Ilustração infantil: o trabalho inspirador de Rita Correia

Através da ilustração infantil, a artista Rita Correia transforma sentimentos, memórias e sonhos em histórias que despertam a imaginação.

 

A ilustração infantil tem o poder de abrir janelas para universos cheios de cor, imaginação e descobertas.

É nesse território entre arte e infância que se encontra Rita Correia, ilustradora e autora que cresceu cercada por lápis, papéis e histórias. Hoje, ela transforma palavras em imagens que encantam, acolhem e despertam a curiosidade dos pequenos leitores.

Nesta conversa, Rita fala sobre suas fontes de inspiração, os desafios de ilustrar livros infantis em tempos digitais, a parceria com escritores e como a maternidade passou a refletir no olhar artístico e na maneira como compreende o mundo ao seu redor.

O universo da ilustração de livros infantis por Rita Correia

Rita, como começou a sua paixão pela ilustração de livros infantis?

Nasci em 1977, e quando comecei a interessar-me pelo desenho — ainda muito pequena — a ilustração infantil nem sequer era vista como uma profissão em Portugal. 

Ainda assim, sempre gostei de desenhar desde muito nova e apenas segui o instinto que sempre me manteve próxima das artes.

Qual é o papel da ilustração infantil no estímulo da imaginação das crianças?

Hoje, felizmente, a ilustração de livros infantis já evoluiu para além de ser apenas “suporte” de um texto. 

Presentemente, ela não só faz isso, como também acrescenta valor à obra e, muitas vezes, conta histórias paralelas. Quando deixou de ser meramente ilustrativa e passou a explorar novas formas de expressão, criou muito mais espaço para a imaginação e a criatividade.

arte em tubo com desenhos em vermelho imitando uma criança, uma árvore e um coração
Tubo atividade livro Ilumina, por Rita

Que técnicas prefere usar na criação das suas ilustrações infantis?

Gosto de trabalhar de forma manual, com lápis, tintas e colagens. Esse é o ponto de partida do meu processo e continua a ser o que mais prazer me dá. 

Ao longo dos anos, e com a revolução digital, foi impossível não incorporar novas ferramentas, que são práticas e convenientes. Mas, mesmo que quase todas as minhas ilustrações sejam finalizadas digitalmente, hoje ainda faço questão de preservar nelas o toque artesanal, o traço vivo e imperfeito que vem do trabalho feito à mão.

Como é o processo de colaboração entre ilustrador e escritor num livro infantil?

Sempre que existe a oportunidade de ter contacto direto com o escritor — e quando esse autor compreende e confia no nosso trabalho — o processo torna-se muito mais leve e prazeroso. 

No meu caso específico, costumo apresentar uma ou duas propostas do que imagino para determinadas páginas, além de uma visão geral sobre como penso a relação entre texto e ilustração naquele livro. A partir daí, o diálogo flui melhor, e consigo alinhar o meu estilo à mensagem que o autor deseja transmitir.

Na sua opinião, o que torna uma ilustração infantil memorável para uma criança?

Não é uma pergunta fácil, pois acho que depende muito do contexto de vida dessa criança. Eu, que cresci nos anos 80, lembro-me do fascínio que sentia com os desenhos e pinturas impecavelmente apresentados. Estava sempre à procura de pormenores escondidos — um cão desenhado ao fundo, uma bola de sabão que mais ninguém via. 

Hoje, essa curiosidade é o que tento trazer para os livros que ilustro: jogos visuais e detalhes secretos que só um olhar atento descobre.  Acredito que uma ilustração infantil torna-se memorável quando toca algo que a criança vive ou sente naquele momento. Vinte crianças podem ver a mesma imagem, mas ela será especial apenas para uma — e é aí que a magia acontece.

imagem de livro preto com ilustração colorida em laranja, branco e amarelo
Um dos belíssimos trabalhados de Rita Correia

Quais são os maiores desafios atuais para os ilustradores de livros infantis?

Lidar com o avanço da Inteligência Artificial é um dos nossos grandes desafios. Afinal, por mais que hoje se possam criar imagens inteiras a partir de comandos, nunca será possível reproduzir a intensidade de uma ilustração feita à mão, no instante exato da criação. 

Mas, talvez o maior desafio seja manter viva a inocência e o deslumbramento natural das crianças, que estão cada vez mais expostas a conteúdos que reduzem o espaço para a imaginação, a criatividade e a empatia. Ilustrar, tendo em conta essa nova realidade, é um exercício contínuo de resistência poética.

De que forma a ilustração infantil pode apoiar a educação e a inclusão?

