Ilustração infantil: o trabalho inspirador de Rita Correia

Através da ilustração infantil, a artista Rita Correia transforma sentimentos, memórias e sonhos em histórias que despertam a imaginação.

 

A ilustração infantil tem o poder de abrir janelas para universos cheios de cor, imaginação e descobertas.

É nesse território entre arte e infância que se encontra Rita Correia, ilustradora e autora que cresceu cercada por lápis, papéis e histórias. Hoje, ela transforma palavras em imagens que encantam, acolhem e despertam a curiosidade dos pequenos leitores.

Nesta conversa, Rita fala sobre suas fontes de inspiração, os desafios de ilustrar livros infantis em tempos digitais, a parceria com escritores e como a maternidade passou a refletir no olhar artístico e na maneira como compreende o mundo ao seu redor.

O universo da ilustração de livros infantis por Rita Correia

Rita, como começou a sua paixão pela ilustração de livros infantis?

Nasci em 1977, e quando comecei a interessar-me pelo desenho — ainda muito pequena — a ilustração infantil nem sequer era vista como uma profissão em Portugal. 

Ainda assim, sempre gostei de desenhar desde muito nova e apenas segui o instinto que sempre me manteve próxima das artes.

Qual é o papel da ilustração infantil no estímulo da imaginação das crianças?

Hoje, felizmente, a ilustração de livros infantis já evoluiu para além de ser apenas “suporte” de um texto. 

Presentemente, ela não só faz isso, como também acrescenta valor à obra e, muitas vezes, conta histórias paralelas. Quando deixou de ser meramente ilustrativa e passou a explorar novas formas de expressão, criou muito mais espaço para a imaginação e a criatividade.

arte em tubo com desenhos em vermelho imitando uma criança, uma árvore e um coração
Tubo atividade livro Ilumina, por Rita

Que técnicas prefere usar na criação das suas ilustrações infantis?

Gosto de trabalhar de forma manual, com lápis, tintas e colagens. Esse é o ponto de partida do meu processo e continua a ser o que mais prazer me dá. 

Ao longo dos anos, e com a revolução digital, foi impossível não incorporar novas ferramentas, que são práticas e convenientes. Mas, mesmo que quase todas as minhas ilustrações sejam finalizadas digitalmente, hoje ainda faço questão de preservar nelas o toque artesanal, o traço vivo e imperfeito que vem do trabalho feito à mão.

Como é o processo de colaboração entre ilustrador e escritor num livro infantil?

Sempre que existe a oportunidade de ter contacto direto com o escritor — e quando esse autor compreende e confia no nosso trabalho — o processo torna-se muito mais leve e prazeroso. 

No meu caso específico, costumo apresentar uma ou duas propostas do que imagino para determinadas páginas, além de uma visão geral sobre como penso a relação entre texto e ilustração naquele livro. A partir daí, o diálogo flui melhor, e consigo alinhar o meu estilo à mensagem que o autor deseja transmitir.

Na sua opinião, o que torna uma ilustração infantil memorável para uma criança?

Não é uma pergunta fácil, pois acho que depende muito do contexto de vida dessa criança. Eu, que cresci nos anos 80, lembro-me do fascínio que sentia com os desenhos e pinturas impecavelmente apresentados. Estava sempre à procura de pormenores escondidos — um cão desenhado ao fundo, uma bola de sabão que mais ninguém via. 

Hoje, essa curiosidade é o que tento trazer para os livros que ilustro: jogos visuais e detalhes secretos que só um olhar atento descobre.  Acredito que uma ilustração infantil torna-se memorável quando toca algo que a criança vive ou sente naquele momento. Vinte crianças podem ver a mesma imagem, mas ela será especial apenas para uma — e é aí que a magia acontece.

imagem de livro preto com ilustração colorida em laranja, branco e amarelo
Um dos belíssimos trabalhados de Rita Correia

Quais são os maiores desafios atuais para os ilustradores de livros infantis?

Lidar com o avanço da Inteligência Artificial é um dos nossos grandes desafios. Afinal, por mais que hoje se possam criar imagens inteiras a partir de comandos, nunca será possível reproduzir a intensidade de uma ilustração feita à mão, no instante exato da criação. 

