a minha filosofia de vida: toda a minha orientação pessoal teve um objetivo muito mais forte, mais nítido. O meu papel no mundo ficou claro. Ganhei foco em saber para onde vou e qual é o meu propósito.
Qual foi o maior desafio de criar cinco filhos ao mesmo tempo?
Para mim, o maior desafio foi sem dúvida eu próprio. Eu criava responsabilidades acrescidas e expectativas surrealistas quando, na verdade, a coisa era bem mais simples.
E eu acho que se deve imenso da forma como nós somos educados (principalmente em Portugal). Em como é preciso preparar muita coisa e ter bastantes possibilidades para criar as condições perfeitas em prol da educação de uma criança. Hoje vejo que é desmedido.
Como você faz para dar atenção individual a cada um deles?
A atenção individual a cada um deles não se resume a uma divisão aritmética do tempo que dispomos para cada criança. São antes, as experiências específicas que temos com cada um.
Se com uma criança eu sou mais físico, mais ativo, com outra sou capaz de ser mais caridoso, mais afetivo. Então, cada pequena experiência (mesmo que dure pouco tempo entre as cinco crianças) já tem um efeito positivo.
Portanto, tento dar atenção à personalidade de cada criança e especificar os seus gostos. Além disso, tento também treinar a minha própria capacidade para este gosto: por exemplo, eu posso não gostar de jogar futebol mas faço um esforço para jogar com aquele ou aquela que gosta. O amor em prática.
Existe algo que você aprendeu com o primeiro filho que aplicou nos outros?
O ponto principal que eu aprendi no que toca a educar o primeiro filho é que não podemos transportar o conhecimento de forma linear. Ou seja, apesar de haver dicas universais, a personalidade tem o seu peso: Aquilo que funcionou com o primeiro, pode trazer o efeito inverso com o próximo. Então, temos sempre que dar tempo para conhecer a criança e tempo, para haver vinculação. Só assim podemos, então, criar a ligação única com cada um destes seres.
Momentos Marcantes
Qual foi o momento mais emocionante que você viveu como pai?
O momento mais emocionante como o pai, foi sem dúvida o momento do parto de cada um deles. Tive a possibilidade de assistir a todos os partos do lado da minha esposa, a dar a força necessária para que ela pudesse suportar cada um dos momentos. E quando, finalmente nasce aquela criança, em todas as vezes fiquei derretido. Tive sempre numa postura de entrega total das minhas emoções. A cada vez, abria-se mais espaço para aquela criança, no meu coração já cheio.
Já aconteceu alguma situação engraçada ou caótica por ter uma casa tão cheia?
Situações engraçadas e caóticas são tantas que nem consigo escolher uma só… Gostam muito de desenhar em toda a casa (ou no próprio corpo) quando estamos ocupados com outra criança ou outro afazer. Desenham com canetas impermeáveis e com o que tiverem à mão, como já aconteceu terem um piaçá da casa de banho…
Tem alguma lembrança especial que você gostaria que seus filhos nunca esquecessem?
Gostaria de lhes transmitir que a família é a base, nos melhores e nos piores momentos da vida de cada um deles. Estaremos sempre por perto. Se nós, os pais, não pudermos estar, pelo menos os seus numerosos irmãos, espero que sempre estejam.
Rotina e Educação
Como é a rotina da sua família? Alguma dica para manter a casa organizada?
Penso que o primeiro passo de estabelecer uma rotina saudável é o acordo que tem que ser criado com o teu parceiro ou parceira.
Ter em conta o equilíbrio natural das coisas, ou seja: respeitar os padrões de sono e de vigília, garantir uma alimentação equilibrada, estabelecer momentos de educação e de diversão e aprendizagem e respeitar também a exigência física natural que as crianças têm para desenvolver as suas aptidões não só corporais mais também sociais e emocionais. Como fisioterapeuta sei o quão importante é o movimento humano para estas esferas que o compõem.
Como você e sua parceira (ou parceiro) dividem as responsabilidades?