Quando as crianças ainda não aprenderam a ler, as imagens são as suas primeiras leituras. Mesmo uma criança cega percebe o mundo através do toque — dos rostos, objetos, natureza e até ilustrações em relevo. 

A ilustração infantil une linguagens e aproxima adultos e crianças num espaço de compreensão mútua. Na educação, essa linguagem é essencial e, no campo da inclusão, torna-se ainda mais poderosa.

desenho em aquarela, onde uma menina e uma rosa aparecem em cima do mundo. A palavra "hope" está em destaque
Ilustração “HOPE” por Rita

Como as editoras e os autores podem valorizar mais o trabalho do ilustrador?

Que mundo triste e cinzento teríamos sem as artes e os artistas, não?! 

No entanto, a valorização do trabalho artístico só é possível quando quem contrata entende as muitas horas de estudo e anos de prática que existem por trás de uma ilustração. Mas também quando o próprio artista aprende sobre o seu valor a valorizar-se. Não podemos esperar reconhecimento se somos os primeiros a desvalorizar o que fazemos.

Que conselhos daria a jovens artistas que querem seguir esta carreira?

A minha filha entrou agora na Faculdade para um curso artístico de desenho. Sempre vi nela o que vivi na pele: uma compulsão desmedida por tudo o que envolve as artes. Quem seria eu, como mãe e ilustradora, se não a incentivasse a seguir a sua paixão? O caminho nunca é fácil, mas é ainda mais difícil viver sem propósito.

Por isso, aconselho que avancem — às vezes com a maré, outras vezes contra. O importante é compreender que nunca sabemos tudo e que sempre há espaço para aprender. Nos dias de hoje, nunca foi tão importante ter uma sólida base manual, porque a base digital dos jovens está muito avançada. A diferença estará, acredito, na humanização do trabalho artístico.

Qual é o impacto pessoal e profissional de ver as suas ilustrações nas mãos das crianças?

Indescritível. Mais do que ver as minhas ilustrações nas mãos delas, é vê-las desenhar inspiradas pelos meus livros. Ter feito obras escritas e ilustradas por mim abriu portas para sessões em escolas, onde o contacto direto com as crianças me incentiva a continuar. 

Ver seus rostos iluminarem-se quando descobrem um segredo escondido ou quando cantamos juntos uma música é impagável. Só depois de me lançar como autora independente percebi que estava finalmente no trilho certo. Enquanto o sentir, continuarei.

 

grupo de alunos vestindo uniforme azul se reúnem ao redor de imagens postas no chão
Momento em que as crianças admiram as ilustrações

Para terminar, de que forma a maternidade impactou a visão de mundo e o processo criativo?

Curiosamente, foi depois do nascimento do meu segundo filho, quando quase desisti da vida artística, que tudo mudou. 

Durante uma longa sessão de amamentação surgiu a ideia do meu primeiro livro, escrito e ilustrado por mim, que me levou a abraçar a edição independente. A maternidade ampliou o meu olhar — ver os meus filhos crescer, visitar escolas, contactar com outras crianças e realidades diferentes fez florescer a minha criatividade.

O meu quarto livro, O Presente com a Maior Fita do Mundo, é sobre como estamos todos conectados, sobre comunidade e sobre o nosso planeta como casa comum. Um livro que só me foi possível criar depois deste caminho de aprendizagem, sobre mim, sobre o outro e sobre o mundo que habitamos.

Encerrando o olhar sensível de Rita Correia

O olhar sensível de Rita Correia sobre o universo da arte, maternidade e imaginação mostra que a ilustração infantil vai muito além do tradicional desenho bonito. É uma forma de linguagem, é ponte, é afeto… É um trabalho que ajuda a dar vida às histórias e a criar memórias inesquecíveis para os pequenos leitores.

Para acompanhar o trabalho desta ilustríssima artista, siga o perfil de Rita no instagram @ritacorreia_ilustradora ou na sua página oficial no Facebook. 

E para ler mais conteúdos como esse sobre o universo da arte e da maternidade, acesse nosso portal …

 

Quer conferir todas as dicas sobre as crianças e o uso da internet? Acesse aqui.

 

Ilustradora

Rita Correia

Nascida em 1977, seu amor pela arte começou desde pequena, quando a ilustração infantil não tinha o estatuto de profissão em Portugal. Acompanhe no Instagram

Logo do mybabycare, passarinho saindo do ninho.

Escrito pela equipe

My Baby Care

O Mybabycare é um portal, um espaço seguro para trocar experiências com pais, futuros pais e especialistas. Aqui, ninguém caminha sozinho.