Mas, talvez o maior desafio seja manter viva a inocência e o deslumbramento natural das crianças, que estão cada vez mais expostas a conteúdos que reduzem o espaço para a imaginação, a criatividade e a empatia. Ilustrar, tendo em conta essa nova realidade, é um exercício contínuo de resistência poética.

De que forma a ilustração infantil pode apoiar a educação e a inclusão?

Quando as crianças ainda não aprenderam a ler, as imagens são as suas primeiras leituras. Mesmo uma criança cega percebe o mundo através do toque — dos rostos, objetos, natureza e até ilustrações em relevo. 

A ilustração infantil une linguagens e aproxima adultos e crianças num espaço de compreensão mútua. Na educação, essa linguagem é essencial e, no campo da inclusão, torna-se ainda mais poderosa.

desenho em aquarela, onde uma menina e uma rosa aparecem em cima do mundo. A palavra "hope" está em destaque
Ilustração “HOPE” por Rita

Como as editoras e os autores podem valorizar mais o trabalho do ilustrador?

Que mundo triste e cinzento teríamos sem as artes e os artistas, não?! 

No entanto, a valorização do trabalho artístico só é possível quando quem contrata entende as muitas horas de estudo e anos de prática que existem por trás de uma ilustração. Mas também quando o próprio artista aprende sobre o seu valor a valorizar-se. Não podemos esperar reconhecimento se somos os primeiros a desvalorizar o que fazemos.

Que conselhos daria a jovens artistas que querem seguir esta carreira?

A minha filha entrou agora na Faculdade para um curso artístico de desenho. Sempre vi nela o que vivi na pele: uma compulsão desmedida por tudo o que envolve as artes. Quem seria eu, como mãe e ilustradora, se não a incentivasse a seguir a sua paixão? O caminho nunca é fácil, mas é ainda mais difícil viver sem propósito.

Por isso, aconselho que avancem — às vezes com a maré, outras vezes contra. O importante é compreender que nunca sabemos tudo e que sempre há espaço para aprender. Nos dias de hoje, nunca foi tão importante ter uma sólida base manual, porque a base digital dos jovens está muito avançada. A diferença estará, acredito, na humanização do trabalho artístico.

Qual é o impacto pessoal e profissional de ver as suas ilustrações nas mãos das crianças?

Indescritível. Mais do que ver as minhas ilustrações nas mãos delas, é vê-las desenhar inspiradas pelos meus livros. Ter feito obras escritas e ilustradas por mim abriu portas para sessões em escolas, onde o contacto direto com as crianças me incentiva a continuar. 

Ver seus rostos iluminarem-se quando descobrem um segredo escondido ou quando cantamos juntos uma música é impagável. Só depois de me lançar como autora independente percebi que estava finalmente no trilho certo. Enquanto o sentir, continuarei.

 

grupo de alunos vestindo uniforme azul se reúnem ao redor de imagens postas no chão
Momento em que as crianças admiram as ilustrações

Para terminar, de que forma a maternidade impactou a visão de mundo e o processo criativo?

Curiosamente, foi depois do nascimento do meu segundo filho, quando quase desisti da vida artística, que tudo mudou. 

Durante uma longa sessão de amamentação surgiu a ideia do meu primeiro livro, escrito e ilustrado por mim, que me levou a abraçar a edição independente. A maternidade ampliou o meu olhar — ver os meus filhos crescer, visitar escolas, contactar com outras crianças e realidades diferentes fez florescer a minha criatividade.

O meu quarto livro, O Presente com a Maior Fita do Mundo, é sobre como estamos todos conectados, sobre comunidade e sobre o nosso planeta como casa comum. Um livro que só me foi possível criar depois deste caminho de aprendizagem, sobre mim, sobre o outro e sobre o mundo que habitamos.

Encerrando o olhar sensível de Rita Correia

O olhar sensível de Rita Correia sobre o universo da arte, maternidade e imaginação mostra que a ilustração infantil vai muito além do tradicional desenho bonito. É uma forma de linguagem, é ponte, é afeto… É um trabalho que ajuda a dar vida às histórias e a criar memórias inesquecíveis para os pequenos leitores.

Para acompanhar o trabalho desta ilustríssima artista, siga o perfil de Rita no instagram @ritacorreia_ilustradora ou na sua página oficial no Facebook. 

