Perguntas cruciais para os pais sobre as crianças com TDAH

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Uma mulher branca e ruiva vestindo uma blusa branca interagindo com uma menina de blusa azul clara com os braços apoiados em uma mesa cheia de libros e papéis e com as mãos segurando um rosto. Com uma estante de livros ao fundo.

Seu filho apresenta inquietação ou agitação constante, fala muito ou tem dificuldade de permanecer atento em atividades longa? Conseguimos as respostas de um psicólogo para os pais sobre crianças com TDAH.

Em outras palavras, os pais, familiares e educadores ficam preocupados quando se deparam com essas caracterísiticas nas crianças, pois podem ser sinais do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, o TDAH.

Esse transtorno neurobiológico de causas genéticas mostra os primeiros sinais na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a vida. Ele é caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade e requer acompanhamento de profissionais de diversas especialidades.

Entrevistamos Osmael dos Santos, psicólogo clínico especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e pós-graduando em Neuropsicologia e Reabilitação Neuropsicológica para esclarecer as dúvidas desses pais.

Confira o texto completo e procure a ajuda de um especialista para uma avaliação adequada.

Quais são os primeiros sinais de TDAH que um psicólogo pode identificar em uma criança?

De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, a ABDA, membro afiliada a ADHD World Federation o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na infância se manifesta através de sinais específicos:

  • Hiperatividade e impulsividade;
  • Dificuldade de concentração;
  • Esquecimento frequente;
  • Desorganização;
  • Dificuldade em seguir instruções;
  • Comportamentos desafiadores.

É crucial ressaltar que nem todas as crianças com TDAH apresentam todos os sinais e que o diagnóstico desse transtorno deve ser realizado por um profissional qualificado, como um neuropsicólogo, por meio de uma avaliação neuropsicológica abrangente.

Essa avaliação permite identificar os comprometimentos específicos de cada criança e descartar outras possíveis causas para os comportamentos observados. Ela é fundamental para identificar o TDAH e iniciar o tratamento adequado.

Conclui-se, portanto, que o diagnóstico precoce e a intervenção multidisciplinar são essenciais para garantir que a criança com TDAH desenvolva todo o seu potencial.

Como posso diferenciar o comportamento típico de uma criança de um possível caso de TDAH?

Para identificar esse transtorno em crianças é crucial diferenciar comportamentos típicos de desatenção e agitação daqueles associados ao transtorno, vejam alguns deles:

Comportamentos comuns em crianças:

  • Desatenção;
  • Dificuldade em manter o foco em atividades; especialmente em situações de tédio;
  • Esquecimento e distração, principalmente em tarefas complexas ou pouco interessantes;
  • Agitação e impulsividade, com dificuldade em esperar a vez ou controlar impulsos.

Crianças com TDAH:

  • Padrões persistentes e intensos de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que se manifestam em diversas áreas da vida da criança, como na escola, em casa e em interações sociais;
  • Dificuldade em iniciar, manter o foco e concluir tarefas, mesmo as mais simples;
  • Comportamentos impulsivos frequentes, que podem gerar dificuldades em seguir regras e conviver com outras pessoas;
  • Agitação constante, com dificuldade em ficar quieta e relaxar, mesmo em momentos de descanso.

Acima de tudo, o diagnóstico de TDAH deve ser realizado por um profissional especializado, como um neuropsicólogo ou psiquiatra infantil, por meio de avaliação clínica e testes específicos.

Além disso, recomenda-se observar a frequência, intensidade e persistência dos comportamentos, além do impacto que eles causam na vida da criança.

É importante ressaltar também que nem toda criança agitada ou desatenta tem TDAH. É fundamental analisar o contexto em que os comportamentos se manifestam e descartar outras possíveis causas.

Qual é o papel do psicólogo no diagnóstico do TDAH em crianças?

Antes de tudo, os psicólogos desempenham um papel fundamental no diagnóstico do TDAH infantil, pois é através da avaliação comportamental, das entrevistas com pais e da observação da criança em diversos contextos, que conseguimos analisar a intensidade dos comportamentos, diferenciando TDAH de comportamentos típicos ou outros quadros.

