A Higiene Natural (HN) é um método que atende às necessidades de evacuações de um bebê. Sendo necessário prestar atenção aos sinais que o bebê transmite e assim levá-la para um local apropriado.
A seguir a entrevista com a especialista Fernanda Paz:
1- Como posso combinar a HN com outras práticas de cuidado ao bebê, como amamentação ou co-sleeping?
Essa é a melhor parte! Porque os sinais de eliminação são facilmente percebidos durante a amamentação e o sono e a proximidade dos cuidadores principais nesse momento (porque quanto à amamentação não pensamos só no peito da mãe, tem a avó que dá mamadeira, o pai, a tia etc.
O bebê também pode ser “amamentado” por outros cuidadores, (não é verdade?) e são nesses momentos que os bebês estão mais “vulneráveis” e relaxados que os sinais de xixi e cocô ficam bem lógicos! Por exemplo, enquanto mama, se o bebê estiver precisando fazer xixi ou cocô (e provavelmente estará), ele irá repelir o corpo do cuidador com as mãos e pés, mesmo puxando o peito ou mamadeira, vai dar chutes contínuos, vai resmungar ou ficar pegando e soltando o peito, virando a cara para a alimentação! Já durante o sono, o bebê não consegue engatar ou permanecer em sono profundo, ele irá se remexer, tentar se descobrir ou despir, irá mexer muito as pálpebras e talvez dar uns gemidos ou fazer um chorinho como se fosse um cachorrinho filhote ou como se estivesse sonhando!
Na verdade, ele está em “sono-vigilia” e o cuidador que está ali coladinho, também não conseguirá ficar em sono profundo, afinal, o sensor de alerta corporal está ligado! É hora de proporcionar uma eliminação! A natureza do corpo é perfeita, não fomos feitos pra fazer xixi e cocô dormindo!
2- Qual é o papel do pai ou do parceiro na prática da HN?
O mesmo em toda a vida da criança! RESPONSABILIDADE! Cuide de sua cria, painho! Conheça sua cria, atenda sua cria, ouça, observe, esqueça o mundo lá fora, tem um mini humano diante de ti a ser CRIADO por ti, desde o nascimento! Esse mini humano tem necessidades fisiológicas básicas que exigem atendimento e, se não for bem atendido, ou morre ou fica com alguns probleminhas! Isso desde a nutrição, o sono, as eliminações , são necessidades básicas mesmo, primitivas, não tem jeito! Então, faz tua parte com maestria, vai ler a respeito, ouvir outros pais, te qualifica, adiante seu lado! Não fica na arquibancada não, entra em campo e dá teus dribles pra chegar no gol, sabe?
O pai só não tem o peito, todo o resto ele pode e deve fazer! Na verdade, se os homens soubessem o quanto liberam de testosterona e ocitocina quando cuidam ativamente dos seus filhos e o quanto isso libera de interesse nas mulheres… Ai ai, viu?
3- Posso praticar a HN com gêmeos ou bebês prematuros?
Pode sim! Mas, como em todas as dinâmicas com gêmeos, vai ser cansativo em muitos momentos, porém, como toda dinâmica de higiene natural, vai facilitar vários processos! Vai facilitar o sono, a amamentação, a economia, vai gerar um melhor aproveitamento do tempo pela previsibilidade dos momentos de eliminação e com o atendimento correto vai acabar facilitando a vida, ainda que sejam dois bebês simultaneamente!
Com relação aos bebês prematuros é a mesma questão, porém, tem um estudo que indicou que os sinais de eliminação dos bebês pré termo podem não ser nítidos ou imperceptíveis, o que não impede a prática já que podemos nos guiar pela cronobiologia (que são os horários/momentos de eliminações previsíveis).
4- Como posso lidar com a falta de privacidade ou julgamento de outros durante a prática da HN?
Os outros são os outros né? Todo mundo tem algum pitaco ou um jeito melhor de fazer, mas quem está lá na hora da disquesia ou das cólicas, somos nós! Quem não está dormindo bem somos nós e nossas crias, quem está gastando excessivamente, quem corre atrás de consultas, medicamentos, pomadas, quem sofre vendo o bebê sofrer? Pois é! Acho que já precisamos lidar com tanta coisa que podemos deixar os outros pra lá, rsrsrs!
5- Como posso lidar com a transição para a HN se meu bebê já está acostumado com fraldas?
Penso que as transições já são identificadas pelo nome! É importante compreender que é transitório, passageiro, uma fase.
