Projeto Vinil para Crianças: uma iniciativa a favor da arte

dISCOSLAGENS. Conheça o Projeto Vinil para Crianças criado pelo artista e DJ João Palavra!

 

Enquanto o mundo gira na velocidade das telas, o artista João Palavra resolveu girar um outro disco: o da pausa, da escuta e do gesto a partir do vinil.

O que começou como um momento espontâneo durante um DJ set, transformou-se em projeto educativo e artístico único. Crianças, hipnotizadas pelas “duas bolachas rodando”, olhavam o gira-discos com curiosidade, como quem assiste a um truque de mágica. 

A partir disso, aquele encantamento simples despertou uma ideia: e se o som pudesse também ser desenhado?

Assim nasceu Projeto Vinil para Crianças, dISCOSLAGENS, uma oficina que convida crianças e jovens (e também adultos) a conhecer o vinil não só como objeto musical, mas também como experiência de sentidos. 

Na oficina João apresenta o disco, suas cores, suas capas e o mecanismo que o faz tocar, para depois deixar que a música conduza o corpo. 

Com papel e lápis, cada participante traduz o que ouve em traços, riscos e movimentos. Não há lição nem moldes. Há, acima de tudo, escuta, curiosidade e experimentação. O vinil serve de ponto de partida para que, por meio da arte, se redescubra algo que a infância faz naturalmente: criar sem pedir permissão.

Projeto Vinil para Crianças: uma iniciativa concebida pelo artista João Palavra

Qual é o objetivo principal do Projeto Vinil para Crianças?

O objetivo principal, de dISCOSLAGENS – a oficina, é apresentar o formato vinil e todo o seu mecanismo fascinante aos mais novos. Além disso, o projeto busca despertar a curiosidade e o senso artístico dos participantes.

Aqui, eu falo das especificidades do disco vinil: o formato, os vários tamanhos, as diferentes cores e capas (que são belas obras de arte), bem como o mecanismo que o faz girar. Explico, portanto, como funciona o gira-discos e o seu processo para fazer tocar os discos.

Como surgiu a ideia de envolver crianças com vinis e música?

Tudo começou quando, em alguns DJ sets meus, em vinil, havia crianças na linha da frente maravilhadas com o que estavam vendo: duas bolachas de disco girando. 

Todo o mecanismo, as formas, as cores, a rotação, o movimento de pousar a agulha, a delicadeza com que fazia todo este processo, despertava atenção e curiosidade. Por isso, como muitos não sabiam o que era aquilo, fez muito sentido criar esta oficina.

desenho rabiscado em azul em formato de disco de vinil, com um bilhete escrito "discolagens oficina"
Projeto de que une arte e aprendizado em um só local

Que tipo de experiência sensorial o Projeto Vinil para Crianças oferece para os pequenos?

O que pretendo é criar uma experiência que seja libertadora, apenas com orientações e provocações. Digo logo no início que não sou um professor de desenho e que não estou ali para avaliar, mas sim para partilhar a minha experiência e paixão pela música e pelos discos — e, claro, divertir-me com eles.

Eles são livres de fazerem, ou melhor, purgarem criativamente, da forma que quiserem e estiverem a sentir ali, no momento. A música, a escuta atenta, provoca sensações diferentes em cada um/a, e isso reflete automaticamente no resultado final. 

Enquanto isso, ouvimos jazz, música eletrônica e até música mais experimental — aquela que mexe e remexe com os nossos sentidos.

Quais valores artísticos e educativos esse projeto educativo e artístico pretende transmitir?

Como eu trabalho desde muito novo com crianças e jovens, gosto de lançar a elas desafios e de encorajar a pensarem e fazerem, sem receios. Afinal, para mim, não vale o “não sei” ou o “não consigo”. Todos nós temos um lado criativo, e é importante estimulá-lo todos os dias.

Respeito sempre a vontade de cada um, mas tem acontecido de encontrar aqueles que, num primeiro momento, não querem participar. Contudo, percebo que passado uns minutos, já é possível ver que estão completamente envolvidos na atividade.

O parar, o focar, o fazer sem temer, o contemplar, o partilhar… há tanto a fazer com estes grupos que faria esta oficina todos os dias.

diversas crianças aparecem em cima de painel branco com desenhos feito a mão
Crianças se divertem durante o projeto dISCOSLAGENS

Que mensagem gostaria de deixar a quem participa ou ainda vai participar da oficina?