O profissional psicólogo:

  • Avalia fatores emocionais e ambientais;
  • Realiza diagnóstico diferencial;
  • Identifica comorbidades;
  • Oferece orientações aos pais;
  • Pode encaminhar para outros profissionais para um tratamento multidisciplinar completo.

Da mesma forma, é crucial lembrar que nem toda criança agitada ou desatenta tem TDAH. O psicólogo é fundamental para diferenciar esses casos, analisando a intensidade, frequência e impacto dos comportamentos na vida da criança.

O tratamento do TDAH, geralmente, envolve uma equipe multidisciplinar, com a participação de diferentes profissionais.

O psicólogo atua como um elo entre a família, a escola e os demais profissionais, garantindo que o tratamento seja abrangente e aborde todas as necessidades da criança.

O que pode causar o TDAH e como fatores emocionais ou ambientais podem influenciar o comportamento da criança?

O TDAH é um transtorno complexo com causas multifatoriais, incluindo fatores genéticos, neurobiológicos, ambientais e emocionais.

Da mesma forma, fatores genéticos desempenham um papel importante, com estudos indicando forte componente hereditário e alterações genéticas em crianças com TDAH.

Nesse interím, sobre os fatores ambientais, podemos listar: o estresse familiar, as expectativas inadequadas dos pais, a rotina desestruturada e a falta de apoio emocional.

Outra condição que pode aumentar o risco de desenvolver o TDAH infantil é a exposição a substâncias nocivas, como o álcool, tabaco e as outras drogas durante a gravidez. No entanto, vale lembrar que se trata de um transtorno complexo sem causa única.

Quais abordagens terapêuticas são mais eficazes para crianças com TDAH?

Por se tratar de um transtorno complexo, o TDAH exige um tratamento combinando diferentes abordagens terapêuticas.

Uma delas é a terapia comportamental, com foco em reforço positivo, rotina estruturada e manejo comportamental, é fundamental para modificar comportamentos inadequados e desenvolver o autocontrole.

Uma segunda opção é o treino de habilidades sociais e o treinamento dos pais complementam a terapia comportamental, ensinando a criança a interagir socialmente e capacitando os pais a criar um ambiente estruturado em casa.

Outras abordagens, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), intervenções educacionais e terapia ocupacional, podem ser utilizadas para atender às necessidades específicas de cada criança.

A TCC, por sua vez, é útil para crianças mais velhas que precisam trabalhar padrões de pensamento disfuncionais, enquanto as intervenções educacionais garantem o apoio necessário no ambiente escolar.

A terapia ocupacional, por sua vez, auxilia no desenvolvimento da coordenação motora e habilidades de organização. Em alguns casos, a medicação pode ser utilizada como complemento do tratamento, sempre sob orientação médica.

A combinação de diferentes abordagens terapêuticas oferece as melhores chances de sucesso no tratamento do TDAH, permitindo que a criança desenvolva todo o seu potencial.

Uma menina branca de casaco azul-claro sentada ao lado de uma mulher de blusa bege mexendo em peças de um jogo em cima de uma mesa de madeira.
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Como o TDAH afeta o comportamento e as emoções da criança e como podemos lidar com isso no dia a dia?

O TDAH afeta profundamente o comportamento e as emoções da criança, impactando sua capacidade de concentração, organização e interação social.

Dessa forma, a dificuldade em manter o foco pode levar a problemas escolares, esquecimento de tarefas e dificuldades em seguir instruções, gerando frustração e baixa autoestima.

Nesse sentido, a criança com TDAH pode se sentir sobrecarregada devido suas dificuldades, o que pode desenvolver a ansiedade. A pressão para seguir regras e ter bom desempenho, especialmente no ambiente escolar, pode ser particularmente estressante.

No entanto, é possível minimizar os impactos negativos do TDAH no dia a dia da criança com estratégias adequadas:

  • A estruturação de uma rotina clara e consistente, com horários definidos, melhorando a organização e aumentando a previsibilidade diária;
  • Criação de um ambiente tranquilo;
  • Minimização das distrações durante as atividades, como televisão, celular ou jogos.

Além da rotina e do ambiente, a comunicação aberta e honesta com a criança sobre o TDAH, o reforço positivo e o apoio profissional são essenciais para o bem-estar e o desenvolvimento da criança com TDAH.

É possível que o TDAH seja confundido com outros transtornos emocionais ou psicológicos? Como o psicólogo pode fazer essa diferenciação?

