Brincar ao ar livre: O poder da natureza na infância

A infância é a fase principal para o ser humano descobrir o mundo e se desenvolver e a natureza é essencial nesta etapa, principalmente nos primeiros cinco anos de vida, aqueles anos fundamentais para desenvolvimento humano.

 

Então, neste artigo, iremos falar um pouco mais da importância da natureza na infância e te ajudar a incentivar a brincadeira na natureza e incentivar a conexão para promover um desenvolvimento saudável e feliz.

 

Volte à sua infância e agora tente lembrar dos momentos mais marcantes dela…

Quais foram eles?

Eu, particularmente, lembro do meu avô construindo uma casa de palha de coqueiro para mim, minha irmã e minhas primas. Lembro de ir explorar uma área que tinha no meu prédio que chamávamos de matagal, onde era cheia de jaqueiras enormes e a gente escorregava pela terra. A infância é isso, um momento mágico de descoberta e aventura, e a natureza é o palco perfeito para essa etapa da vida. 

 

Primeiros passos 

Desde os primeiros passos até as primeiras palavras, as crianças aprendem e crescem em contato com a natureza, descobrindo a textura da grama, o som dos animais, o cheiro das flores, entendendo sobre dias e chuva e dias de sol, sobre estações do ano E, junto a isso, elas desenvolvem habilidades importantes, como a curiosidade, a criatividade e a resiliência. 

A natureza representa em muitos aspectos o ambiente ideal para o desenvolvimento infantil: é cheia de estímulos que despertam a inteligência e exercitam os sentidos, oferece diferentes possibilidades de experimentação e movimento, favorece a convivência social, estimula o desenvolvimento de toda a personalidade no psicomotor, emocional, social e cognitivo e desperta equilíbrio e satisfação.

No entanto, em uma época em que a tecnologia e a urbanização estão cada vez mais presentes em nossas vidas, as crianças estão passando cada vez menos tempo ao ar livre. Isso pode ter consequências negativas para o seu desenvolvimento e bem-estar.

 

Afinal, quais são os benefícios da brincadeira na natureza?

 

Desenvolvimento motor

Desenvolver habilidades por meio dos movimentos que a natureza nos ajuda a fazer como saltar, correr, equilibrar, subir e descer. 

 
criança segurando caules verdes suja de lama
Criança conectada com a natureza (arquivo pessoal)

Aprendizado ao ar livre

Vivenciando fenômenos naturais e o ritmo das estações, as crianças aprendem coisas de forma mais natural do que nas escolas tradicionais, onde são aprendidas por meio dos livros, como ciência, biologia e ecologia de forma prática e interativa. A natureza também é um ambiente rico em estímulos que podem inspirar a criatividade das crianças.

 

Conexão com a natureza

A brincadeira na natureza ajuda as crianças a se conectar com o mundo natural e a desenvolver uma sensação de responsabilidade em relação ao meio ambiente. Sendo o próprio ambiente que educa por meio de experiências que as crianças fazem espontaneamente e independentemente.

 

Redução do estresse

A brincadeira na natureza pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade nas crianças, pois a natureza tem um efeito calmante sobre elas. Perceba como seu filho dorme melhor quando passar a tarde brincando num parquinho cheio de árvores. 

 

Desenvolvimento cognitivo

A brincadeira na natureza pode ajudar as crianças a desenvolver habilidades cognitivas, como a resolução de problemas.

 

Estimulação social

As crianças aprendem a considerar umas às outras, a esperar, a ouvir umas às outras, a aceitar fraquezas e forças individuais e desenvolver muito rapidamente um forte sentimento de pertencimento ao grupo.

 

Abaixo, algumas dicas de como incentivar a brincadeira na natureza:

 

Encontre espaços naturais

Encontre parques, praças ou áreas verdes próximas à sua casa.

 

Exploração

As crianças adoram explorar, incentive isto! Deixe-as explorarem e descobrirem a natureza por contra própria. 


Jogue com as crianças

Jogue algum jogo na natureza e incentive-as a se divertirem.  

 

Picnic

Que tal um picnic ao ar livre, no parque da sua cidade, onde elas possam comer e brincar ao mesmo tempo? 

 

Jardim

Crie um jardim com as crianças, onde elas possam plantar e cuidar de suas próprias plantas.

 

Forneça equipamentos

Forneça às crianças equipamentos, como binóculos ou uma lupa, para ajudá-las a explorar a natureza.

 

Seja paciente

Para mim este é o principal: seja paciente e permita que as crianças explorem e descubram a natureza ao seu próprio ritmo. Na verdade, não precisamos fazer nada, apenas leva-las ao ar livre, esperar e ser um observador apenas. 

