Homeschooling Em Portugal: O passo-a-passo

O Homeschooling ou ensino doméstico consiste numa modalidade alternativa em que o aluno é lecionado no seu domicílio, por um familiar ou por uma pessoa que com ele habite.

Em Portugal, a prática desta modalidade é legal e está regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 70/2021, de 3 de agosto.

Para ingressar no ensino doméstico, basta seguir alguns passos, com atenção aos deveres e aos direitos do educando.

A legislação do homeschooling não é complexa mas convém saber ao detalhe cada etapa para avançar com segurança.

Abordaremos passo-a-passo: O que deve fazer e quais são os direitos ao abrigar-se sob este regime em Portugal.

Perguntas Frequentes:


1. O que é o homeschooling em Portugal?

O Homeschooling ou ensino doméstico é uma modalidade de ensino em que o aluno desenvolve o processo educativo fora do contexto escolar. Apesar de ser uma prática popular e crescente no mundo inteiro, em Portugal foram registrados 623 alunos em 2023. Número inferior depois do decreto-lei de 2021, que exigiu o grau académico ao educador doméstico.

No entanto, esta via de ensino tem crescido no mundo inteiro por proporcionar inúmeros benefícios ao aluno e à família.

 

Mas quem é elegível para a prática desta modalidade de ensino? 

Qualquer família que resida no país e que a pessoa responsável pela educação do aluno seja detentor de uma licenciatura (reconhecida em Portugal). Caso a licenciatura tenha sido concluída no estrangeiro, deve recorrer ao reconhecimento da mesma através da DGES.

2. Quais são os requisitos legais para fazer homeschooling em Portugal?

 

Matrícula

Primeiramente, realiza-se a matrícula.

Numa escola (pública ou privada) com um pedido para ingressar nesta modalidade de ensino à Direção do Agrupamento de Escolas.

Neste pedido são especificados os motivos pelos quais se quer ingressar no ensino doméstico. 

É essencial anexar os documentos que comprovam a elegibilidade: 

  • comprovativo de habilitações do aluno,
  • identificação do aluno e do encarregado de educação,
  • certificação de ensino superior do encarregado de educação.

 

Plano Educativo

Após receber a aprovação do diretor, o encarregado de educação deve apresentar o Plano Educativo, que consiste numa declaração (em forma de reunião ou por escrito – como a escola requerer) com o plano pragmático geral que o educador tenciona praticar com o aluno durante o ano letivo: a metodologia, as visitas de estudo, as atividades extra-curriculares, os apoios informáticos, entre outros.

Com isto, o diretor irá designar um professor-tutor que monitorizará o ensino do aluno através de reuniões com o encarregado de educação. A partir deste ponto, o professor-tutor será o ponto de contacto entre o educador e a escola.

Lembrando que a regularidade destas reuniões é acordada apriori e documentada no Protocolo de Colaboração

 

Protocolo de Colaboração

O Protocolo de Colaboração é um contrato entre a escola e o encarregado de educação com todos os detalhes de como esta relação irá funcionar.

O pai ou mãe entra em um acordo com o professor-tutor em como se dará o acompanhamento da educação.

Para tal, terão em conta as necessidades de todos em prol do objetivo: sucesso académico do aluno. E estes detalhes devem constar neste contrato. 

 

Direitos e deveres

O aluno tem o direito a:

  • manuais escolares gratuitamente
  • seguro escolar,
  • utilização da biblioteca da escola (nos horários disponibilizado pela escola)
  • participação nas visitas de estudo e nas AEC’s (Atividades Extra-Curriculares).

Importante ressaltar que os pais têm o dever de inscrever o aluno para a realização das provas de aferição, provas finais do ensino básico (4º ano), provas de equivalência à frequência e exames finais nacionais. 

Para as crianças que falem outra língua, o encarregado de educação “(…) deve assegurar o desenvolvimento do currículo em consonância com o previsto no artigo 7.º e no protocolo de colaboração, adotando a língua portuguesa como língua de escolarização, ou no caso de um projeto bilingue, fazer prova de proficiência linguística na língua estrangeira do currículo nacional em que pretende desenvolver parte do currículo.” Decreto-Lei n.º 70/2021de 3 de agosto.

Uma criança com cabelos presos e óculos está concentrada em resolver um exercício de matemática em uma folha de papel. A imagem mostra a visão de trás, com a criança segurando um lápis e escrevendo as respostas. O exercício envolve cálculo de perímetro e medidas desconhecidas de retângulos. O ambiente tem uma iluminação suave, e a mesa cinza contrasta com o papel branco da atividade.

3. Como posso garantir que estou cumprindo a legislação do homeschooling?

Após a matrícula, cabe ao diretor da escola encarregar-se de informar os pais sobre todas as legalidades necessárias.

O professor-tutor guiará e informará o encarregado de educação caso encontre algo que não consta no regulamento. 

Contudo, para dar ainda mais segurança, os pais podem recorrer ao apoio na internet, associações que disponibilizam-se para prestar esclarecimentos relacionados aos ensino doméstico em Portugal. 

Convém, também, manter-se actualizado quanto a legislação na DGES.