O TDAH pode ser facilmente confundido com outros transtornos emocionais e psicológicos, pois alguns sintomas como impulsividade, dificuldade de controlar emoções e desatenção estão presentes em diversos quadros. Por isso, o diagnóstico diferencial realizado por um psicólogo qualificado é fundamental.

Transtorno de ansiedade: A criança com ansiedade é distraída e inquieta, O psicólogo avalia os sintomas emocionais, diferenciando-os da desatenção do TDAH.

Transtorno de depressão: O desinteresse e a desmotivação da criança deprimida podem ser confundidos com desatenção. A irritabilidade e a tristeza também são comuns na depressão e podem ser confundidos com impulsividade.

O psicólogo investiga o histórico de sintomas depressivos, como tristeza profunda e perda de interesse em atividades, diferenciando-os do TDAH.

Transtorno Desafiador Opositor (TDO): A impulsividade, a irritabilidade e a dificuldade em seguir regras são comuns ao TDO e ao TDAH. No entanto, no TDO há um componente maior de desrespeito e desafio à autoridade, com desobediência e comportamentos agressivos mais intensos do que no TDAH.

A princípio, o psicólogo analisa os padrões de comportamento, diferenciando a impulsividade do TDAH da intenção de desafiar e violar regras no TDO.

Como o psicólogo pode ajudar a diferenciar dos casos de Transtorno de Aprendizagem?

Transtorno de aprendizagem: A criança com transtorno de aprendizagem pode parecer desatenta por ter dificuldade em processar informações.

A avaliação neuropsicológica é crucial nesse caso, por exemplo, com testes específicos para avaliar habilidades cognitivas como leitura, raciocínio lógico e outras características.

Além disso, a observação do desempenho acadêmico da criança também auxilia na diferenciação, já que a criança com transtorno de aprendizagem apresentará maiores dificuldades nesse âmbito do que a criança com TDAH.

Quais são os métodos de avaliação utilizados?

O psicólogo utiliza diversos métodos para diferenciar o TDAH de outros transtornos:

  • Entrevistas clínicas: conversas detalhadas com pais, professores e pessoas próximas à criança.
  • Escalas de avaliação padronizadas: questionários que avaliam comportamentos e sintomas específicos.
  • Observação direta: análise do comportamento da criança em situações específicas.
  • Avaliação neuropsicológica: avaliação detalhada das habilidades cognitivas da criança, como memória, atenção e resolução de problemas.
  • Análise do histórico familiar e médico: investigação de possíveis eventos traumáticos, antecedentes familiares e outros contextos relevantes.

Finalmente, através de uma avaliação completa e detalhada, o psicólogo consegue diferenciar o TDAH de outros transtornos, garantindo um diagnóstico preciso e um plano de tratamento individualizado para a criança. 

Como posso ajudar a criança com TDAH a melhorar o foco e o autocontrole em casa e na escola com o auxílio profissional?

Com o apoio de um profissional, é possível implementar estratégias eficazes para melhorar o foco e o autocontrole do seu filho em casa e na escola.

Em casa:

  • Crie uma rotina estruturada e previsível, com horários definidos;
  • Utilize o reforço positivo, oferecendo recompensas e elogios quando a criança realizar as tarefas e apresentar comportamentos desejáveis;
  • Incentive a prática de atividades físicas regulares, como esportes ou brincadeiras ao ar livre.
  • Monte um ambiente livre de distrações, com o mínimo de estímulos visuais e sonoros.

Na escola:

  • Converse com os professores para tentarem a adaptação do ambiente escolar e das atividades, dividindo as tarefas em etapas menores e oferecendo intervalos regulares.
  • Incentive a criança a esperar a vez de falar e levantar a mão antes de responder em sala de aula, para praticar o autocontrole.

O papel do psicólogo:

  • Ajuda a criança a entender a importância da rotina e a encontrar formas de implementá-la de forma eficaz.
  • Orienta os pais e professores sobre como utilizar o reforço positivo de forma adequada.
  • Ensina técnicas de autocontrole, como jogos e brincadeiras que envolvem esperar a vez.
  • Utiliza a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para ajudar a criança a reconhecer e controlar seus impulsos.