 

A brincadeira na natureza é fundamental para o desenvolvimento saudável e feliz das crianças. Além de proporcionar benefícios físicos e cognitivos, a brincadeira na natureza ajuda as crianças a se conectar com o mundo natural e a desenvolver uma consciência ambiental.

Incentive as crianças a brincar na natureza e ajude-as a desenvolver uma relação saudável e feliz com o mundo ao seu redor.

Clicando aqui você poderá conferir uma matéria com Stefania Masala, que desenvolveu em Malta o projeto “Living Mindful Education”, inspirado na Forest School, onde envolve uma experiência ao ar livre, senso de comunidade educacional e caminho de autoaprendizagem.

Escrito por

Flávia Oliveira

Jornalista e Relações Públicas, formada em Mediadora de Conflitos, pelo Instituto Federal de Brasília, através da Tertúlia Literária Dialógica. Mãe de dois: Mia e Andrea, vivendo em Malta e sempre com uma passagem para o próximo destino a ser descoberto.

Forest School: você conhece este termo? Confira a entrevista com Stefania Masala

A Escola Florestal (Forest School) é um modelo de educação infantil que busca conectar as crianças com a natureza, promovendo o aprendizado e o desenvolvimento por meio de atividades ao ar livre.

E, nesta entrevista, a italiana Stefania Masala, discorre um pouco mais sobre o conceito de Forest School e conta como decidiu criar a própria Forest School, em Malta, na Europa. 

Com origem na Dinamarca, na década de 1950, os princípios básicos da Forest School incluem: conexão com a natureza, aprendizado por meio da experiência, desenvolvimento da autonomia, foco na criatividade e na imaginação. E algumas das atividades são: exploração da natureza, com caminhadas, observação de plantas e animais, trabalhos manuais com materiais naturais, como madeira, pedra, jogos de equipe, brincadeiras de faz-de-conta, aprendizado de habilidades práticas, como fazer fogueira, por exemplo. 

 

De onde surgiu a ideia de iniciar o projeto de uma Forest School?

Desde que engravidei, tenho me interessado profundamente pelo mundo da infância, aprendendo sobre desenvolvimento infantil, psicologia, crescimento cognitivo, nutrição e alimentação saudável. Como uma aprendiz autodidata, li vários livros e explorei de forma independente vários aspectos da educação, gradualmente adotando uma abordagem respeitosa e uma criação gentil. Dois anos atrás, quando meu filho tinha cerca de três anos, decidi formalizar meu conhecimento matriculando-me na Academia de Podiagogia Viva, onde estudei mais tópicos como psicologia infantil, neurociência, educação ao ar livre, criação de filhos e educação emocional. E não me sentindo satisfeita com o sistema educacional tradicional, decidi criar minha própria escola na floresta. Junto com minha colega Kira Sullivan, combinei meu conhecimento para desenvolver uma experiência educacional que prioriza o respeito pelas crianças, a conexão com a natureza e um processo de aprendizagem enraizado na liberdade e experiências práticas. Hoje, este projeto é uma realidade que fazemos com paixão.

uma mulher de óculos e cabelo curto ao lado de uma mulher com um coque no cabelo
Kyra e Stefania, respectivamente, da Living Mindful Community, em Malta

Qual é o principal propósito da Forest School?

O propósito da Forest School é oferecer uma abordagem educacional alternativa ao sistema tradicional, permitindo que as crianças se conectem com a natureza diariamente e explorem suas necessidades intrínsecas. A natureza fornece todos os estímulos necessários para o desenvolvimento saudável da criança. Além disso, a abordagem educacional usada na Forest School é centrada na criança e sem julgamentos, honrando a individualidade de cada criança. Isso cria um ambiente de apoio onde as crianças se sentem livres para serem elas mesmas, promovendo autoconfiança e um forte senso de segurança.

 

Como é uma rotina típica em uma Forest School?