4. Quais são as consequências de não cumprir a legislação do homeschooling?

 

A consequência do não cumprimento da legislação do homeschooling é o cancelamento da matrícula escolar do aluno. Em Portugal, o ensino é compulsório e o não cumprimento da legislação do homeschooling tem a mesma repercussão que a anulação da matrícula do aluno na escola. Procede-se da mesma forma.

5. Como fazer a avaliação do progresso educacional no homeschooling?

Para fazer a avalaiação do progresso educacional, são realizadas duas ou três reuniões préviamente marcadas com o professor-tutor.

Nestas reuniões, o encarregado de educação expõe o trabalho feito com o aluno e conversam sobre o aproveitamento do aluno.

Para facilitar o processo, é recomendado que tenha o educador tenha o registro dos trabalhos e fichas realizados em formato digital.

Trata-se também, de uma oportunidade do encarregado de educação para esclarescer todas as dúvidas, pedir aconselhamento e saber se o seu filho/a está a ser bem direcionado. 

O professor-tutor toma nota e deve emitir um pequeno relatório do processo do aluno para efeito de registro. Deve conter ainda eventuais recomendações e remetido ao encarregado de educação.

Até o 4º ano de escolaridade, a criança não tem obrigatoriedade de contactar diretamente com os professores ou alunos da escola. No entanto, deve comparecer ao exame final e passar, como todos os outros alunos, para receber o certificado de habilitações. 

Como esta relação entre o aluno e a escola pode ser praticamente nula, destaca-se o trabalho que, tanto o professor-tutor como o educador doméstico, devem ter ao certificarem-se que o aluno está a progredir de acordo com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.

Conclusão

O ensino doméstico em Portugal é legalmente simples.

Em resumo, sendo elegível, efetua-se a matrícula do aluno, mantém-se uma comunicação regular com os intervenientes e tendo atenção às regularizações na DGES para que o processo decorra de forma fluída e facilitada. 

Um excelente hábito de pais homeschoolers é o de registrar digitalmente: cada visita de estudo, os trabalhos relevantes e as fichas de estudo do aluno.

O registro prévio e a organização dos ficheiros, facilitam as reuniões com o professor-tutor e consequentemente todo o processo legal do ensino doméstico. 

Para os pais, é confortante saber que possuem uma rede de apoio se optarem por esta via de ensino. Tanto a lei portuguesa, como as escolas, os professores, as associações e a comunidade possuem a infra-estrutura necessária para os apoiar nesta decisão.

mulher com o cabelo castanho escuro com cumprimento médio, vestida de amarelo com brincos compridos amarelos, corrente dourada sob o fundo neutro (muro bege texturizado). Ela sorri, contente.

Escrito por

Mariana Ribeiro

Mãe de cinco filhos em ensino doméstico. Apaixonada por filosofia, psicologia e educação. Estuda e escreve sobre família e desenvolvimento humano. @Marianaparaizoribeiro

5 Dicas Práticas para Começar o Homeschooling com Sucesso

A família que pratica o ensino doméstico, tem a liberdade de decidir como, quando e onde ensinar. Como cada família é única, a prática do homeschooling pode ser personalizada.

Por este motivo, torna-se imprensindível iniciar o ano com uma boa estrutura que servirá de rampa de lançamento rumo à educação livre.

Se pretende praticar o ensino doméstico, este artigo é para si.

Deixamos as 5 dicas práticas que impulsionam qualquer família a contornar os desafios que o ensino doméstico acarreta. Estas dicas têm como meta o sucesso do aluno com passos confiantes e leves e sem menosprezar a harmonia familiar. 

 

1 – Comunicação como ponte

 

Este passo inicial, pode ser fundamental para o sucesso no homeschooling: a comunição com o professor-tutor. 

O professor-tutor é o professor que leciona na escola local e que destacado pelo director para monitorar e guiar o seu aluno (filho ou filha). Ele é o ponto principal de contacto entre os pais e a escola. 

E como o objetivo (tanto do professor-tutor como dos pais) é o mesmo: o sucesso do aluno, os pais ganham imenso ao aliar-se ao conhecimento do professor.

Apesar de, geralmente, os pais homeschoolers terem uma grande motivação para seguirem os seus próprios passos, podem enriquecer o seu próprio conhecimento com esta colaboração. O professor-tutor pode ser um vantajoso complemento para o sucesso da sua criança ou o guia para trilhar este caminho com mais facilidade. 

Esta colaboração pode ser riquíssima e agrega imenso valor à experiência do ensino doméstico, para todos os intervenientes. 

 

2 – Esboçar o “como”: Metodologia e currículo

 

Uma das grandes vantagens do ensino doméstico é a flexibilidade do conteúdo a ser lecionado e o modo como é ensinado.

Seria no mínimo estranho optar por esta via de ensino livre e seguir os manuais públicos by the book. Uma vez que existem várias opções interessantes de metodolgias e currículos disponíveis na internet, das quais podemos selecionar de forma exclusiva, adaptando-se às necessidades de cada família.

Faça a escolha da metodolgia e currículo antes de iniciar o ano letivo, de forma a facilitar o planeamento do mesmo.