Recomeçar com propósito: Como Mães estão a mudar de profissão em busca de equilíbrio e realização

Com a maternidade, tudo muda.

Primeiro muda o nosso corpo, que alarga e estica para servir de casa ao nosso bem mais precioso. Durante a gravidez, porém não sentimos logo a mudança profunda enquanto indivíduos, que pode mesmo resultar num curto espaço de tempo, numa grande crise de identidade. Deixamos de ser nós para passarmos a ser mães. As nossas hormonas são responsáveis por nos fazerem estar focadas e dedicadas inteiramente a este novo ser, que tanto depende de nós, nos primeiros anos de vida. Voltar ao trabalho ou à nossa antiga função laboral nem sempre é fácil e muitas vezes torna-se um grande desafio conciliar com harmonia e equilíbrio as nossas funções em casa com a profissão.

Quando iniciamos a nossa vida profissional, raramente pensamos com clareza sobre o futuro. A opção de ter ou não filhos não costuma entrar na equação quando escolhemos o caminho da nossa carreira aos 20 e poucos anos. E caso entre, normalmente o pensamento é que tudo se irá encaixar e que todos se irão adaptar um dia. Esta reflexão é para todas as mães que estão a renascer com os seus filhos. Todas as que procuram encontrar o caminho do equilíbrio, entre uma profissão que as realize e preencha e a sensação plena de puder acompanhar e estar presente na vida das suas crianças e presenciar todas as suas conquistas e aprendizagens.

Porque tantas mães decidem mudar de profissão?

A partir do momento do nascimento de um filho, todas as nossas prioridades mudam. No início é bastante intenso, pois a dependência é total. À medida que vão crescendo, vamos conseguindo respirar outra vez e voltar lentamente a sermos nós ao mesmo tempo que nunca deixamos de ser mães. Respondendo à questão acima, há 3 razões principais para uma mulher mãe querer mudar de profissão:

  • Falta de propósito: isto acontece principalmente em trabalhos em que a principal motivação é o dinheiro. Se não tivermos uma motivação mais nobre, começamos a questionar se esse trabalho é o mais adequado.

  • Falta de flexibilidade: horários longos, horários por turnos, pressão para não faltar (o que com filhos pequenos acontece muitas vezes), patrões ou colegas com pouca compreensão (o que infelizmente acontece muito) são tudo motivos válidos para aumentar a desmotivação.

  • Cansaço do modelo tradicional de trabalho: passar 40h ou mais fora de casa, férias pouco compatíveis com as férias escolares, pressão para a produtividade, ambientes muito competitivos são fatores que podem estar na base da exaustão de muitas mães e mesmo levar a situações graves como depressão ou burnout.

Mulher a trabalhar no computador

Vale a pena mudar de profissão depois de ser mãe?

Não sentimos imediatamente isto, mas à medida que os nossos filhos vão crescendo, vão-nos vendo cada vez mais como um exemplo. As mães e pais são os principais heróis dos filhos. Quando explicamos aos nossos filhos o porquê de querermos/termos de trabalhar, a resposta “tenho de ganhar dinheiro para sustentar a casa” ou “tenho de ganhar dinheiro para te comprar coisas ou férias” é incrivelmente confusa e vaga para uma criança. Se respondermos antes “tenho de ir trabalhar para ajudar as pessoas doentes a ficarem boas” ou “tenho de ir trabalhar para ir fazer comida deliciosa para as pessoas comerem”, as crianças crescem com valores nobres e valiosos sobre o trabalho. O trabalho é uma parte de nós, de certa forma pode-nos definir e acrescentar valor enquanto seres humanos. Querermos mudar de rumo para transmitirmos também isto aos nossos filhos, vale muito. Conciliar isto, com flexibilidade de tempo e presença na vida dele, é ouro sobre azul e vale todas as mudanças que forem necessárias.

Como identificar a melhor carreira com base na maternidade?

Devemos tomar decisões depois de passar o turbilhão hormonal do pós-parto e de termos encontrado um sítio respeitoso para os nossos filhos ficarem. Uma má adaptação escolar pode trazer ainda mais insegurança e caos aos pais. A chave está em refletirmos sobre dois pontos importantes: a flexibilidade de tempo e a nossa essência enquanto pessoa.

A flexibilidade de tempo é bastante óbvia. Os nossos filhos vão precisar de nós durante alguns bons anos. Tanto para situações mais chatas de doença, por exemplo, como para garantir bastante tempo de conexão e presença diária. Portanto, é importante seguir um caminho que permita ter horários flexíveis e durante o tempo de escola.