Não há uma rotina fixa em todas as Forest Schools, cada uma tem a sua. Muitas começam e terminam com um tempo de roda, mas descobrimos que, apesar de oferecê-lo várias vezes, as crianças não estavam interessadas. Em vez disso, escolhemos nos concentrar em algo de que realmente gostam. Embora seja verdade que as rotinas fornecem uma sensação de segurança ao criar previsibilidade, observamos que as crianças se movem pelo espaço com confiança e desenvolvem naturalmente suas próprias rotinas. Para nós, um momento-chave da rotina é a hora do lanche, quando muitas crianças escolhem sentar e comer juntas. A maior parte do tempo é dedicada à brincadeira livre, onde as crianças têm a liberdade de explorar, inventar e criar. Elas se envolvem em construção, brincadeiras imaginativas e dramatizações, desenvolvendo sua criatividade e habilidades de resolução de problemas. Ocasionalmente, oferecemos atividades guiadas, mas a participação fica inteiramente a cargo da criança. Uma característica definidora da Forest School é que a maioria das atividades é iniciada e liderada pelas crianças. Algumas são iniciadas pelas crianças, mas guiadas por adultos, enquanto poucas são iniciadas por adultos e lideradas pelas crianças. Muito poucas atividades são iniciadas e dirigidas por adultos, garantindo que as crianças permaneçam no centro de suas próprias experiências de aprendizagem.

 

Quais são os benefícios da Forest School para as crianças?

Pessoalmente, testemunhei um progresso incrível nas crianças. As mudanças mais significativas estão em sua autoconfiança e segurança. Esses pequenos indivíduos recebem espaço e tempo para desenvolver uma ampla gama de habilidades, guiados por educadores conscientes que os conduzem em uma jornada de aprendizagem autodirigida com uma abordagem sem julgamentos. Isso ajuda a criança a se sentir competente e, quando uma criança se sente assim, naturalmente promove um forte senso de autoestima e confiança. Outro aspecto crucial é a educação emocional. Nós nos concentramos muito nas emoções, frequentemente perguntando às crianças como elas se sentem. Isso lhes dá a oportunidade e o tempo para explorar suas emoções por meio da experiência direta, o que é um fator-chave para permitir o aprendizado real e promover a motivação intrínseca. Um elemento importante adicional é que a jornada de aprendizagem é autoguiada. Tentamos intervir o mínimo possível, permitindo que a criança permaneça conectada a si mesma, ouça suas próprias necessidades e navegue em seu caminho de aprendizagem pessoal por meio da experiência direta.

 

Como você lida com questões de segurança e risco em uma Forest School?

Um aspecto importante é o conceito de risco. Incentivamos atividades como subir em árvores, acender fogueiras, usar ferramentas reais de jardinagem e carpintaria e muito mais. Essas atividades ajudam a desenvolver habilidades como autoestima e confiança, pois as crianças têm espaço e oportunidade para explorar suas habilidades e se sentir competentes. Mantemos uma proporção de crianças por educador para garantir uma supervisão eficaz, permitindo que os educadores orientem as crianças em situações de risco com uma abordagem e linguagem conscientes e de apoio. Em vez de dizer “Tenha cuidado!”, perguntamos: “Você se sente seguro? Verifique seu equilíbrio. Olhe para seus pés.” Isso incentiva a criança a permanecer conectada consigo mesma, explorar seus limites e desenvolver as habilidades necessárias para lidar com riscos com segurança.

 

Qual é o futuro da Forest School?

Tenho muita esperança no futuro da Forest School, acreditando que é o único caminho para o desenvolvimento saudável de uma criança. Muitos países estão abrindo Forest Schools para restaurar o espaço natural para o crescimento das crianças, que está sendo gradualmente perdido. No entanto, ao mesmo tempo, estou preocupada, pois em alguns países há pouca conscientização sobre isso. Por exemplo, em Malta, somos a única Forest School verdadeira que segue seus princípios. É muito desafiador alcançar famílias que estejam cientes e dispostas a abraçar um caminho educacional diferente do tradicional, e questionar o que a sociedade tem oferecido até agora.

 

Como a Forest School se diferencia de outras abordagens educacionais?

A Forest School se diferencia do sistema educacional tradicional porque se concentra nas necessidades individuais de cada criança. Cada criança é única, com suas próprias necessidades pessoais que devem ser atendidas, e com uma proporção maior de criança para educador, temos a oportunidade de atender às necessidades de cada criança individualmente. É por isso que a proporção de criança para educador é muito maior do que nas escolas tradicionais. Além disso, cada criança segue um caminho de aprendizagem autodirigida, o que geralmente está ausente na educação tradicional, onde um método é aplicado a cada criança.

Outro aspecto muito importante é que não usamos recompensas ou punições. Em vez disso, nos concentramos em promover a motivação intrínseca, apoiada por uma linguagem positiva, sem oferecer recompensas ou consequências externas. Recompensas e punições, de fato, impedem que a criança desenvolva uma verdadeira motivação intrínseca, em vez disso, promovem a motivação externa com base em agradar aos outros ou confiar no julgamento externo. Acredito que a necessidade de aprovação externa é um aspecto profundamente preocupante da sociedade de hoje.

criança de jumper branco numa rampa de escorregar pikler
Criança na Forest School (arquivo pessoal)

Quais são os desafios mais comuns que as crianças enfrentam em uma Forest School?