Depois de selecionar os estilos de homeschooling e como irá aplicá-los (de uma forma geral), adquira os materiais (livros, currículos ou cursos) antes de começar o ano letivo.

Ainda, compare com os requisitos de ensino da escola e faça algumas complementações, se necessário.

No nosso caso, por exemplo, começamos com uma mistura que funcionou para nós:

Optamos por começar o ano seguindo os manuais escolares como um guião de conteúdo. A partid daí, selecionamos textos de outros livros para trabalhar leitura e interpretação. Para matemática, aplicámos o método Singapura utilizando recursos físicos alternativos (como o ábaco e outros materiais lúdicos). Para o estudo do meio, praticamente nem utilizamos o manual. Estudamos o ambiente no exterior e de mãos dadas com a arte.

Conclusão, invista tempo na pesquisa e no planejamento. Esta preparação vai permitir que o decorrer do ano letivo seja harmonioso, prazeroso e útil.

 

3 – Objetivos semanais: Plano em ação!

 

Porque o ensino doméstico não se trata de transpor a escola para dentro de casa. Mas sim toda uma dinâmica familiar em progresso. E para tal, é importante saber para onde vai, isto é, ter um objetivo claro, de modo a caminhar com segurança e leveza. 

Para este efeito, a organização e o planeamento são imprescindíveis para o sucesso no ensino doméstico. 

Siga esta dica: Depois de saber quais conteúdos precisa-se adquirir e, vagamente, a forma como a ser aplicada (com espaço para alterações e adaptações se necessário), faça um calendário com objetivos semanais.

Deste modo, com um quadro visual dos objetivos a serem cumpridos, garantimos maior segurança no progresso e ainda margem de manobra, ganarantindo flexibilidade para gerir cada dia livremente.

Se o conteúdo estiver bem organizado e pretender desenvolver a autonomia da criança: experimente deixar o calendário à altura, para serem as próprias a geirirem seus objetivos, retirando cada tarefa/matéria à medida que for completa.

 

4 – Espaço em 3: Acessibilidade, ordem e beleza.

 

Mais uma dica acerca da organização.

Eu sei, nada entusiasmante, mas a verdade é que o planeamento é a base imprensindível para o sucesso académico e a harmonia no lar. Não há voltas a dar.

A boa notícia é que é simples. No entendimento e na execucão.

Ainda, damos ênfase ao espaço porque a disposição do mesmo vai influenciar toda a dinâmica familiar.

Então, para obter o sucesso pretendido, temos que ter em consideração dois aspectos na organização espacial: a funcionalidade e a beleza.

Estipule onde o estudo vai se dar e organize os materiais (acessíveis às crianças de forma a promover autonomia) e perto do local de trabalho. 

Lembrando que o espaço deve ser agradável, evitando excessivos estímulos. Deve ainda ser claro (luz natural de preferência) e organizado, de forma a potencializar o ensino e o bom ambiente do lar.

 

5 – Nutrir a alegria e o entusiasmo pelo conhecimento

Um menino visto de trás, vestindo uma camisola verde, segura e observa um mapa colorido com várias áreas marcadas em amarelo, verde, azul e laranja. A imagem é capturada de perto, destacando os detalhes do seu cabelo castanho curto e da textura do tecido da camisola. O fundo está desfocado, sugerindo um ambiente ao ar livre.

Sejam professores ou sejam pais, ninguém está preparado para ensinar os próprios filhos e ainda gerir outros afazeres –  como é o caso da maioria das famílias homeschoolers.

E apesar do ensino doméstico ser, em parte, uma extensão da parentalidade, nem por isso é menos desafiante

Por este motivo, é natural que os pais sintam a pressão do dia-a-dia e a de viver numa sociedade onde o ensino doméstico ainda é visto com algum preconceito: infelizmente, o educador doméstico ainda vive sob olhares e comentários carregados de julgamentos. 

Mas, a dica esta aqui: é importante lembrar o motivo de ter ingressado no ensino doméstico e vivê-lo com alegria. Afinal, o conhecimento é entusiasmante e ainda melhor se conseguido dentro de um lar seguro e acolhedor

Esta é dica mais relevante. Porque é essencial que o aluno se sinta um felizardo por aprender em casa de forma exclusiva e adaptada a si. Que sinta a alegria de ter mais tempo livre para explorar seus interesses e de desenvolver-se de forma íntegra e segura. Cabe, portanto, aos educadores nutrir esta consciência e vivendo-a com entusiasmo.

Viver esta alegria e deixar que brilhe todos os dias, é necessário. E vai tornando-se cada vez mais fácil quando lhe damos um foco único.

mulher com o cabelo castanho escuro com cumprimento médio, vestida de amarelo com brincos compridos amarelos, corrente dourada sob o fundo neutro (muro bege texturizado). Ela sorri, contente.

Escrito por

Mariana Ribeiro

Mãe de cinco filhos em ensino doméstico. Apaixonada por filosofia, psicologia e educação. Estuda e escreve sobre família e desenvolvimento humano. @Marianaparaizoribeiro