E para ler mais conteúdos como esse sobre o universo da arte e da maternidade, acesse nosso portal …

 

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Ilustradora

Rita Correia

Nascida em 1977, seu amor pela arte começou desde pequena, quando a ilustração infantil não tinha o estatuto de profissão em Portugal. Acompanhe no Instagram

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Maternidade e arte: o olhar sensível da artista Eva Couteiro

Eva Couteiro, artista contemporânea, compartilha suas reflexões sobre maternidade e arte em um relato inspirador, sensível e íntimo.

 

Ser mãe é uma das experiências mais intensas e transformadoras que uma mulher pode viver. E para quem cria, ela se torna também uma fonte inesgotável de inspiração. Entre pausas, descobertas e recomeços, maternidade e processo criativo se cruzam de formas únicas, revelando novas camadas de sensibilidade.

Para a artista Eva Couteiro, a chegada da filha não apenas redesenhou a sua rotina, mas também a sua forma de olhar o mundo e criar. Em suas palavras, a maternidade não foi um freio — foi um novo começo. “Em primeiro lugar, ser mãe é ter todas as certezas rasgadas. Nada é previsível. O tempo ganha outra dimensão e a forma de existir também”, ela conta.

Nesta entrevista, Eva compartilha a experiência de conciliar maternidade e arte, mostrando que ambos os conceitos se misturam em um mesmo movimento de criação, cuidado e transformação.

Entre maternidade e arte: bastidores da criação de Eva Couteiro

A maternidade costuma transformar não só a rotina, mas também o olhar criativo. Como esse encontro entre mãe e arte mudou sua forma de criar?

Em primeiro lugar, ser mãe é ter todas as certezas rasgadas — é um reset quase total da pessoa e da artista que julgamos ser. Para mim, foi assim…

Ver-me com um bebê nos braços foi tão encantador e deslumbrante quanto desafiador. Estava totalmente focada no ser pequenino que tinha aos meus cuidados, e a vida, os planos e as vontades que tinha na gravidez ficaram em stand by por tempo indefinido.

Tudo muda. Os ideais se aguçaram, a vontade de mudar o mundo — pelo menos as partes que consigo tocar com as pontas dos dedos —, a vontade de ouvir, ler e conhecer mais mulheres e mães, de me reconhecer enquanto mulher-mãe e mãe-artista, a visão política e, claro, a visão artística mudaram. 

Nos primeiros anos, o impacto da maternidade foi como a queda de um meteorito em cima de mim e, embora as ideias não tenham desaparecido, minha força anímica para colocá-las em prática era muito pouca. Escrevi, desenhei e anotei ideias — foi, sobretudo, isso.

Minha prática cerâmica parou por um período breve, mas retomei assim que nos mudamos do Porto para Ovar. Devagar, sempre devagar, até porque fui mãe em tempo integral durante três anos e meio. Com apoio limitado, só após a filha entrar na pré-escola pude retomar, com mais foco e constância, minha dedicação à prática artística.

A parte do meu processo de trabalho que não se alterou e que se mantém é: quanto mais faço, mais ideias surgem e mais quero fazer. Mas é inegável que a desaceleração que a maternidade trouxe, me abriu os olhos para detalhes que antes me passavam despercebidos. Há poesia em quase tudo, se soubermos olhar com atenção — a maternidade aguçou meu olhar.

 

mulher de blusa azul e vestindo uma cabeça de galinha aparece segurando duas esculturas
Na exposição “vou ao fim do início” vestindo a pele de Mãe-galinha com os “choradores que regam a coisa certa” nas mãos

Quais temas ou emoções ligados à maternidade e arte aparecem com mais frequência em suas obras?

Depois de ser mãe, já não dá para ver o mundo sem o ser e, atualmente, minha prática artística foca-se em questionamentos que me surgem desde então.

Vieram medos, culpa e o abandono de quem fui, de quem foi minha mãe, da filha que sou. Inclusive, da mãe que idealizei ser. Surgiram algumas peças em um tom mais pesado e deprimido que não me interessava tanto, porque não me via nele. 