Lembrando que o foco e o autocontrole são habilidades que se desenvolvem com o tempo e a prática. Com o apoio adequado, seu filho pode aprender a lidar com os desafios do TDAH e alcançar seu pleno potencial.

O TDAH pode influenciar a autoestima da criança? Como essa questão é trabalhada no tratamento?

O TDAH afeta a autoestima da criança devido às dificuldades em diversas áreas da vida, como escola, interações sociais e atividades cotidianas. Essas dificuldades podem levar a sentimentos de frustração, inadequação, falta de pertencimento e baixa autoconfiança.

Com isso, o apoio psicológico é fundamental para ajudar a criança a entender suas dificuldades, valorizar suas qualidades e desenvolver habilidades de enfrentamento. O profissional trabalha para melhorar as habilidades sociais da criança, ensinando-a a esperar sua vez, fazer amigos e lidar com conflitos de forma saudável.

Da mesma forma, o envolvimento dos pais no processo terapêutico é crucial. O psicólogo orienta os pais a utilizarem técnicas de reforço positivo e a criarem um ambiente compreensivo e acolhedor em casa.

Recomenda-se ainda que os pais evitem críticas excessivas e ofereçam feedbacks positivos, quando a criança se esforçar para melhorar, celebrando suas pequenas vitórias diárias.

O desempenho acadêmico pode ser uma grande fonte de estresse e impacto na autoestima da criança com TDAH, por exemplo. Nesse contexto, o psicólogo pode trabalhar em conjunto com a escola para garantir que a criança tenha o apoio necessário, como métodos de ensino adequados e estratégias para lidar com distrações e dificuldades.

O tratamento psicológico pode ajudar meu filho a lidar com o TDAH na vida adulta ou precisará de outros tipos de apoio com o passar do tempo?

O tratamento psicológico é fundamental para crianças com TDAH, auxiliando-as a desenvolver estratégias para lidar com os desafios do transtorno ao longo da vida, inclusive na fase adulta.

É possível que o TDAH persista na vida adulta, contudo com sintomas se manifestando de maneira diferente. Os adultos:

– Costumam ter dificuldade em organizar e planejar atividades do dia a dia, principalmente em determinar o que é prioridade;

– Estressam-se muito ao assumir diversos compromissos e não saber por qual começar.

– Deixam trabalhos incompletos ou interrompem o que estão fazendo e começam outra atividade, esquecendo-se de voltar ao que começaram anteriormente.

– Sentem grande dificuldade para realizar suas tarefas sozinhos e precisam ser lembrados pelos outros.

Qual a importância do acompanhamento psicológico na vida das pessoas com TDAH?

O acompanhamento psicológico contínuo é essencial para ajudar a pessoa com TDAH a desenvolver habilidades de enfrentamento e alcançar uma boa qualidade de vida. O psicólogo prepara a criança para enfrentar as demandas de cada fase da vida de forma eficaz, ensinando-a a lidar com a pressão e a frustração.

Nesse contexto, o apoio social e emocional, como grupos de apoio ou terapia de grupo, pode ajudar adultos com TDAH a compartilhar experiências e aprender com outros.

Por sua vez, o tratamento psicológico se adapta às necessidades de cada fase da vida. À medida que a criança cresce, as demandas mudam, e o psicólogo pode orientá-la a adaptar estratégias que funcionaram na infância para lidar com novos desafios na vida adulta, como organização no trabalho ou sobrecarga de estudos na faculdade.

Em resumo, o acompanhamento psicológico é fundamental em todas as fases da vida da pessoa com TDAH, mas o apoio das outras áreas também é importante para garantir o bem-estar e o desenvolvimento do indivíduo.

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Psicólogo

Osmael dos Santos

Psicólogo especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que atua em um Núcleo de Terapias Integradas de um hospital junto à equipe multidisciplinar composta por psicopedagogos, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e Aplicador ABA. @psico_osmael_santos

Mulher negra sorrindo com cabelos cacheados e blusa com detalhes branco e amarelo

Escrito por

Gabriela Sucupira

Redatora bilíngue, bacharel em Letras pela UFRJ e Especialista em Marketing pela USP/Esalq. Carioca, mãe da Rebeca e consultora textual para o Linkedin.

Artigo escrito por

Gabriela Sucupira

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