Defendo que devemos alimentar sempre a nossa imaginação porque uma parte de nós “morre” quando deixamos de imaginar. Eu acredito piedosamente nisso.

Tenho muito a agradecer às pessoas e espaços que, até ao momento, abriram as suas portas para receberem a minha oficina dISCOSLAGENS. A eles/as, o meu muito obrigado!

Por fim, espero poder continuar a levar esse
projeto educativo e artístico incrível a novos públicos.

duas crianças, uma vestida de camiseta branca e outra de blusa vermelha, aparecem de costas olhando para instrumento musical e vinil
projeto educativo e artístico para desenvolvimento infantil

Um projeto único e harmonioso entre som e gesto

João Palavra não conduz uma aula de música, mas sim um encontro entre som e gesto. O vinil funciona como ponto de partida, e o desenho é a resposta espontânea ao som que se ouve. 

Não há a busca pelo “bonito” ou pelo “correto” na experiência. Apenas o prazer genuíno de fazer, de experimentar e de permitir que o som vire forma.

O Projeto Vinil para Crianças segue crescendo graças ao trabalho inspirador do artista João Palavra. Com cada oficina, ele reafirma a força de uma ideia que inicialmente parecia pequena, mas que na verdade é capaz de grandes transformações e impactos:

Talvez a sensibilidade da arte comece e se renove quando alguém, com atenção e curiosidade, decide ouvir o som de um disco girando.

 

Acompanhe as novidades do Projeto Vinil para Crianças na página oficial: dISCOSLAGENS

 

 

Quer conferir todas as dicas sobre as crianças e o uso da internet? Acesse aqui.

 

Artista

João Palavra

O meu propósito é ajudar crianças e jovens a se desenvolverem através da arte, dando a conhecer, artisticamente, o vinil. Página no Facebook

Logo do mybabycare, passarinho saindo do ninho.

Escrito pela equipe

My Baby Care

O Mybabycare é um portal, um espaço seguro para trocar experiências com pais, futuros pais e especialistas. Aqui, ninguém caminha sozinho.

Da escuta à autonomia: reflexões sobre Reggio Emília

A educação infantil está em constante transformação, mas alguns princípios permanecem atemporais: respeito, escuta e valorização da criança. A abordagem Reggio Emília, nascida na Itália após a Segunda Guerra, tornou-se referência mundial ao propor um olhar mais humano e criativo para a infância.

Mais do que um método, trata-se de uma filosofia que reconhece a criança como protagonista de seu aprendizado, capaz de explorar, criar e construir significados em diálogo com o ambiente e com a comunidade.

Nesta entrevista, conversamos com Daniela Vieira, Pedagoga com especialização em psicopedagogia e pós-granduanda na abordagem pikler e Reggio Emília.

Daniela traz seus conhecimento e dicas práticas para pais e educadores sobre como os Alinhamentos Escolares e Tendências na perspectiva Reggio Emília podem inspirar escolas, educadores e famílias na construção de experiências mais ricas e transformadoras.

Introdução: conhecendo a abordagem Reggio Emília

O que é a perspectiva Reggio Emília e por que ela tem se tornado uma referência mundial em educação infantil?

A perspectiva Reggio Emilia é uma abordagem pedagógica que busca uma educação mais igualitária, inovadora e com centralidade na criança. Seu foco é atender ativamente às necessidades dos pequenos, promovendo um aprendizado humanizado e de qualidade nos primeiros anos de vida.

Entre suas principais características estão:

  • O respeito à integridade da criança,
  • A valorização do vínculo afetivo, da escuta, da fala e do acolhimento,
  • O estímulo à autonomia e ao protagonismo infantil.

Essa metodologia incentiva que a criança explore, investigue e construa conhecimento a partir de seus próprios interesses, promovendo experiências significativas e inovadoras.

Dessa maneira, ela tem se tornado uma referência mundial em educação infantil justamente por colocar a criança no centro do processo de aprendizagem, reconhecendo seu potencial e promovendo um ambiente de descobertas, criatividade e participação ativa.

Como você chegou a se especializar nesse campo e o que mais te inspira na prática dessa abordagem?

Durante minha trajetória como professora de educação infantil, presenciei e vivi diversas formas de ensino e aplicação da aprendizagem. No entanto, buscava métodos que realmente respeitassem a criança como um ser único.

Vale destacar que meu encanto pela abordagem Reggio Emilia surgiu devido sua perspectiva de enxergar a criança como um ser potente e capaz de construir conhecimento por meio da interação com o outro e com o meio que a cerca.