E a única forma de alguma mudança acontecer na nossa vida é, primeiramente com a vontade de mudar! Esse é o primeiro passo! Se estamos sentindo que essa situação não está legal e desejamos uma realidade diferente, colocamos novas informações no cérebro e buscamos agir em conformidade com o novo plano!
O bebê é apenas reflexo do meio em que está inserido! Se até hoje demos a informação de que ele usa fralda 24h ininterruptamente e que ele pode urinar e defecar em si sem comunicação e que eu só vou resolver depois, esse é o aprendizado! Porém, se, pouco a pouco, eu vou modificando as atitudes com relação ao que estou oferecendo a esse bebê, com relação aos estímulos ambientais, sonoros e exemplares que estou dando, também pouco a pouco esse bebê vai aprendendo que as coisas são diferentes, quer um exemplo? Ao acordar, substitua a troca da fralda na cama, pela atitude de levar imediatamente o seu bebê para sentar no vaso! Em seguida troque a fralda. É só uma atitude nova, mas que já dá novo aprendizado àquele pequeno cérebro, ele já vai passar a se acostumar a acordar e fazer uso do banheiro!
Depois, vai chegar um dia em que vai coincidir essa sua oferta do vaso com a demanda dele urinar ao acordar. Faz-se aí um novo hábito! Claro que existem milhares de outros momentos e atitudes, podemos falar horas sobre isso, como ensinar a baixar e levantar as calças ou acessar a pia por conta própria quando houver necessidade de lavar as mãos, estou dando exemplos sobre como a mudança dos estímulos pode acarretar em mudança de resultados, até porque tudo dependerá da idade desse bebê, 3 dias, 3 meses, 3 anos?
6- Posso praticar a HN em diferentes ambientes, como em casa, no trabalho ou em viagens?
Claro que sim! Você vira chave quando começa a pensar como faria se seu filho tivesse 8 anos e precisasse usar o banheiro, como seria se estivesse em casa, no trabalho, no shopping ou no avião? Fariam uso do banheiro!
É simples mesmo, a diferença é que o filho de 8 anos avisaria em palavras e o bebê vai sinalizar com outras linguagens, com sinais visuais, auditivos e táteis, o que fica difícil mesmo é o malabarismo para posicionarmos com higiene e cuidado em ambientes diferentes de casa! Mas, tudo é prática! No meu blog e no meu primeiro livro “Bebê sem Fralda Brasil Higiene Natural” têm várias imagens e dicas práticas!
7- Como posso encontrar apoio e comunidade de outros pais que praticam a HN?
Nós representamos uma ínfima parcela da população! Mas estamos aqui e estamos por toda a parte! A grande verdade, é que a jornada por um maternar consciente é bem solitária mesmo no terceiro país que mais vende fraldas descartáveis no mundo! O segredo é manter a mente bem informada, por conta própria sem esse desejo inconsciente que temos de “pertencer” a algum grupo ou estar no meio de quem valide nossas escolhas! Fazemos porque sentimos! Isso é o que importa!
Agora, realmente é muito bom poder trocar ideias a respeito de nossas escolhas e ter a nossa “tribo” onde sabemos que não seremos “loucos” por ter um álbum de fotos de cocos no penico! Hahahah… Por isso, no meu curso completo de Higiene Natural disponibilizo uma comunidade onde os pais podem se conhecer e tirar dúvidas entre si. No antigo Facebook também tenho um grupo do bebê sem fralda e volta e meia abro grupos no whatsapp onde as famílias podem trocar figurinhas!
8- Qual é o impacto da HN na autoestima e confiança do bebê?
Aí vamos entrar num ponto muito bacana! No Manual de Orientação para o Treinamento Esfincteriano da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) juntamente com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), diz que o pediatras precisam aconselhar os pais a não se envolverem em uma “batalha” com o Desfralde pois isso prejudica o relacionamento entre pais e filhos e também a “autoimagem da criança e a aquisição natural do processo” e isso foi dito com base nos ensinamentos pediátricos e estudos internacionais referenciados no documento!
Existem também estudos que denotam que o Desfralde tardio gera o potencial “Risco de enurese noturna” (que é o famoso xixi na cama) e que a consequência disso é o aumento da “baixa auto-estima, de dificuldades sociais e de lesões físicas não acidentais”. Ou seja, ainda estamos falando apenas em duas situações, que é quando os pais travam uma verdadeira batalha dentro de casa quando o assunto é Desfralde e também no caso do xixi na cama, esses dois exemplos estão levando em consideração estudos bem específicos, sobre esses dois temas em si!