E, como sempre me interessaram muito os trocadilhos, os ditados e as lengalengas, e porque faz sentido provocar e questionar sem necessariamente ferir, gosto de poder utilizar uma linguagem mais ou menos bruta e escancarada, com humor, mas sempre com alguma delicadeza e poesia — foi assim que surgiram as mães-bicho.

Começaram por ser mães-galinhas, a partir da expressão “mãe-galinha”, tantas vezes usada para me descrever no meu estilo de maternar. Peguei esse conceito em tom de provocação e fiz essas representações híbridas de mulheres desnudas, que ora estão grávidas, ora são mães que amamentam e acolhem nos braços/asas seus filhos, com atributos de galinha. 

E continuei, passando pelas mães-lobas, mães-corujas e mães-ursas, até chegar às mães-diabo — aqui já com o intuito de abordar a ideia da mãe como um ser humano com falhas, que erra, que deseja e que é mais do que a santa que querem impor que seja.

De que forma ser mãe influencia suas escolhas de cores, formas e materiais?

Ser mãe me deu novas lentes. Observar de perto um ser humano descobrindo o mundo pela primeira vez trouxe nova perspectiva. Pensei muitas vezes que as coisas que levamos anos para desconstruir quando buscamos nossa linguagem artística, as crianças já trazem nelas — a pureza com que veem e representam o que veem, o olhar verdadeiramente curioso… Para mim, isso não é apenas comovente, mas extremamente inspirador.

Aprendi e aprendo muito ao observar minha filha. Desenhamos muito juntas, e isso influencia diretamente meu trabalho e a forma como transponho formas e ideias para minhas peças. 

Começando pelas constantes chamadas de atenção para detalhes que já me interessavam, mas que agora, pela desaceleração que a maternidade impõe, tornaram-se mais presentes e impossíveis de ignorar — os recortes que a copa das árvores desenha no céu, um bando de pássaros levantando voo, um pássaro camuflado entre as folhas secas do outono, uma luz bonita ao fim do dia, uma flor nascida na beira da calçada, os quilos de folhas secas, pedras e gravetos que ela traz nos bolsos e me dá para levar também… São coisas corriqueiras, mas são chamadas de atenção importantes.

Na escolha da cor de um objeto, as cores da natureza são um bom guia, porque são todas e me servem, ou sirvo-me delas conforme me sinto, conforme vou sendo. Vermelho é uma cor que adoro e associo à mãe que sou: é parto, é vida, é calor, é colo, é chama, é grito, é conforto e confronto, é mãe e arte. Rosa é outra cor que utilizo e adoro mais agora, com olhos de mãe: é filha do vermelho, é minha filha, é amor, é conforto, é carinho, é partilha, é a vida acontecendo. São duas cores que uso muito e que estão sempre presentes, mas todas as cores cumprem seu propósito.

Também é verdade — e há que dizer — que nem sempre uma peça termina exatamente como foi pensada, não só porque no processo as coisas mudam e evoluem, mas porque a imprevisibilidade ao longo da criação de uma peça é real, sobretudo na cerâmica, onde é preciso saber dançar com o tempo. A essa dança soma-se a imprevisibilidade de criar filhos — é inevitável haver interrupções aqui e ali.

mulher branca vestida com camiseta branca e listras vermelhas aparece de frente mexendo em escultura
mãe artista aparece dando vida a uma de suas artes

A maternidade trouxe novas inspirações ou abordagens para o seu trabalho artístico?

É inevitável ser influenciada pela chegada dos filhos, tanto pela logística e pelas mudanças que eles trazem, quanto porque nos abrem os olhos para temas que antes não pensávamos tão a fundo — ou sequer pensávamos. Antes de ser mãe, o cavalo era um animal sobre o qual eu não refletia muito e que, acredito, não teria representado se minha filha não tivesse tanto fascínio por ele, pedindo-me tantas e tantas vezes para desenhá-lo com ela e para ela.

Quando decidi, por exemplo, fazer mini-jarras, fiz elas por causa dos tais gravetos, flores secas e penas que minha filha recolhe nos nossos trajetos casa-escola e escola-casa e nos passeios. As mini-jarras são pequenos suportes criados para abrigar plantas e galhos — lembranças que quase todo filho traz dos passeios. Fiz porque sou mãe e, se não fosse, provavelmente não me lembraria de fazer.

Como a maternidade alterou sua rotina criativa e organização do tempo?