Um dos maiores desafios para as crianças é aprender a administrar conflitos. Inicialmente, elas não estão acostumadas com a abordagem da Escola da Floresta, onde os educadores intervêm apenas em casos de perigo e agem como mediadores, fazendo perguntas para facilitar a comunicação em vez de fornecer soluções. Essa abordagem ajuda as crianças a desenvolver habilidades de resolução de conflitos e independência para lidar com desentendimentos e, consequentemente, desenvolver confiança e segurança. Administrar conflitos também pode ser um desafio para os educadores, pois cada criança e situação são diferentes. Não há regras fixas, apenas uma abordagem orientadora em que o educador deve reconhecer quando os conflitos desencadeiam suas próprias respostas emocionais e manter a neutralidade sem rotular a criança como vítima ou agressora. Ao vivenciar o conflito, as crianças têm a oportunidade de se envolver totalmente com suas emoções, desenvolver autoconsciência, construir empatia pelos outros e aprender a navegar em situações sociais difíceis. No entanto, muitas crianças não estão acostumadas a isso porque, nas famílias e nos sistemas educacionais tradicionais, os conflitos são frequentemente silenciados. Os adultos, influenciados por padrões geracionais, tendem a suprimir o conflito e as emoções que o acompanham, sentindo desconforto e inadequação. Como resultado, as crianças geralmente não têm permissão para discutir ou expressar desacordo. No entanto, o conflito é uma parte natural e saudável dos relacionamentos humanos. Um educador consciente orienta as crianças em desacordos, fazendo perguntas e ajudando-as a expressar seus sentimentos, facilitando a resolução sem intervenção desnecessária, a menos que haja uma preocupação com a segurança.

 

Como a Forest School ajuda as crianças a desenvolver habilidades sociais e emocionais?

Na Forest School, as crianças vivenciam emoções e aprendem a administrar conflitos em primeira mão, com intervenção mínima dos educadores, a menos que haja uma preocupação com a segurança ou que tenham dificuldade para chegar a um acordo ou se comunicar de forma eficaz. Por meio de relacionamentos, conflitos, brincadeiras livres e dramatizações, as crianças desenvolvem naturalmente habilidades sociais e emocionais. Ao representar diferentes situações, elas processam emoções e ganham uma compreensão mais profunda de si mesmas e dos outros. Durante as brincadeiras livres e os conflitos, as crianças também desenvolvem empatia, uma qualidade reforçada por educadores que validam cada emoção, ao mesmo tempo em que estabelecem limites claros se um comportamento for considerado inseguro.

O papel do educador é fazer perguntas orientadoras que facilitem o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, como:

• Como você se sente?

• Como você acha que ele/ela se sente?

• Como você se sentiria se ele/ela fizesse com você o que você acabou de fazer com ele/ela?

• Vejo que você está lutando para encontrar uma solução. O que você sugere?

Ao se envolver repetidamente nesse tipo de diálogo, as crianças internalizam um sistema de comunicação que gradualmente começam a usar de forma independente. No entanto, esse processo leva tempo, e é por isso que os programas da Forest School são frequentemente projetados como projetos de longo prazo. Além disso, enquanto os educadores introduzem atividades focadas na educação emocional, a experiência direta é a chave para o aprendizado real. É por isso que a brincadeira livre tem tanto espaço, ela permite que as crianças encontrem e naveguem naturalmente pelas emoções, relacionamentos e conflitos de forma significativa.

 

Qual é o papel dos professores e monitores em uma Forest School?

O papel de um educador deve ser o de um guia e mediador. A intervenção, tanto na brincadeira quanto nos conflitos, deve ser reduzida ao mínimo, permitindo que as crianças desenvolvam totalmente seu potencial sem influência externa. A abordagem de um educador deve ser sem julgamentos, o que significa que ele nunca deve julgar crianças ou situações. Cada criança é aceita como é, com suas emoções sempre validadas e orientação gentil fornecida quando enfrentam desafios. Em conflitos, não há agressores ou vítimas. Um educador deve ir além de seu senso pessoal de justiça, que é moldado por suas próprias experiências de vida. Sua perspectiva nunca deve influenciar seu relacionamento com a criança ou como os conflitos são tratados, pois cada criança é um indivíduo único com sua própria história pessoal. Em última análise, o papel do educador é apoiar e orientar cada criança para se tornar a melhor versão de si mesma.