Nós, primeiramente, comunicamos. Sem este elo (a comunicação), a estrutura não se sustenta. Depois, temos que estar atentos às necessidades globais com a capacidade para fazermos o que, naturalmente, não queremos ou não nos convém individualmente.
Na prática, somos muito flexiveis e não há tarefas muito separadas. Com excepção do trabalho para o sustento da família, da minha parte. E o encargo da educação doméstica à minha esposa. O resto é preenchido pelos dois, conforme for necessário.
Como você lida com birras e brigas entre os irmãos?
Birras e brigas sempre existiram. Há que aceitar. Há alturas em que este tipo de situações perde o controle e, nestes momentos, a primeira coisa que tento fazer é acalmar toda a situação e não incentivar o aumento da resposta emocional.
Portanto, nestas situações tento apelar a uma resposta racional. Faço perguntas específicas aos factos do acontecimento de forma a instigar a memória de cada criança envolvida na discussão. Depois, tento mediar de forma imparcial.
Qual é o maior valor que você tenta passar aos seus filhos?
A educação que tentamos proporcionar aos nossos filhos vai muito de encontro a nossa filosofia de vida e religião. A nossa fé é católica. Tentamos transmitir os valores que os nossos pais nos transmitiram a nós, que acreditamos com a verdade e nos desafiamos a adaptá-los a este mundo em constante mudança.
Valores como o espírito de trabalho, de sacrifício (necessário), de caridade e o amor ao próximo, o respeito pela família e pela evolução do indivíduo que contribui para a comunidade. Estas são as grandes diretrizes sob às quais nos regemos.

Curiosidades e Desafios
O que as pessoas mais perguntam quando descobrem que você tem cinco filhos?
“Então, pra quando o próximo?”
Você sente que a sociedade apoia pais que são muito envolvidos na criação dos filhos?
Infelizmente (e principalmente em Portugal) não há muito apoio para famílias numerosas.
Existe um incentivo fiscal e social entre outras pequenas ajudas. No entanto, o país não tem uma verdadeira política natalista.
Apesar disto, algo que eu aprendi com o decorrer dos anos é que o número de filhos gera em nós próprios a necessidade de fazer mais. De trabalhar mais para poder sustentar este estilo de vida. Hoje em dia, posso dizer que só consegui ter mais por causa da exigência de ter uma família numerosa. A exigência criou a vontade e a expectativa, e não o contrário como a maioria pensa.
Se pudesse dar um conselho para alguém que sonha em ter uma família grande, qual seria?
Sem dúvida seria: não pensem demasiado.
Quanto mais tentamos preparar a situação, menos preparados vamos estar para que esta situação ocorra. Vou usar uma expressão que gosto bastante em inglês que é throw yourself in the deep end. Ou seja atira-te para a zona funda da piscina e, a partir daí, vais notar em ti próprio uma transformação inerente.
Para finalizar…
O que significa ser pai para você?
Para mim, ser pai é um estadio evolutivo pessoal muito inerente à característica do ser humano. É a situação que nos coloca numa posição de auto-conhecimento profundo e, a partir daí, podemos evoluir cada vez mais e melhor como seres humanos. Com a consciência clara do nosso papel no mundo.
Se seus filhos fossem descrever você em uma palavra, qual acha que escolheriam?
Penso que sou visto como um pai divertido. Pronto para as brincadeiras.
Qual é o seu maior desejo para o futuro dos seus filhos?
Gostaria imenso que os meus filhos fossem santos, isto é, que tenham o Céu aqui na terra. Este é o caminho de cada um e desejo esta máxima alegria para os meus filhos. Para quem não está tão dentro da fé católica, basicamente é juntar todas as virtudes possíveis e os faça brilhar para o mundo em crescimento mútuo.
Pai
Hugo Ribeiro
Pai de cinco filhos, 40 anos. Programador informático de dia, fisioterapeuta e apaixonado pelo movimento nas horas vagas.

Escrito por
Mariana Ribeiro
Mãe de cinco filhos em ensino doméstico. Apaixonada por filosofia, psicologia e educação. Estuda e escreve sobre família e desenvolvimento humano. @Marianaparaizoribeiro