Relato de parto na ótica da acompanhante: Mãe solo

Nem sempre as mulheres têm ao seu lado o parceiro ou uma grande rede de apoio. Há muitas mulheres que são mãe solo e enfrentam a jornada da gestação sozinhas, sem um parceiro.

A gestação é um dos momentos mais importantes e difíceis da vida de uma mulher, apesar de toda a emoção e amor envolvido pelo filho, as gestantes precisam de uma rede de apoio para passar pelos desafios da gravidez. 

Quando a gestante tem a possibilidade de passar por toda a situação com o apoio do parceiro, ela tem ao seu lado um “porto seguro” para enfrentar os desafios e receber o cuidado que necessita. 

Com uma rede de apoio, a gestante consegue passar pelas consultas, ter alguém com quem contar nos dias mais difíceis, dividir a alegria de estar gerando uma nova vida, preparar-se para o parto e receber o acompanhamento necessário. 

Mesmo sem um parceiro ao seu lado, é essencial que as mães possam contar com a ajuda de familiares e/ou amigos, pois ter alguém que se importa por perto – mesmo que não o pai da criança – é fundamental para a saúde psicológica da gestante.

Dificuldades de uma gestação solo

É comum que as pessoas ao redor fiquem ansiosas com a chegada do bebê, mas é preciso se preocupar também em como a mãe está se sentindo durante a gestação, principalmente, quando a mãe está passando pela gravidez sozinha sem a companhia do parceiro. 

Minha irmã é mãe solo, passou a gestação inteira sem ajuda alguma do genitor, foram dias com momentos muito difíceis, pois além de estar solitária, a gestação dela não foi nada fácil. 

Ela tinha dificuldades para se alimentar, enjoava e vomitava do começo da gestação até o dia do parto, quase nada parava em seu estômago. A bebê não atingia o peso recomendado de acordo com as fases da gestação, a preocupação era imensa. 

Os médicos a encaminharam para o tratamento especializado em gestação de risco, em que consultas e tratamentos eram realizados entre 2 a 3 vezes por semana. 

A minha irmã, marcava as folgas do trabalho nos dias de consultas com medo de passar por situações ruins no emprego, mesmo sabendo de seus direitos trabalhistas. Ela estava exausta!

A responsabilidade do trabalho, aluguel da casa, contas a pagar, comprar os itens do enxoval da nenê sozinha; as crises emocionais e o cansaço da gestação. 

Apesar de amar a sua filha e saber que precisava ser forte para lutar e conseguir passar bem por essa fase, não foi nada fácil.

Graças a flexibilidade do meu trabalho, consegui acompanhar a gestação dela de perto e oferecer o suporte que precisava, ou pelo menos parte dele. 

Acompanhei ela em diversas consultas, pois ela sempre passava mal e era arriscado ir sozinha. Assisti ao menos 1 ultrassom por semana durante 4 meses, pois como era acompanhamento de risco, os exames e consultas eram mais frequentes. 

Conversava sempre com ela sobre as dificuldades e o que poderíamos fazer para que ela conseguisse se alimentar melhor, tanto para a sua saúde quanto para a da bebê. 

Quando ela não estava bem, eu a convidava para vir dormir e passar uns dias na minha casa, para que ela se sentisse menos sozinha e entendesse que tinha pessoas que a apoiavam e iriam estar presente nessa fase dando força para ela.

Numa visão ideal, passar pela gestação com o parceiro, escolher as roupinhas, montar o enxoval, comprar móveis, ir as consultas, se emocionar ao descobrir o sexo do bebê, fazer o chá de fraldas e as demais tradições que envolvem esse momento, é um sonho. 

Na visão real, muitas mulheres sofrem com o abandono e sem apoio durante a gestação. E a questão não é somente “criar um filho sem parceiro”, mas todo o processo doloroso, difícil e custoso que é a gestação. 

Sabemos que as mulheres devem amar aos seus filhos e se esforçarem por eles, mas é muito difícil que as pessoas entendam que a mulher não é apenas a mãe, mas também é uma pessoa que precisa de cuidados e apoio para enfrentar os desafios e momentos difíceis. 