Em relação à nossa essência, aqui pode ser mais complexo e demorado. Temos de nos reconectar lentamente com aquilo que amamos, que nos faz vibrar, que nos empolga e nos faz sentir vivos. É na procura deste sentimento que saberemos que estamos a ir pelo caminho certo. Aquilo que nos torna melhores seres humanos, vai-nos ajudar a ser (ainda) melhores mães.

Dicas para conciliar carreira e maternidade sem culpa

Com cada mãe nasce também um sentimento infinito de culpa em relação a tudo. Queremos dar o melhor de nós para pudermos oferecer a melhor vivência aos nossos filhos. Só que aqui entra a parte da rasteira: o melhor de nós nunca poderá ser a nossa anulação. O nosso trabalho/ocupação profissional/propósito de vida é realmente uma parte importante, senão, essencial da nossa identidade. À medida que os nossos filhos vão crescendo, será cada vez mais fácil de explicar o porquê de querermos/termos de trabalhar. Um dia, também será motivo de orgulho para eles verem que a mãe/pai é um ser humano completo, com várias facetas e talentos e que desempenha um papel ativo e importante na sociedade.

Como vencer o medo e a insegurança ao mudar de profissão?

Infelizmente, a maior parte das pessoas muda por extrema necessidade. Um problema de saúde, um burnout, um casamento falhado são todos motivos fortes para uma pessoa necessitar de uma mudança positiva de forma a conseguir dar a volta por cima. Porém, idealmente, não precisamos de deixar as coisas chegarem a um ponto de onde pode não haver retorno. Devemos saber parar em situações de crise, distanciarmo-nos e olharmos com um sentido crítico para os problemas e procurarmos soluções, sem termos de perder nada de essencial. É preciso coragem para mudar, mas a sensação de bem estar que surge depois, faz tudo valer a pena. Temos de saber confiar mais nos nossos instintos, acreditar nas nossas capacidades e principalmente não ficarmos presas às ideias pré-concebidas que temos de nós próprias. Este é provavelmente o maior perigo: acharmos que apenas podemos ser uma coisa e que já não vamos a tempo. Vamos sempre a tempo e todas as alturas são boas para nos reinventarmos. É importante ponderar, pensar e planear, mas, uma vez tendo uma certeza, é respirar fundo e ir em frente, sem medo!

Empreender com filhos pequenos: é possível?

É possível sim, mas é exigente. Sermos empreendedores, ao contrário do que se possa pensar, dá muito mais trabalho do que trabalhar num emprego por conta de outrem. Trabalhar fora de horas, perder o sono por causa de responsabilidades, ser creativa e proativa são tudo realidades de pessoas que tem os seus próprios negócios. Porém, não só é possível, como podemos criar um trabalho em que sejamos donos do nosso tempo e o conseguimos gerir de forma mais benéfica para o equilíbrio pessoal. Empreender pode ser também a solução para talharmos um rumo profissional muito pessoal e único, em que temos a oportunidade de fazer a diferença, na área do nosso principal interesse.

Mulher a trabalhar com filho ao colo
Novos caminhos profissionais compatíveis com a maternidade

Hoje em dia, existe uma ferramenta, que bem aproveitada, pode ser muito útil na descoberta por este novo caminho: a Internet. Existe uma panóplia de trabalhos que uma pessoa pode desempenhar de forma remota, desde freelancing a empreendedorismo digital, aproveitando também as redes sociais e a publicidade. São áreas em ascensão e que podem ajudar muito a obtermos trabalhos que nos permitam termos flexibilidade de horário, gerirmos com mais tranquilidade as nossas tarefas domésticas e termos disponibilidade para estarmos e prestarmos assistência aos nossos filhos quando fôr necessário.

Como fazer uma transição segura e planeada?

Há alguns pontos fundamentais a ter em conta e sobre os quais devemos refletir antes de tomarmos decisões. São eles:

  • Autoconhecimento

  • Pesquisa de mercado

  • Formação e atualização

  • Networking

  • Planeamento financeiro

Com o devido planeamento, ponderação e conhecimento podemos tomar as decisões que nos permitam viver a maternidade com mais paz e presença, sem deixarmos as nossas restantes facetas de lado. Pode parecer um caminho mais difícil e inseguro, mas a médio prazo, será certamente muito gratificante e pleno.

Escrito por

Carolina W. Pinheiro

Mãe de 2 e apaixonada pela infância e toda a sua influência na nossa personalidade e trajeto de vida. Em eterna busca daquilo que a preenche e intriga, já trabalhou como farmacêutica, cozinheira e mais recentemente em vias de se tornar ama.