 

Como os pais e responsáveis podem se envolver na educação de seus filhos em uma Forest School?

Todos os pais ou cuidadores devem estar ativamente envolvidos na educação de uma criança. Inicialmente, permitimos que os pais participassem do projeto junto com seus filhos. No entanto, com o tempo, introduzimos um período de transição e, por fim, decidimos que os pais não estariam presentes durante o horário do projeto. Há várias razões para essa decisão. Primeiro, observamos que a dinâmica entre as crianças muda significativamente quando um dos pais está presente. A criança tende a centralizar sua atenção no pai, muitas vezes criando interrupções no espaço. Em contraste, quando os pais não estão presentes, as crianças naturalmente se voltam para os educadores, promovendo um senso mais forte de coesão e harmonia do grupo. Além disso, notamos que muitos pais não aplicam a abordagem da Forest School descrita nos pontos anteriores. Isso pode interferir na transformação educacional que pretendemos fornecer. Os educadores passam por um trabalho pessoal significativo para confrontar suas próprias histórias e adotar uma abordagem sem julgamentos, orientadora e mediadora com intervenção mínima. Os pais não são obrigados a passar por esse processo, embora seja fortemente encorajado para aqueles que buscam uma abordagem diferente para a criação dos filhos e a educação. Para dar suporte a isso, oferecemos workshops para pais a cada 6–8 semanas, onde compartilhamos insights sobre o desenvolvimento infantil e os benefícios da nossa abordagem educacional. A comunicação aberta entre educadores e pais também é essencial, garantindo um entendimento compartilhado da jornada educacional de cada criança. Os princípios aplicados na Forest School devem, idealmente, se estender ao ambiente doméstico para fornecer às crianças uma experiência educacional consistente e coerente. Manter a continuidade entre a escola e o lar é crucial para o desenvolvimento da criança.

Entrevistada

Quando se descobriu grávida mergulhou nos estudos sobre o mundo da infância. Leu diversos livros e explorou de forma independente vários aspectos da educação. E resolveu criar a própria Forest School dela em Malta, juntamente com Kyra Sullivan (ao lado esquerdo), chamado Living Mindful Community.

Escrito por

Flávia Oliveira

Jornalista e Relações Públicas, formada em Mediadora de Conflitos, pelo Instituto Federal de Brasília, através da Tertúlia Literária Dialógica. Mãe de dois: Mia e Andrea, vivendo em Malta e sempre com uma passagem para o próximo destino a ser descoberto.

Leitura na educação infantil. Como incentivar meu filho?

Ensinar o gosto por atividades de natureza não digital como a leitura para minha filha de sete anos foi um desafio nos últimos anos. Isso porque desde o seu primeiro aninho de vida, ela vê meu marido e eu sempre com o celular e assistindo TV, por exemplo.

Ela aprendeu seus primeiros comportamentos, imitando a gente. Ela sempre me via pesquisando na internet antes de fazer alguma compra, escrevendo meus artigos do trabalho usando o notebook e curtindo e compartilhando fotos dos momentos divertidos, às vezes sem aproveitá-los completamente.

Tudo mudou quando ela entrou na escola, aos 5 anos, e entrei na pós-graduação em 2022.

Neste post você vai ver:

  • A importância da leitura na infância;
  • Impacto das tecnologias digitais na leitura infantil;
  • Dicas para estimular a leitura em crianças;
  • Cantinho da leitura.

O exemplo ensina mais do que as palavras

Por ser uma profissional da área de Letras desde 2006, aprendi que a leitura é um processo mais complexo do que a tradução dos símbolos para o significado do idioma local.

Nas primeiras aulas de Literatura, os professores nos ensinaram que ler é interpretar o mundo por meio das palavras e símbolos presentes nos textos e situações ao nosso redor.

Mas como diz o ditado que “em casa de ferreiro, o espeto é de pau”, ao trabalhar direto durante a pandemia, deixei que a aceleração do consumo digital entrasse na rotina dela antes da leitura.

Como sempre estamos aprendendo, em 2022 preciso voltar a estudar. Nesse mesmo ano, minha filha entrou na escola, no segundo ano do ensino infantil (o famoso pré 2, no Brasil).

Foi nessa época que ela começou a me ver lendo e escrevendo manualmente enquanto assistia as aulas remotas da pós-graduação. Daí em diante, ela passou a me copiar, pegando sempre um caderninho e os livros que já tinha em casa para me acompanhar nas aulas em casa. 