Mas, se formos levar em consideração todos os fatores de ordem emocional e psicológica, de curto, médio e longo prazo a respeito dos resultados possíveis com a relação desenvolvida pela criança e suas eliminações, poderemos ter conclusões ainda mais específicas e assustadoras!
Nos meus dois últimos livros, “O Desfralde Guiado pelo Bebê” e “Os Segredos do Xixi Diurno e Noturno” eu disponibilizei muitos estudos internacionais e todas as recomendações da SBP com a SBU sobre Desfralde com o objetivo de orientar os pais e profissionais que trabalham com bebês e crianças a compreenderem a importância desse tema e como desenvolver uma relação harmoniosa e leve para todos os envolvidos!
9- Como posso lidar com a pressão social ou familiar para usar fraldas?
Bom, primeiro nós vamos pensar as fraldas são um advento da modernidade e que elas são nossas aliadas! Está tudo bem usá-las, inclusive recomendo fortemente que elas continuem sendo usadas inclusive durante o processo de Desfralde!!
A questão é sobre fazermos um uso consciente, reduzido e assertivo! Não podemos mais silenciar nossos próprios filhos, colocando-lhes um tampão e fingindo que nada está acontecendo ali! Porque está e o xixi e o cocô mexem com todo o sistema nervoso central do serviço humano! Vamos olhar para as fraldas com responsabilidade e usá-las como mecanismo de proteção e não de silenciamento !
Segundamente vamos pensar sobre a nossa família de origem e a família que nós originamos, ok? Quem é a “família” que está pressionando, a nossa de origem ou a que nós originamos? Quem decide o quê, como e onde? Isso é uma questão bem particular, não é? A verdade é que “sociedade” e a “família” sempre estarão pressionando para algum lado! E me parece que esse lado geralmente será o oposto do que escolhemos! (risos).
Se você usar fraldas por muito tempo estará errada, se retirá-las cedo, errada também! Se você consultar um profissional, será considerada exagerada e se fizer por conta própria será julgada como irresponsável! Mais ou menos como aquela dinâmica sobre trabalhar fora e deixar os filhos com estranhos ou não trabalhar para cuidar dos filhos, sabe como é?
O mundo terá sempre uma opinião contrária às nossas escolhas! “CULPADA” é o que diz no carimbo colocado na testa das mães! Porque será que os homens não estão ouvindo o que é certo ou errado sobre a criação dos filhos hein? Enfim! Há sempre uma dinâmica tendente a inviabilizar ou descapacitar a mãe! Acredito que nessa questão cabe a mesma resposta da primeira pergunta, pois não precisamos lidar! Simples assim! Nossos filhos, nossas regras! Nós geramos, nós sabemos o que estamos fazendo! Se não soubermos, buscaremos saber, é isso que as mães fazem! Sorrimos, agradecemos a opinião e seguimos! Porque as madrugadas são nossas, as preocupações são nossas, as atribulações, as abdicações, as privações, as mudanças corporais, o desgaste físico e emocional, ah e quantas “brusinhas” deixamos de comprar pra pagar aquela fralda mais cara que é a única que não dá alergia! Isso só nós que sabemos!
Por isso a melhor dica é:
“-Mainhas, vamos estudar mais e mais, porque somente com informações de qualidade poderemos fazer escolhas conscientes e sigamos nossa intuição, nós sabemos, nós podemos! Conduzir nossos filhos na vida, é um processo que está arraigado em nosso DNA, temos o dom de prever quando nossa cria quer comer,dormir ou eliminar, precisamos ouvir as sutilezas desses corpinhos tão lindos que saíram de dentro de nós! Esqueçamos os outros! É nós e nossas crias, CRIATURAS e CRIADORAS!”
Neste link você pode verificar nossa matéria completa com mais informações sobre a Higiene Natural
Entrevistada
Fernanda Paz é especialista em Neuropsicologia, em Saúde Pública e em Saúde da Família, é a mãe da Higiene Natural ou Comunicação de Eliminação e percussora na propagação do método na América Latina. Palestrante, escritora e entusiasta com 10 anos de experiência.

Escrito por
Flávia Oliveira
Jornalista e Relações Públicas, formada em Mediadora de Conflitos, pelo Instituto Federal de Brasília, através da Tertúlia Literária Dialógica. Mãe de dois: Mia e Andrea, vivendo em Malta e sempre com uma passagem para o próximo destino a ser descoberto.