Nem sempre a rotina de um bebê ou de uma criança pequena é compatível com a criação de peças artísticas — são dois tipos muito diferentes de criar. Ambos exigem muita atenção, tempo e dedicação e, não havendo uma rede de apoio ampla, o desafio aumenta. Às vezes os planos não se concretizam, e sacrificam-se horas de sono em vez do tempo com a filha ou com o trabalho. Não é o cenário ideal, mas é o possível.

Felizmente, os filhos crescem, nós também e, com a prática, o trabalho flui com mais leveza. Assim, ajustes vão sendo feitos e começa a ser mais fácil não só gerir o tempo, como incluir a criança no ateliê. O que, na verdade, com mais ou menos dificuldade, sempre aconteceu. E aconteceu também porque o ateliê fica em casa, o que facilita essa logística.

Há momentos do dia ou situações com os filhos que inspiram diretamente suas obras e reforçam o vínculo entre maternidade e arte?

Aconteceu — e acontece muitas vezes — sair diretamente do quarto, depois de deitar a criança, responder a questionamentos existenciais dela, ler uma história, e ir para o ateliê. Da cama para o barro, do barro para o banho e do banho para a cama outra vez. Esse movimento influencia a criação, porque levo comigo ideias dessas conversas com ela.

Há uma peça minha de que gosto muito porque começou com minha filha. Eu pensava sobre a ideia da mãe como casa, abrigo, refúgio e meio de transporte — seja pela barriga, seja pelo colo —, e, nessa época, minha filha desenhou uma mãe-pássaro com filhotes na barriga, em pleno voo e com sementes no bico. Redesenhei e transpus para grés branco uma peça de parede: Nave-Mãe.

Em junho deste ano, no Dia das Crianças, inaugurei com amigos artistas a exposição “Vou ao Fim do Início”, que nasceu da necessidade que sentia de frequentar espaços expositivos acompanhada da minha bebê/criança. 

Isso me levou a contatá-los com o objetivo de pôr em prática a ideia de fazer coexistir arte e infância em um mesmo espaço expositivo, com peças que pudessem ser tocadas e vistas por todos os visitantes — dos mais pequenos aos adultos. E que depois foi repensada e desenvolvida por todos, culminando em uma residência artística e em uma exposição cujo título é uma frase dita pela minha filha.

 

 

escultura de uma mãe-coruja grávida segurando dois filhotes
Mãe-coruja grávida com dois filhotes

Como você equilibra a maternidade e arte na sua rotina? Isso impacta seu processo criativo?

Nem sempre há equilíbrio entre maternidade e arte, mas, no meu caso, as duas se complementam. Eu era artista quando me tornei mãe, e agora sou mãe, e toda a minha prática está intimamente ligada a esse fato. 

Não dá para desligar uma da outra, mas, por razões óbvias — e embora eu acredite que as crianças devam ser incluídas na sociedade —, a verdade é que elas são motores de desaceleração. Com elas vivemos o presente, vemos de perto e, assim sendo, faz sentido adiantar o máximo de tarefas relacionadas ao trabalho durante os períodos em que ela está na escola. 

Também é preciso aceitar que, se tiver de trabalhar com a criança por perto — muitas vezes ao meu lado —, vou trabalhar mais devagar, e que tudo isso faz parte do processo. Às vezes vou falhar, e é importante aprender a falhar melhor, mas, sobretudo, aprender a lidar com a frustração que às vezes me inunda e tentar outras formas: adaptar horários, alterar peças, repensar tudo.

De que forma a maternidade e arte influencia a conexão com o público e a transmissão de emoções em sua arte?

Repensar tudo me faz ter coisas a dizer, porque me dá perspectiva sobre temas que, do lugar de mãe, passaram a fazer sentido e que antes eu não percebia com a mesma amplitude. Tenho coisas a dizer — e quem acompanha meu trabalho se aproxima da minha realidade e da linguagem que uso para expressá-la.

Se antes quem acompanhava meu trabalho eram, sobretudo, amigos, conhecidos e ex-colegas de curso, agora juntam-se a esse grupo mães, pais e educadores — pessoas que vivem com crianças e se identificam com esse olhar materno sobre o mundo e com a revolução que é ser mãe.