Esse novo costume a ajudou a se interessar mais pelo o que estava escrito em minhas apostilas e livros e seu processo de aprendizado foi bem mais fácil. Consegui recuperar o tempo perdido no ensino pelo gosto pela leitura e escrita, ao incluí-las em mudar minha rotina.

Primeiro contato com os livros

Segundo os Pediatras, antes mesmo de aprenderem a ler, é importante que nossas crianças tenham contato com os livros por meio da contação de histórias e visualização das figuras para serem estimulados a desenvolverem a imaginação.

Pois como podemos vivenciar na prática, ao verem seus cuidadores sempre lendo, as crianças podem passar a copiar o exemplo e adotam mais facilmente esse hábito. 

Aprendemos que após o contato contínuo e cedo com as histórias contadas, durante a o primeiro segmento do ensino fundamental, as crianças aprenderão mais facilmente a:

  1. Interpretarem os conteúdos dos livros literários e didáticos; 
  2. Desenvolverem a imaginação;
  3. Escreverem suas primeiras palavras;
  4. Aprenderem a se comunicar melhor;
  5. Desenvolverem o senso crítico naturalmente.

Mas como podemos ajudar os pequenos a incorporarem esse hábito na prática? Criando um espaço especial para essa atividade: o cantinho da leitura.

Criação do Cantinho da Leitura

Como ocorre no ensino de outros hábitos aos nossos filhos, é preciso que a leitura faça parte da rotina de todos que moram na casa da criança. 

Para isso, educadores e psicopedagogos recomendaram a criação de um espaço diferenciado para o tempo de leitura.

Vejam um passo a passo para a criação do cantinho da leitura:

1- Reserva de um local separado para a leitura, no quarto da criança ou em um cômodo específico da casa;

2- Escolha dos livros de acordo com a faixa etária da criança;

3- Organização do local de forma que fique aconchegante e convidativo;

4- Constância nas atividades no espaço.

5- Estímulo à procura independente da criança aos livros, mostrando que seu acesso é livre e o espaço é para ela aproveitar.

Organizando os livros no cantinho de leitura

Para facilitar o acesso espontâneo da criança, uma boa tática é separar os livros em categorias de acordo com o tema, gênero ou autor, da forma que funcionar melhor na realidade dela. 

Outra estratégia é convidar seus filhos para arrumá-los, convidando-os a criarem etiquetas personalizadas, com figurinhas e letras coloridas que ajudarão na identificação de cada obra, incluindo os pequenos no processo de cuidados com o local e os livros.

Tempo ideal de leitura diária

Uma dúvida de muitos pais é sobre o tempo que devemos reservar para a leitura diária com os pequenos. Não há uma regra, contudo alguns especialistas explicam que para facilitar a criação desse hábito, o tempo inicial ideal é de 10 a 15 minutos por dia, para que o processo seja natural e leve. 

#PraCegoVer: Rebeca de 7 anos lendo quadrinhos.

 

Hábito da leitura e desenvolvimento acadêmico

As crianças que têm o hábito de leitura incentivado em casa, quando vão para a escola apresentam melhor capacidade de concentração, memória e raciocínio, que são habilidades cognitivas essenciais para seu processo de alfabetização e crescimento.

A leitura estimula o cérebro, atuando na formação de conexões neurais e na habilidade de conseguir resolver problemas. Ler ajuda também no aprendizado das estruturas da língua, por meio da ampliação do vocabulário, e na aquisição e melhora da capacidade de comunicação da criança.

Outro aspecto importante é o emocional, pois ao ter contato com questões semelhantes aos problemas sociais e afetivos da vida cotidiana, as crianças aprendem a lidar com suas realidades e as dos colegas.

A importância da leitura na educação inclusiva

Em tempos de educação plural e inclusiva, é importante que os pais comprem livros que abordam as dificuldades de personagens que sejam de etnias ou realidade social diferentes da maioria, ou que apresentam alguma peculiaridade física ou mental. 

Assim, ajudarão as crianças a se colocarem no lugar do colega que está enfrentando dificuldades na história e desenvolverão a empatia, entendendo um pouco sobre as diversas realidades que cada um vivencia.

Ainda nesse contexto de diversidade, o contato com os livros que falem sobre letramento racial e bullying, por exemplo, ajudam as crianças que sofrem com o preconceito a entenderem que não estão sozinhas e que é preciso sempre falar sobre os seus medos com seus pais e educadores, em caso de episódios de agressão verbal ou física. 

Mas de que adianta ter o espaço, o livro apropriado e horário reservado para as atividades lúdicas, se o contato dos pequenos com as telas é cada vez mais precoce?