Com isso, busquei aprofundar meus conhecimentos por meio da pós-graduação e dos estudos oferecidos no meu trabalho, em que estudamos sobre o tema 2 horas por dia, baseados nos materiais propostos pela Prefeitura de São Paulo.

Assim, trabalhando na Prefeitura, percebo que essa abordagem está muito presente nos documentos que nos norteiam, proporcionando momentos de estudo e prática que integram as metodologias Reggio Emilia.

Portanto, cada experiência com a criança se tornou, para mim, uma verdadeira experiência de pesquisa, aprendizado e descoberta.

Capas dos livros “As cem linguagens da criança” e “As cem linguagens em mini-histórias”, referências da abordagem Reggio Emília na educação infantil, com fundo verde claro.
Livros da abordagem Reggio Emília

 

 

Criança como Protagonista

O que significa, na prática, considerar a criança como protagonista do processo de aprendizagem?

Na prática, considerar a criança como protagonista do processo de aprendizagem significa reconhecê-la como sujeito ativo, capaz de construir conhecimentos a partir de suas experiências, curiosidades e interações.

Isso envolve respeitar seus aspectos individuais, interesses culturais e cotidianos, tendo o educador como mediador desse processo. Cabe ao professor criar territórios e ambientes que favoreçam a investigação, a exploração e a aprendizagem significativa, sempre partindo do interesse da criança.

Como os educadores podem estimular a autonomia e a curiosidade sem perder de vista a importância do cuidado e da orientação?

O cuidado e a orientação são fundamentais, principalmente quando a criança faz uma escolha que pode gerar algum desconforto. Por exemplo: em um dia frio, a criança opta por usar uma roupa leve.

Nesse caso, o educador não deve simplesmente impor outra opção, mas mediar a situação por meio de questionamentos, ajudando-a a perceber as consequências de sua escolha.

Dessa forma, a criança é orientada a refletir, diferenciando suas escolhas de acordo com o contexto. Assim, mantém sua autonomia preservada, exercita a curiosidade e aprende a resolver situações do cotidiano de maneira consciente e significativa.

Ambientes Criativos

Na visão Reggio Emília, o espaço também é educador. Quais características um ambiente criativo deve ter para favorecer a aprendizagem?

Um ambiente criativo deve oferecer variações que estimulem a exploração e favoreçam a aprendizagem, um ambiente, além de acolhedor explorador e de descobertas. Na minha sala de aula, por exemplo, entre os variados cantos de exploração, temos em especial uma montada com elementos da natureza recolhidos pelo jardim da escola onde formamos em sala em contexto de investigação e descoberta.

Sala de educação infantil inspirada na abordagem Reggio Emília, com móveis de madeira clara, materiais naturais organizados em cestos e plantas, criando um ambiente acolhedor, estético e exploratório.
Sala inspirada na abordagem Reggio Emilia

 

 

Junto a esse material, disponibilizo lupas para maior observação, materiais de arte como tintas e lápis de colorir, onde o manuseio, a interação e forma de criação partam da descoberta de cada criança, considerando o que é significativo para cada uma.

É importante que os materiais e recursos estejam dispostos na altura certa, permitindo o acesso com autonomia.

Além disso, o espaço precisa ser investigativo, acolhedor e seguro, despertando a curiosidade, incentivando a interação e possibilitando diferentes formas de expressão. Dessa maneira, o ambiente se torna um verdadeiro educador, promovendo experiências ricas e significativas.

Saiba mais sobre essa abordagem na Parte II desta entrevista.

 

Mulher negra sentada em uma cadeira, sorrindo, vestindo blazer preto e camisa social branca, com cabelo preso e óculos de grau, em frente a uma parede clara.

Pedagoga especialista em Psicopedagogia

Daniela Vieira

Pedagoga com especialização em psicopedagogia institucional e clínica, pós-graduanda do MBA em Gestão escolar pela Universidade de São Paulo (USP).

Mulher e criança negras sorrindo para uma selfie, ambas com cabelos trançados, sentadas lado a lado.

Escrito por

Gabriela Sucupira

Redatora bilíngue Especialista em Marketing pela USP/Esalq e bacharel em Letras pela UFRJ. Mãe da Rebeca, natural do Rio de Janeiro, Gabriela possui 15 anos de experiência como Consultora Textual e atua há 4 anos como Personal Branding para o Linkedin.

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