Existem obras que podem ser consideradas diretamente inspiradas pela maternidade?

Eu diria que a ideia de revolução domina minha prática e, a partir dela, vou construindo e desconstruindo com base nessa noção de mutação, metamorfose e adaptação. Por isso, tudo o que faço está ligado à versão de mim que é mãe e que se somou à Eva que eu era. 

Voltando à exposição “Vou ao Fim do Início”, que surgiu do desejo de ver concretizada uma mostra realmente inclusiva, dos 0 aos 80, porque, quando se excluem os bebês e as crianças, excluem-se também seus pais — sobretudo suas mães. 

Foi movida pelas lentes que a maternidade me deu, que desafiei o grupo de artistas que depois pensaram e realizaram comigo o projeto expositivo — Joana BC e Inês Soares, que formam comigo o núcleo duro do coletivo informal que criamos e com quem minha noção de comunidade se reforçou. Além da Sara Carneiro, do Mário Antunes e do Luís Santos, que contribuíram com ideias e peças. A todos eles agradeço pelas aprendizagens ao longo do processo.

 

escultura de mãe-bicho segurando filhote em processo
Detalhe de uma mãe-bicho em processo

 

Que conselhos você daria a outras artistas mães para manter a criatividade enquanto cuidam da família?

Os processos criativos e as experiências de maternidade e arte variam tanto de uma pessoa para outra que é difícil dar um conselho realmente bom. Diria que é importante entender e aceitar que nem sempre vamos manter a criatividade e que, como antes da maternidade, ela terá oscilações — e é importante aceitá-las.

Numa perspectiva mais prática, diria para anotarem as ideias que surgirem, não se isolarem, buscarem uma comunidade, deixarem-se inspirar por outras pessoas, ouvirem música, lerem livros e tentarem encontrar pequenas brechas na rotina para dedicarem tempo à sua prática artística. 

Observação: esse conselho parte do pressuposto de que existe um(a) companheiro(a), uma rede de apoio e, portanto, algum tempo disponível. Mas acredito que é um caminho que se faz caminhando — e não há receitas.

Mãe e arte: criatividade guiada pelo amor e pelo olhar materno

Ser mãe transforma cada olhar, gesto e escolha. Para Eva, a maternidade e arte caminham lado a lado, alimentando sua sensibilidade e sua criação. Cada peça revela como a maternidade e processo criativo se entrelaçam, mostrando que ser mãe é, também, aprender a criar com presença e delicadeza.

No fim, mãe e arte se inspiram mutuamente: cada momento com os filhos se torna fonte de ideias e cada obra carrega um pouco desse olhar transformado pela experiência de ser mãe.

 

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Artista cerâmica

Eva Couteiro

Artista que trabalha com cerâmica através de processos de modelação. Foi licenciada em Artes Plásticas – Escultura pela FBAUP (2016) .  Siga os perfis @evaccouteiro e @vitorina.eva

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Viagem com propósito social adolescente: lições para a vida

Pedro, filho de Naiana Leite Muniz, descobriu em uma viagem com propósito social adolescente ensinamentos que levará para a vida toda!

Quando pensamos em viagens em família, muitas vezes imaginamos passeios tradicionais ou roteiros turísticos. Mas para Pedro, um jovem de 16 anos, a jornada ao Quênia com a mãe foi muito mais do que isso. Foi uma viagem mãe e filho adolescente que trouxe desafios, surpresas e momentos inesquecíveis que transformaram a forma como ele vê o mundo.

Entre a ansiedade de conhecer um país distante e a curiosidade de participar de ações sociais, Pedro descobriu que viajar pode sim trazer ensinamentos valiosos. Lições sobre empatia, responsabilidade e cooperação que nenhuma sala de aula consegue. 

Cada sorriso recebido das crianças do orfanato, cada tarefa compartilhada com a mãe, cada dificuldade superada juntos… Tudo isso mostrou o quanto experiências significativas nascem quando mãe e filho viajando juntos compartilham um mesmo propósito: o de crescer lado a lado.

Viagem com propósito social adolescente: as experiências vividas e aprendidas por Pedro

Como você reagiu quando sua mãe contou que fariam essa viagem para a Tanzânia?