Impacto das tecnologias digitais na leitura infantil

Na era da realidade virtual e inteligência artificial, é normal que as crianças tenham maior dificuldade ao precisarem ter contato com materiais físicos por longos períodos. Por isso é importante que todos das casas revejam suas rotinas e mudem seus hábitos, especificamente sobre o tempo em frente às telas.

O aumento do consumo virtual pós pandemia fez com que muitas famílias trocassem as atividades físicas e manuais da vida real pelas facilidades imediatistas da realidade virtual, com uso de aplicativos e registros do cotidiano nas redes sociais.

As crianças, por sua vez, tiveram contato com essas tecnologias mais cedo e por mais tempo. Assim, aprenderam a consumir os conteúdos prontos, com exposição contínua a vídeos de crianças com vidas irreais e preferência por vídeos curtos e por jogos muitas das vezes violentos, para dar vazão a toda ansiedade que o excesso de telas causa.

Retomando o gosto pela leitura em família

Com a família trabalhando unida, será mais fácil que os filhos aprendam que é possível viajar o mundo todo através das histórias contadas nos livros.

Assim, precisamos nos lembrar de que a leitura pode ajudar a:

– Diminuir o estresse diário, por ser uma atividade de atenção direcionada, nosso cérebro tende a ficar mais focado e nosso corpo menos tenso;

– Proporcionar diversão e entretenimento, pois ao imaginar os lugares e personagens ficamos focados na história e esquecemos um pouco das outras demandas;

– Exercitar nosso cérebro de forma lúdica por meio da imaginação.

Mas se ainda sim meu filho não quiser ler?

  1. Leia para ele! Talvez ele já saiba ler sozinho, mas ao ouvir as histórias contadas por outra pessoa, ele tenha a curiosidade estimulada pela imaginação e desperte o interesse pela leitura.
  2. Ofereça uma variedade de livros que possam capturar seu interesse. Observe o tipo de conteúdo que ele consome na internet e faça uma busca com temas similares;
  3. Mantenha o entusiasmo pela leitura. É importante perseverar com esse hábito de terem um tempo de qualidade com os livros;
  4. Visitem bibliotecas e feiras de livros da sua cidade. Mostre como o mundo literário é amplo, revolucionário e divertido até fora de casa e da escola.

 

Dica extra:

Acessem no site da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) as campanhas sobre leitura para ajudar no desenvolvimento cognitivo e de comunicação das crianças.

O conteúdo da campanha “Receite um livro: A importância de recomendar a leitura  para crianças de 0 a 6 anos”, disponível em no site da SBP, nos ajuda até hoje nessa importante parte da criação dela.

Mulher negra sorrindo com cabelo cacheado e batom vinho, vestindo blusa amarela

Edição geral de Rondy Cavulla e escrito por

Gabi Sucupira

Carioca apaixonada pelas Letras, mãe da Rebeca, empreendedora e especialista em Marketing.

Método Montessori: O que é Montessoriano e como funciona??

Venha entender a pedagogia montessori: uma educação centrada na autonomia da criança que promove independência e aprendizado naturalmente. Veja como aplicá-lo na escola e em casa.

Maria Montessori, médica e educadora italiana, criou o método para promover a aprendizagem sem comprometer o desenvolvimento da criança.

Para entender a educação Montessori foque nos seus seis pilares:

  1. auto educação
  2. educação como ciência
  3. educação cósmica
  4. ambiente preparado
  5. criança equilibrada

Neste post você vai ver

 

     

      • O que é a pedagogia Montessoriana?
      • Escolas que utilizam;
      • Como aplicar em casa;
      • Como é na prática?

    Escolas que utilizam o método Montessori 

     

    O método montessori é uma desconstrução de tudo o que sabemos sobre educação. E o ambiente é preparado conforme a idade. 

    No berçário, onde ficam os bebês de quatro meses até o andar firme, a educação é inteiramente centrada na criança.   

    Logo após esse período, vem as salas que abrangem as idades intermediárias, indo do andar firme até o desfralde. Sucessivamente, as salas de três a seis anos. 

    Cada sala tem suas áreas de desenvolvimento, onde prepara indiretamente os alunos para: escrita, linguagem, matemática, física, química, biologia, sensorial, culinária, etc.  

    Educação cósmica 

    Onde educam a criança para a vida, mostrando a importância dela no mundo. Ensinam a cuidar do meio ambiente e dela mesma. 

    Na sala de 3 a 6 anos, estudam como o mundo é concebido, de onde surgiu e o que é o ser humano dentro desse contexto. 