Eu senti as dores da minha irmã de perto, vi quando ela estava sozinha e se sentindo mal psicologicamente e fisicamente, ajudei ela a fazer a lista dos itens essenciais para os primeiros meses de vida da bebê, quando estava emocionada e precisava compartilhar as novidades da gestação com alguém. 

A importância de um acompanhante é oferecer suporte para a gestante, mostrar a ela que não está sozinha, que pode contar com alguém e dividir os momentos felizes, afinal, a gestação tem momentos lindos e que precisam ser compartilhados. 

É essencial que o acompanhante na hora do parto seja o mesmo que foi presente durante a gestação, se possível é claro, pois ajuda a deixar a gestante mais segura e confortável. 

Pé de criança recém-nascida com pulseira rosa da maternidade.
Banco de imagem.

O Papel da Acompanhante: Confiança e Apoio Emocional

Sabemos que a gestação não é fácil e que o parto é muito preocupante, pois todos sabem que será um momento doloroso, com um longo período de contrações, medo, dúvidas, entre outros. 

Quando comecei a acompanhar a gestação da minha irmã, pesquisei vídeos e conteúdos em blogs sobre maternidade na internet. Li e assisti a muitos conteúdos sobre gravidez, parto normal e parto cesárea, cuidados com bebês, e muito mais.

Um conselho que posso dar: É importante que a pessoa que vá assistir ao parto, vá ao menos a uma ou mais consultas com a gestante, pesquise sobre parto, e analise se realmente será a pessoa que irá assistir ao parto. 

O parto é um momento delicado demais, a mãe passa por muita dor, cansaço e emoções a flor da pele, então é importante que o acompanhante seja uma pessoa que dê suporte e não que cause preocupação na gestante ou que passe mal. 

Há muitos casos de pessoas que não conseguem assistir ao parto, seja por não conseguir ver sangue e/ou presenciar a dor da gestante. Portanto, se você for ser acompanhante na sala de parto, esteja preparado. 

Por isso, é importante que o acompanhante tenha acompanhado a gestante antes do parto, a fim de saber quais as condições médicas e dar o apoio necessário.

Além disso, o acompanhante deve estar atento a todos os procedimentos realizados pelos profissionais, sempre questionando e presente no momento da realização dos mesmos. Garantindo que não haverá violência obstétrica.  

É fundamental que o acompanhante do parto e a gestante estejam cientes dos seus direitos desde a internação da mulher até a hora do parto. 

O acompanhante deve ter em mente que o seu papel na hora do parto é oferecer suporte emocional e psicológico para a parturiente. 

Expectativas e preparativos para o parto

De acordo com opiniões de especialistas, o esperado é que a mulher entre em trabalho de parto a partir de 37 semanas até 40 semanas. 

No caso da minha irmã, como a bebê estava com dificuldade para ganhar peso e era muito pequena (gestação de risco), optaram por induzir o parto assim que completou 37 semanas. 

A indução de parto é realizada a partir da administração de medicamentos a cada 4 horas, sendo administrados no máximo 6 comprimidos. 

Foram administrados apenas 2 comprimidos na minha irmã, ela entrou logo em trabalho de parto. Eu acompanhei tudo de pertinho, perguntei detalhadamente aos médicos como seria o processo e fiquei bem atenta. 

Nós já esperávamos que o parto dela poderia acontecer a qualquer momento assim que completou as 36 semanas, pois o médico do pré-natal havia informado a ela. 

Assim que ele a orientou, minha mãe preparou a bolsa da bebê e da minha irmã. É essencial saber quais itens a gestante e a criança irão precisar após o parto.

Nossa expectativa é que fosse um parto normal, rápido e sem intercorrências, afinal, é o que todos desejam. 

Temos outros relatos de parto no nosso site, conheça a experiência de uma mãe de parto humanizado e não humanizado.

Vivenciando o parto: Sensações e desafios

Assim que se iniciou o trabalho de parto, comecei a sentir um mix de emoções, fiquei ansiosa, com medo pela minha irmã, e preocupada. No entanto, tentei manter a calma e me atentei às necessidades dela. 

Ajudava ela a ir ao banheiro, procurava o médico quando se iniciava as contrações para que nos orientasse, perguntava se queria água, e ajudava com os exercícios pré-parto.