 “Quando minha mãe me contou, fiquei bastante ansioso e animado ao mesmo tempo. Estava empolgado para a viagem com propósito social adolescente, mas também nervoso por causa das notícias que aparecem nos jornais sobre outros países. No fundo, eu sabia que seria uma experiência diferente e que poderia aprender muito, mas não fazia ideia do quanto ela ia me impactar.”

O que você imaginava que seria mais difícil nessa experiência?

“Eu achei que o mais difícil seria a convivência intensa, estar junto com muitas pessoas e me adaptar a uma rotina totalmente diferente da que tenho no Brasil. Eu sabia que seria um desafio manter paciência e atenção, mas também senti que seria uma oportunidade para crescer e fortalecer laços.”

Qual foi o momento mais marcante que você viveu durante a viagem?

“Os momentos mais marcantes foram a chegada no orfanato e todo o carinho que recebemos das crianças. Foi incrível sentir aquela energia de acolhimento e amizade. E, por outro lado, a volta para casa também foi difícil, porque deixar aquelas pessoas e aquela experiência marcou muito.”

adolescente branco de boné e camiseta branca abraça crianças africanas que aparecem sorrindo
adolescente vive experiência incrível em viagem com propósito social

Como foi para você participar de um projeto social em um país tão diferente do Brasil?

“Foi uma experiência bem legal, mas também desafiadora. Conhecer novas culturas é incrível, mas também é difícil pensar sobre as condições que aquelas pessoas enfrentam. Me fez perceber como podemos impactar vidas e, ao mesmo tempo, respeitar e aprender com cada realidade diferente. 

Essa viagem em família diferente me mostrou que olhar para o mundo com curiosidade e carinho é mais importante do que julgar.”

Teve algum momento em que você percebeu sua mãe de um jeito diferente do dia a dia?

“Sim. Em um dos primeiros dias, vi minha mãe assumir um papel que nunca tinha visto antes: ela era mãe de várias crianças ao mesmo tempo, dando atenção a todas com muita dedicação e paciência. Foi incrível perceber que ela consegue cuidar e se doar não só para mim, mas para outras pessoas também.”

O que você sentiu que mudou na relação de vocês depois dessa experiência juntos?

“Acho que nossa relação ficou mais forte. Passar por desafios, rir, ajudar e aprender juntos fez a gente se entender melhor. Foi uma viagem mãe e filho adolescente que reforçou nossos laços e me fez perceber que podemos contar um com o outro em qualquer situação.”

Qual foi o maior aprendizado adolescente em viagem que essa experiência te trouxe?

“Aprendi a me adaptar às dificuldades e a olhar novas culturas com curiosidade, sem julgamentos. Percebi que posso aprender muito vivendo situações diferentes e que cada experiência tem algo importante para nos ensinar. Essa viagem com propósito social adolescente me ajudou a crescer e a enxergar o mundo de um jeito mais aberto.”

 

Se pudesse dar um conselho para outros adolescentes que vão viver algo parecido, qual seria?

“Meu conselho é: mergulhe na cultura, viva o momento e aproveite cada experiência ao máximo. Uma viagem em família diferente assim não é só sobre turismo, mas sobre descobrir coisas novas sobre o mundo e até sobre você mesmo.”

Todos precisam de uma viagem que reforça laços familiares!

A experiência de Pedro na Tanzânia revela o impacto da viagem voluntária e como isso pode ser transformador. Ao se envolver em atividades voluntárias e conhecer culturas diferentes, ele teve a chance de se descobrir, enfrentar desafios e compreender a relevância que suas próprias ações exercem no mundo.

Essa viagem em família diferente demonstrou que os momentos compartilhados com a mãe foram mais do que só passeios. Também foram oportunidades para exercitar o diálogo, fortalecer a troca,  estimular o crescimento pessoal e cultivar aprendizados que vão perdurar pela vida.

 

Filho de Naiana Leite Muniz, Pedro é um jovem aventureiro e cheio de energia. Ama o mar, os livros e o movimento dos esportes. Seu sonho é seguir carreira em Engenharia Química e aprender diferentes idiomas para conhecer culturas e descobrir novas formas de ver o mundo.

 

Assim como Pedro e a mãe, descubra como você pode fortalecer os laços por meio de experiências transformadoras adolescentes. Conheça opções de viagens com propósito social

 

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