    O custo mensal de uma escola Montessoriana 

    As escolas montessorianas geralmente são privadas, e com mensalidades mais altas que as escolas tradicionais. As mensalidades podem variar, dependendo da localização, infraestrutura e recursos disponibilizados.

    É importante ressaltar que o método montessori é conhecido por proporcionar uma educação única e personalizada.  

    Aplicando Montessori em casa 

    É preciso um novo olhar sobre educação e que a gente respeite o desenvolvimento natural da criança

    Nosso papel é garantir que esse desenvolvimento seja saudável. E isso já começa na gestação, com lugares calmos, músicas e alimentação saudável. 

    Precisamos deixar de lado a superproteção e, claro, respeitar os esforços dos nossos filhos, porque eles aprendem através da tentativa e do erro.  

    Devemos ajudá-los a viver em paz e harmonia consigo mesmos, com os outros e com o mundo que os rodeia.  

    Precisamos fazer com que sintam liberdade para ser quem são. Ajudando nossas crianças a amadurecerem de forma independente e responsável. 

    Ambientes  

     

    Camas Baixas:

    Um colchão no chão permite que a criança suba e desça sozinha, promovendo independência. Pode ser algo mais estruturado, desde que seja baixo e sem nenhuma proteção após os quatro meses. 

    Espelho e Barra:

    O espelho na parede na horizontal para que ela se veja engatinhando. A barra para ajudar a criança a ficar em pé. É uma ferramenta incrível para que a criança se reconheça. 

    Guarda-Roupas:

    É fundamental que a criança tenha autonomia ao escolher o que vestir. Uma arara de madeira baixinha também funciona se não for possível ter algo muito estruturado. 

    Brinquedos Limitados:

    Poucos e bons brinquedos, que a criança realmente brinque. Isso estimula a criatividade e o foco. 

    Banheiro e Cozinha:

    No banheiro, uma opção simples é um banquinho para que ela acesse o vaso e o balcão da pia. Incentive a prática de higiene pessoal das crianças. 

    Na cozinha, você pode deixar potes pequenos, pratos e talheres em algum lugar que ela possa acessar. É importante que você ensine a usar cada uma das coisas da cozinha.

    Atividades Práticas: Com o tempo, ela aprende a fazer as coisas para si, com menos ajuda de um adulto. 

    Como colocar em prática? 

    Importante que você faça o exercício de forma silenciosa, apenas demonstrando a ação que a criança terá que fazer. 

    Atividade de transferência de água com copos: 

    Materiais Necessários:

    Dois copos iguais e transparentes, ou uma jarra e um copo. Se desejar, você pode colorir a água com corante para tornar a atividade mais divertida. 

    Objetivo:

    A criança vai transferir água de um copo para o outro, o que ajuda a desenvolver a concentração, paciência e a ordem. 

    Ensinando a Técnica:

    Mostre à criança como segurar a jarra corretamente, usando ambas as mãos para evitar derramamentos. Isso também ensina sobre a força necessária para manusear objetos. 

    Servindo a si mesma:

    A criança pode aprender a se servir sozinha, o que é um grande passo para a independência. Incentive-a a servir água para outra pessoa, promovendo a gentileza. 

     

    Para mamães e papais de plantão

    Alguns pontos muito importantes sobre como as atividades diárias são essenciais para o desenvolvimento da criança: 

    Incluir a Criança nas Tarefas: É fundamental envolver as crianças nas atividades da casa, como varrer, lavar, regar e dobrar. Isso as faz sentir parte da família e ajuda no desenvolvimento de habilidades práticas. 

    Promover a Autonomia: Permitir que as crianças toquem e interajam com os objetos da casa é crucial para sua autoestima e desenvolvimento. Elas devem se sentir capazes e importantes nas atividades diárias. 

    Respeite a condição de criança: Fique na altura da criança para conversar com ela. Respeitar a condição de criança nada mais é do que o respeito com o ser humano.  

    Olhe sempre nos olhos: Olhar nos olhos, usar o tom de voz que você usaria com um adulto; coloque limites dando escolhas.  

    Aplique o método Montessoriano 

    Essas práticas não apenas facilitam o aprendizado, mas também fortalecem os vínculos familiares. Somos exemplos para os nossos filhos, então, sejam consistentes. 

    O importante é que as crianças cresçam explorando tudo ao seu redor e aprendam no seu próprio ritmo. 

    Artigo escrito pela equipe MyBabyCare com edição geral de:

    Rondy

    Mãe da Maria Olívia, expatriada em Malta, Gestora, SEO e especialista em Museus e Patrimônio Cultural.