Quando as contrações iniciaram, me senti aflita e preocupada, pois a dor que minha irmã expressava sentir era grande. Ela começava a se tremer, sentia cãibras que demoravam a passar, sentia muita vontade de ir ao banheiro. 

Era uma energia de dor e sofrimento pairando no ar, mas eu tentava acalmá-la e lembrá-la das orientações médicas: 

  • Quando senti dor, não grite, tente respirar fundo; 
  • Faça força apenas quando as contrações se iniciarem; 
  • Aproveite quando as contrações forem embora para descansar;
  • Se sentir vontade de evacuar, não vá ao banheiro, pois quando o bebê está para nascer a sensação é semelhante;
  • Beba água em pequenas quantidades. 
  • Caminhar um pouco, fazer exercício na bola, etc., para ajudar com a dilatação. 

Um dos maiores desafios não é nem ver o sangramento ou secreção, mas sim se manter calmo e conseguir oferecer o apoio emocional que a gestante precisa, pois na hora da dor elas esquecem de tudo e, se precisar xingar, xingam qualquer um. 

A mulher sente muita dor, é indescritível conseguir explicar a sensação, me senti aflita e não pude fazer nada, a não ser dar apoio, segurar em sua mão e falar que já ia acabar, que em breve sua pequena estaria em seus braços. 

O trabalho de parto da minha irmã durou em média 9 horas, foi bem difícil, a bolsa teve que ser rompida pelos médicos, ela achava que não ia aguentar (em suas palavras: Eu não aguento, sinto que vou morrer!), passou muito mal e vomitou muito. 

Mas, depois de muita dor e sofrimento, minha sobrinha nasceu. A parte mais emocionante foi ver a cabeça dela saindo, o seu primeiro choro, quando peguei ela no colo pela primeira vez. 

Sinceramente, não tem sensação melhor no mundo. Sei que minha irmã é a mãe, mas como acompanhante foi transformador e mágico presenciar esse momento milagroso que é a vida!

Ajuda do acompanhante durante o parto 

Além do apoio emocional e preparo, o acompanhante pode ajudar no momento do parto, caso seja parto normal. 

Mas como assim ajudar? Os médicos orientam que a mulher deve fazer força quando a contração iniciar e que é importante que ela não grite, pois gritar a faz perder o fôlego para conseguir empurrar quando a criança estiver vindo.

Eu fui para perto da minha irmã e segurei em sua mão, mas quando vi que ela estava cansada, me posicionei ao lado da maca, fui atrás da minha irmã e passei os meus braços por baixo dos seus, apoiando as costas dela em meu peitoral. 

Desse modo, ela conseguiu segurar, fazer mais força e se apoiar de maneira confortável.

Como mencionei anteriormente, é importante o acompanhante se preparar para este momento. 

Conheça o papel da doula durante a gestação e o parto, e como ela pode ajudar durante o parto.

O valor da empatia e do apoio à gestante

Como podemos observar, do início da gestação até o momento do parto, a mulher vivencia muitas experiências, dificuldades, desafios e emoções. 

Ter uma rede de apoio é fundamental para que ela possa enfrentar esse novo desafio com mais tranquilidade e segurança. 

Quando falo sobre rede de apoio, não significa ter muitas pessoas ali ao redor – seria ótimo se tivesse? sim, mas ter ao menos um acompanhante para ajudá-la em momentos necessários durante a gestação e que também a acompanhe e ofereça suporte durante o parto. 

A empatia de se colocar no lugar do outro e oferecer apoio em momentos difíceis é uma das melhores coisas que o ser humano pode fazer, ou seja, demonstrar preocupação, apoio e amor ao próximo, principalmente, para um amigo ou familiar. 

Estar ao lado da minha irmã durante a gestação e o parto, não foi benéfico somente para ela, pois foi gratificante para mim que vivenciei uma ótima experiência, senti uma emoção que nunca havia sentido e, com certeza, me abriu os olhos para a vida. 

Apoiar o outro nos transforma também, mostra a real essência do ser humano e do que significa amar ao próximo. É gratificante demais saber que presenciei um dos momentos mais importantes da vida de alguém e que fiz a diferença para ela. 

Edição geral de Rondy Cavulla e escrito pela equipe


MyBabyCare